Capítulo 23

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ANDRÉ CHEGOU NA HORA MARCADA. Cumprimentaram-se e caminharam até o carro. Ele, por sua vez, abriu a porta para a sua musa inspiradora, gesto que para ela soou intensamente encantador.

O caminho até a galeria foi silencioso. Os dois estavam ansiosos. Mas, mesmo assim, aquele silêncio não era tenso, apenas respeitoso. Ambos sorriam. Após estacionar o carro, André respirou fundo, e Mônica lhe garantiu que tudo daria certo.

Já era noite e o local estava lotado. Todos esperavam pelo artista. Ele desceu do carro e abriu a porta para Mônica. Ela desceu do veículo e olhou no fundo dos olhos do fotógrafo. Aquele momento era mágico e, quando eles perceberam, já estavam muito próximos um do outro: ele a segurava pela cintura com uma das mãos, enquanto a outra acariciava o rosto dela. Ela, por sua vez, mantinha as mãos nele. Era impossível se conter, porque o desejo era maior. Os lábios do casal se tocaram em beijo doce, intenso e amoroso, como se estivessem sorvendo o sabor da felicidade um do outro.

Eles sabiam o quanto cada um era importante na vida do outro. André, por ter aparecido na vida de Mônica no momento em que ela mais precisava. Mônica, por ter tirado André da solidão. Aquele beijo serviu apenas como confirmação de algo que ambos queriam desde o primeiro dia, lá no parque: afirmou a necessidade que eles tinham de estarem juntos. André, então, pegou carinhosamente na mão de Mônica, e eles subiram para o terceiro andar da Casa de Cultura.


JORGE CAMINHOU AO LONGO DOS PRIMEIROS ANDARES DA GALERIA de artes, até que chegou ao terceiro piso. O nome da mostra de fotos realmente mostrava algo que Jorge queria entender. O diálogo entre o sentimento e a cidade era um tema que estava muito presente na vida do administrador uma vez que seu psicológico estava completamente turbulento e ele se acalmava justamente percorrendo os caminhos urbanos.

Ele começou a andar e observar o espaço. As imagens em preto e branco davam mais intensidade às expressões captadas pelas lentes do mais novo talento da fotografia: André Andrade. O lugar estava cheio, e todos estavam ansiosos. Público e imprensa queriam saber como foi o processo de criação da coletânea e como o conceito da exposição fora escolhido. Contudo, para Jorge isso não era importante. Ele estava ali apenas para reviver aquilo que ele sentia quando tinha Mônica ao seu lado, por isso imaginava como seria se ela estivesse consigo, visualizava em sua mente cada comentário, cada movimento do rosto dela ao analisar a exposição.

(...)

Um pequeno grupo de pessoas estava impressionado com uma fotografia em especial. Isso chamou a atenção de Jorge, que resolveu se juntar àquelas pessoas. Ao se aproximar da imagem, ele viu uma mulher sentada aos pés de uma árvore. A imagem era intensa, dolorosa. Ela, a moça retratada, chorava. Ela... Ela era a Mônica! Jorge não acreditava naquilo em que seus olhos viam: Mônica chorando. Mônica na exposição. Mônica... Linda! Aquilo era surreal, incrível! E, de alguma maneira, ele sentia como se aquela foto fosse a responsável por ele estar ali. Ela era a razão!

Ficou parado por um tempo. Sentiu vontade de passar as mãos na fotografia, de abraçá-la. Era como se ele estivesse hipnotizado por aquela cena. Ficou ali, olhando aquela foto e imaginando em que circunstancia ela fora realizada. Como André encontrara Mônica?! Por que ela chorava?!

Estava perdido em seus pensamentos quando uma voz lhe chamou atenção:

– Amor, você vai querer ficar onde? O fotógrafo já deve estar chegando...

– Pensei em ficar ali... De lá eu tenho a visão da porta e a luz ali está boa. Você já tem as perguntas?!

Jorge olhou para a direção daquela voz. Era Janaína e ela estava abraçada a um fotógrafo. Eles continuaram a conversar:

– Já sim. Me preparei para esta entrevista desde o começo da semana...

– Você é fantástica!

Jorge estava estupefato. Ele não acreditava que a mulher que o separou da Mônica estava ali, com outro homem. Viu quando os dois se beijaram e se dirigiram ao local apontado pelo fotógrafo. Sentiu vontade de ir até lá e discutir com ela, bater nele, de fazer algo. Todavia, não teve força. Aquela cena fez com que o chão se desmanchasse embaixo de seus pés. Tudo ficou escuro, precisou respirar fundo para se recompor. Percebeu que estava possesso. Seu coração retumbava, seu sangue fervia em suas veias. Resolveu se aproximar. Queria satisfações e achava que merecia satisfações. Entretanto, ao mesmo tempo em que deu o primeiro passo, viu a agitação das pessoas na galeria de artes: André Andrade havia acabado de chegar.

História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora