Capítulo 10

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O FOTÓGRAFO COLOCOU SUA CÂMERA SOBRE A GRAMA e observou aquela pequena mulher. Ele sabia que ela tinha uma força interior grande que era ofuscada por algo a angustiava profundamente e – sem saber ao certo o porquê –, queria que todo aquele sofrimento que ela sentia acabasse.

Ela era como um anjo barroco: ao mesmo tempo em que transmitia a pureza e a paz celestial, via-se que era o resultado de uma miscelânea de mistério, volúpia e dor. Desejou conhece-los a fundo: tanto o mistério e quanto a volúpia, ao mesmo tempo em que pensava em como poderia acabar (ou ao menos diminuir) a dor. Abraçou-a. Era inevitável fazê-lo. Não podia deixá-la assim, desamparada. Então fez aquilo que estava ao seu alcance, passou os seus braços ao redor dela, da maneira mais acolhedora que conseguiu. Ela chorava. Não havia como se conter. Nem ele gostaria que ela o fizesse. Precisava chorar e desabafar com alguém.

Ela não aguentava mais viver assim. Chorou. Chorou silenciosamente e, em meio aos soluços, sentiu os braços daquele desconhecido ao seu redor. Queria parar de verter tantas lágrimas; mas, ao ser abraçada, sentiu como se ele lhe dissesse: "tudo bem, pode colocar o que te magoa para fora". E assim ela o fez. Deixou que a emoção saísse de seu corpo e que, aos poucos, aquela angústia se substituísse por uma paz vazia, dolorosa e conformada, daquelas que só o tempo há de curar. Quando as lágrimas cessaram, ela observou o lago mais uma vez.

– Desculpe... – disse ainda olhando para o lago.

– Tudo bem... – disse o fotógrafo que também observava a paisagem sem saber ao certo o que fazer.

– Você deve estar me achando uma doida... – retrucou ela, ainda envolvida pelos braços aquele desconhecido.

Olhou para o rosto dele. Ele tinha uma beleza exótica, que a fazia lembrar-se de alguém que ela não sabia exatamente quem era. Ele riu de um modo simpático:

– Pelo o contrário. Você parece bem lúcida... – seu sorriso tornou-se maior, enquanto ele prosseguia falando carinhosamente – só parece alguém que sofreu muito.

– Digamos que os últimos dias não têm sido muito fáceis...

– Calma, tudo vai passar... Você vai ver...

E, desta vez, foi ela quem sorriu.

História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora