História de um casal

Capítulo 18

MÔNICA NÃO ACEITOU A CARONA que Jorge lhe propôs e fez o caminho tradicional para o trabalho: caminhada, metrô, caminhada. Entrou no escritório com seu ar gracioso. As pessoas perceberam que a nuvem negra que estava ao seu redor enfim começava a se dissipar. Sua alma estava leve, sabia que já chorara tudo o que havia para ser chorado. Embora ainda sofresse, tinha convicção que havia tomado a decisão certa: Jorge era – a partir daquela manhã – uma página virada em sua vida. Não era uma decisão que trazia conforto, mas sentia um certo alívio que indicava o caminho certo.

Trabalhou. Ou ao menos tentou. Fez o máximo de esforço para não pensar na mensagem do André. Fez o máximo de esforço para não pensar como estaria na foto. A foto tirada pelo André. Não por qualquer um, mas pelo André. Seu novo amigo, o cara que a entendia...

Aquela sensação de borboletas no estômago surgia cada vez que pensava sobre o encontro no parque. Mônica não queria acreditar que estava se apaixonando – mesmo que platonicamente – porque isso a fazia se sentir culpada. Depois de tanto tempo em um relacionamento com o Jorge, seria possível se desligar assim, com tanta facilidade? O que as pessoas pensariam quando soubessem e qual era a possibilidade de o André a querer?

Os pensamentos incertos ficaram suspensos, girando no ar da sala da revisora. Quando faltavam 10 minutos para o meio-dia, ela parou. Precisava se arrumar. Foi ao banheiro, lavou o rosto e fez uma maquiagem básica. Olhava-se no espelho, enquanto tentava se reconhecer. A vida havia lhe dado um grande golpe, todavia estava se recuperando – e a uma velocidade que não esperava. Sorriu. Depois de dias tão turbulentos, era a primeira vez que se sentia bonita de fato. Gostou do que viu e, sobretudo, do que sentiu. Era louco? Era. Mas quem nunca teve uma paixonite, que atire a primeira pedra.

Quando o relógio marcou meio-dia em ponto, a secretária anunciou a chegada de André. O momento esperado durante a manhã toda havia chegado.

JORGE SAIU DA CASA DE MÔNICA ANESTESIADO. Estivera tão perto e ao mesmo tempo tão longe dela. Seus sentimentos eram mistos. O amor que acreditava sentir por Mônica se embaralhava com o ódio que nutria pelo domínio que Janaína exercia em sua alma. Todavia, o que mais o intrigava não era nem seu amor, nem seu ódio; mas sim, sua curiosidade. Sabia que havia algo estranho com Mônica. Sentia que seu lugar no coração da moça estava sendo ocupado paulatinamente por outrem. Não gostava de se sentir assim, não gostava do sabor amargo do ciúme. Por um momento, pensou em deixar o carro no meio da rua e seguir a ex-namorada. Soaria irracional?! Talvez. Mas o coração não age dessas formas?! Devo estar enlouquecendo. Isto o torturava, uma vez que o administrador sempre fora racional ao extremo. Era frio, calculista. Nada passava por seus nervos de aço... E agora, bem, agora ele agia como um louco apaixonado por uma mulher e embriagado por outra. Estava dividido por complexas emoções que não se explicam com palavras, que apenas se sentia.

Estava perdido em seus pensamentos; quase seguindo o seu coração desenfreado e indo atrás de Mônica, quando seu celular tocou. Era a sua secretária. Jorge estava atrasado para a reunião com a diretoria da empresa. Reunião importantíssima, que ele mesmo marcara. Como pude me esquecer? Respondeu à subordinada com um "avise que estou indo" e acelerou o carro o máximo que as leis de trânsito permitiam.

Meia hora depois, Jorge entrou correndo no prédio e abriu a porta da sala de reuniões abruptamente. Todos olharam para ele, que tinha uma aparência péssima: seu cabelo estava despenteado; sua roupa, amarrotada. Não trajava terno, apenas uma calça jeans e uma camisa parcialmente abotoada. Os vestígios da noitada anterior eram claros e evidente. O problema é que todos pensavam que a noite havia sido boa. Coisa que não aconteceu.