ELE SAIU, E ELA SE SENTIU PERDIDA. Olhou para frente, viu aquele jantar preparado e sua primeira atitude foi apagar as velas... Parecia que um trator havia passado sobre ela. Estava pior do que antes.
Foi até a cozinha, pegou uma caixa de chocolates. Correu até o quarto, desligou o laptop. Comeu, chorou e dormiu. Durante a noite, acordou e chorou mais. O ciclo pesadelo-choro-rolar-na-cama-pesadelo seguiu madrugada a dentro. Sentia-se a pior das espécies. Não tinha mais forças. Não sabia mais o que fazer. Tinha vontade de sumir do mundo por um bom tempo. Dormiu novamente.
Acordou bem cedo, naquela manhã de sábado, com o sol querendo entrar pela janela. Ficou na cama por um longo momento. Pensou que talvez tivesse sido injusta com ele, afinal, ele apenas atendeu ao telefone. Até aí, nada demais. Tomou um banho. Ligou o laptop sobre a cama. Tentou trabalhar, contudo a ideia de que fora injusta martelava a sua cabeça. Então, quando já passava das 9 horas da manhã, resolveu fazer aquilo que julgava ser o certo: parou o trabalho, esticou-se até o outro criado-mudo, abriu um tímido sorriso, pegou o telefone e discou o número dele...
ELE SAIU DA CASA DELA FURIOSO. Estava irritado, estressado, chateado, frustrado. Muitas coisas passavam por sua cabeça. Os sentimentos se misturavam. Nunca havia sentido isso antes, então não sabia lidar quanto mais como descrever com palavras. Entrou no carro xingando Deus e todo mundo. Não sabia o que fazer e como fazer.
Deu partida e saiu da rua da casa dela. A noite estava alta, ele não queria voltar para casa. Não estava com vontade de entrar naquele seu apartamento frio e solitário. Dirigiu um bom tempo sem rumo. A princípio, em alta velocidade; depois foi diminuindo, diminuindo e diminuindo até que se viu ali, em frente ao bar de dias atrás. Parou o veículo e entrou na casa noturna. No lugar imperava a música alta. As pessoas dançavam animadas. Ele foi até o balcão e pediu um whisky. E depois outro e outro... Estava ali, perdido em seus pensamentos. Estava observando o gelo derreter dentro do copo e nem percebeu quando alguém se aproximou. Apenas sentiu um braço feminino abraçando-o por trás, ao redor do seu pescoço, aquele doce perfume de mulher, e uma voz sensual dizendo em seu ouvido:
– Sabia que você viria, que não me deixaria aqui sozinha...
Era a sedutora. A mulher que fizera com que ele caísse em tentação. Ele, diante de sua situação, não disse nada. Ela, então, foi beijando-lhe as orelhas, o pescoço, até que chegou em sua boca. Ele não ofereceu qualquer resistência. Seu corpo desejava o toque lânguido, desejava o beijo ardente. Sentiu sua boca sendo explorada por aquela língua voraz e retribuiu da maneira mais voluptuosa que podia. Depois, sem mais delongas, foram para um lugar mais reservado.
Ele se entregou às suas carícias. Sem ao menos perceberem, sua boca explorava aquele corpo sagaz que tão rapidamente perdera a roupa. Percorria aqueles seios fartos como se aquela noite fosse a última de sua vida. E sabia que o jogo de sedução não terminaria ali, pois a mulher misteriosa que nem havia lhe dito o nome estava ali, rebolando embaixo do seu corpo, gritando o quando desejava sentir o membro dele dentro de si.
(...)
Na manhã seguinte, estavam meio sonolentos. Ela o beijava, e ele a acariciava. A noite, que para ele tinha começado ruim, acabara agitadamente bem. Aquela sedutora lhe servira como válvula de escape para os problemas que ela mesma lhe havia causado. Ele, apesar do confuso, resolvera que deixaria a vida seguir o seu rumo. Ainda pensava naquela, que então era sua ex-namorada, mas ao mesmo tempo em que sentia sua falta, lembrava-se dela gritando e chorando e ameaçando chamar a polícia, por algo que ele não julgava ter culpa. Se a sua ex não conseguia reconhecer o seu esforço, será que ela o merecia? Novamente sentiu raiva. Foi então que olhou para aquele furação sexual que estava ao seu lado e sorriu. Não poderia deixar de se sentir satisfeito com o que a vida lhe reservava. Levantou-se orgulhoso da sua performance na noite anterior e foi ao banheiro. De lá, ouviu o seu celular tocar e a moça atendê-lo.
ELA ESTICOU-SE ATÉ O CRIADO-MUDO, pegou o telefone e discou o número dele. O telefone chamou algumas vezes, fato que a deixou com o coração disparado. Sentia medo que ele não aceitasse seu pedido de desculpas. Quando ela pensou que ele não fosse mais atender e já estava desligando, o telefone parou de chamar, e ela pode ouvir uma voz feminina do outro lado da linha dizendo:
– Alô?!
Ela se viu reação. Não sabia o que dizer ou fazer. Sentiu seu corpo amolecer. Ainda continuava ouvindo aquela mulher falando "Alô" do outro lado da linha. Desligou.
Como sou idiota, ela pensava, ele lá no bem bom e eu aqui sofrendo! Droga!. Era como se alguém tivesse empurrando-a de um precipício e ela continuasse caindo e caindo sem nunca atingir o chão. Como era difícil viver assim! Como era difícil amar um cafajeste. Não teve forças para fazer as coisas que tinha que fazer. Passou o dia todo no quarto. Na hora do almoço, se forçou a ir até a cozinha comer a torta que havia comprado no dia anterior. Ao passar pela sala e ver os resquícios do jantar, enfureceu. Despejou o vinho na pia e jogou a garrafa fora. O mesmo fez com a comida, com as flores e com as velas. Queria apagar aquele dia de sua mente. Após o almoço solitário, foi até a lavanderia da casa, pegou uma caixa e voltou para seu quarto. Lá chegando, pegou todos os presentes que ele havia lhe dado e todos os objetos que lhe faziam lembrar dele, colocou dentro da caixa e guardou-a dentro de um armário da área de serviço.
CINCO MINUTOS DEPOIS DE TER ENTRADO NO BANHEIRO, ele saiu e perguntou a sua acompanhante quem era. Ela, dissimulada, disse que era engano. Vestiram-se. Ele se despediu da mulher sedutora, prometendo vê-la em breve. Voltou ao seu apartamento. Chegando lá ligou o rádio, tomou um banho e comeu um pedaço de pizza que encontrou perdido na geladeira. Dormiu. Acordou com o telefone tocando. Seu amigo lhe chamava para sair. Ele recusou o convite. Na noite anterior havia misturado vinho e whisky, portanto não estava muito bem.

VOCÊ ESTÁ LENDO
História de um casal
Teen FictionO que acontece quando tudo acaba? Lidar com a dor do término é uma tarefa árdua. Em "História de um casal", as dúvidas, os medos e, sobretudo, os porquês que permeiam o fim de um relacionamento são retratados de maneira intensa até que a vida ganhe...