Capítulo 5

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ELA ENTROU NO ESCRITÓRIO e, ao ver todas as pessoas felizes, sentiu-se entediada. Passou pela secretária, pediu que não a incomodassem. Telefonemas?! Não, apenas em último caso. Queria se afogar na revisão de seus textos. Queria esquecer por um momento de todos os problemas.

Já em sua sala, abriu as cortinas. O sol invadiu o ambiente. Fechou os olhos e deixou que seus raios a atingissem por alguns instantes. Abriu e olhou em volta. Viu o sofá no canto da parede, a mesa repleta de papéis empilhados, seu computador e um porta-retratos. Seu olhar se deteve ali, na foto que mostrava eles dois sorrindo, felizes. Aqueles sorrisos, em ambos os lábios, lhe doíam a alma e o coração. Seus olhos ficaram marejados, mas não queria chorar ali. Então, pegou o objeto que mostrava a comemoração do primeiro aniversário, dos três anos de namoro, e guardou-o na gaveta. Não queria passar o dia todo olhando para aquela imagem.

Sempre que estava infeliz, se comportava em extremos: ou ficava largada na cama inativa, ou se jogava no trabalho, numa tentativa de mudar o foco dos pensamentos. Como estava longe de casa, optou por ter um dia workaholic: ligou o computador, guardou os papéis desnecessários que estavam sobre a mesa e passou a manhã toda imersa revisando uma tradução interminável. Ninguém ousou incomodá-la, todos sabiam que quando ela aparecia com cara fechada era melhor deixá-la em seu canto, quietinha.

Permaneceu ali, ilhada em meio aos textos, por boa parte do dia. Já eram quase três da tarde, quando resolveu sair da bolha e ir comer algo. Estava exausta e faminta, entretanto sentia-se contente por ter adiantado boa parte da revisão. Optou por terminar o restante em casa. Saiu de sua sala, passou por todos silenciosamente, entrou no elevador e desceu até o térreo.


ELE ENTROU NO ESCRITÓRIO APRESSADO. Ligou o computador. Fez uma pesquisa na internet. Depois se concentrou no trabalho: tinha que terminar a planilha de prestação de contas da empresa. Horas mais tarde, estava muito concentrado, quando o celular tocou.

– Alô?

Silêncio...

– Alô???

– Oi, querido!

– Quem é?!

– Sou eu, a mulher que mudou a sua vida.

Era ela, a mulher que fez com que ele perdesse o seu amor. A misteriosa que o seduzira depois dos whiskys a mais. Sentiu ódio. Sentiu nojo de si mesmo.

– Querido, você está aí?! – Ela continuava na linha. Ele respirou fundo e disparou:

– Escuta, estou ocupado e não quero que você me ligue mais.

– Mas...

– Esqueça que eu existo, OK?!

Desligou o telefone e respirou fundo de novo. Sua cabeça latejava. Terminou a planilha, mandou mais alguns e-mails e saiu.

História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora