Capítulo 14

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MÔNICA ESTAVA ADMIRANDO AS FOTOS QUE ALI ESTAVAM EXPOSTAS, quando André saiu sorrateiramente do quarto escuro e ficou a observar a garota. Ela mantinha um olhar de quem analisava cada detalhe da fotografia vista e, após um certo tempo, sorria satisfeita para passar à próxima imagem. Era como se ela estivesse em um transe, como se cada fotografia a levasse para um lugar só dela, um lugar onde reinassem sentimentos bons, onde a reflexão a conduzisse para o autoconhecimento. Alguns minutos se passaram, quando acabou se assustando com seu observador, que a contemplava.

– Desculpe, não queria te assustar, mas é que fazia muito tempo que eu não via alguém analisando as minhas imagens...

– Sei, sei... se fazendo de modesto agora, é? Senhor André?!

Eles riram. A gargalhada veio como se eles fossem amigos-confidentes. Não dava nem para acreditar que eles se conheciam há menos de 24 horas.

– Vem cá. Quero te mostrar estas fotos, elas vão para a exposição. Como foram feitas com máquina de rolo, as deixei secando antes de sair e, como imaginava, já estão prontas.

Ficaram ali. À medida que seguiam de fofo em foto, de detalhe em detalhe, surgiam assuntos variados. Música, cinema, comida preferida, time de futebol... Era incrível como se completavam. Conversaram por horas a fio e, quando Mônica percebeu, precisava ir. André sugeriu levá-la de carro, mas ela recusou pois queria andar um pouco, pensar em tudo o que aconteceu nos últimos dias em sua vida. Principalmente, absorver todo aquele clima que fora experimentado nas últimas horas.


JORGE ESTAVA FURIOSO E FRUSTRADO. Como a vida de alguém muda tão facilmente?! Um telefonema... Pois é, um telefonema teve o poder de mudar tudo. Discou o número de Janaína, estava raivoso. Precisava tirar esta história a limpo. Já não queria mais saber se a moça estava trabalhando ou não. A única coisa que queria saber era o que Mônica havia lhe falado.

Por quê?!, pensava enquanto ligava para a jornalista. Ela não atendeu. Ele, já em casa, resolveu ir tomar um banho gelado. Quem sabe assim não se acalmaria?! Enquanto a ducha despejava água sobre aquele homem de futuro incerto, ele refletia. Chegara a hora de tomar uma decisão, de uma vez por todas. Se ele quisesse voltar com a Mônica (e ele queria!), teria que tomar uma posição. Grandes feitos são justamente feitos de atitudes.

Saiu do banheiro e abriu uma garrafa de vinho, precisava da luz de Baco para poder pensar em como agir. Sentiu o gosto da uva descer por sua garganta e a baixa temperatura chegar ao seu estômago. Janaína destruiu a minha vida, Jorge refletia enquanto pegava as chaves do carro. Ele, mais uma vez, viu-se desesperado. Queria poder explicar tudo para a Mônica. Sabia que ela não entenderia, mas não podia deixar de tentar. Pegou o carro e partiu em direção à casa dela.

As ruas da cidade estavam calmas. Por ser uma noite de domingo, podia-se ver através das janelas, que as famílias estavam reunidas assistindo aos programas de TV. Uma garoa fina molhava tudo o que via pela frente. A temperatura diminuíra. Fazia um friozinho inesperado para o verão, que refrescava o dia quente de outrora. Jorge não conseguia organizar seus pensamentos. Sabia que teria que ser muito convincente a ponto de conseguir o perdão de Mônica. Mas como fazê-lo? Pois bem, ele também não sabia quando estacionou seu carro em frente ao sobrado da revisora.

História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora