Capítulo 9

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ELA ACORDOU NAQUELA MANHÃ DE DOMINGO triste, porém conformada. Decidiu que não ficaria se martirizando, por mais difícil que fosse. Nessas horas, sentia falta das amigas de infância, que moravam em outra cidade. Estava solitária e sentiu que precisava respirar um pouco de ar puro. Levantou-se, vestiu um moletom e resolveu ir andar no parque. Tomou um café rápido e foi.

Chegando lá, respirou fundo, pois logo de cara deparou-se com casais de namorados caminhando de mãos dadas. Resolveu correr. Correu e correu até cansar. Após uma hora e meia, comprou uma garrafa de água, foi até uma parte mais isolada e sentou-se na grama encostada a uma árvore. Por mais que tentasse, não conseguia para de pensar em todo o ocorrido. Quando se deu por si, estava chorando silenciosamente. E em meio a este silêncio e às lágrimas, ela ouviu o barulho de um flash. Ao levantar a cabeça, viu uma máquina fotografando-a e um rapaz vindo em sua direção.

– Olá, desculpe te fotografar assim, sem dizer nada – disse o fotógrafo – mas é que você transmitia um sentimento tão profundo, que não resisti.

– Eu?! – disse admirada. – Sentimento profundo? – Ela esboçou um sorriso.

– Sim, você... Posso?! – Disse ele, já se sentando ao seu lado.

– Um hum. – Ela assentiu com a cabeça.

Ficaram ali observando o lago de águas calmas. Crianças corriam do outro lado de sua margem. A brisa fresca deixava a temperatura agradável, enquanto o sol brilhava esquentando a todos. Por um momento, toda aquela angústia que apertava o peito da pobre moça se dissipou. O ambiente e aquele homem desconhecido lhe trouxeram uma paz que há dias ela não sentia. Tudo estava tão bom, tão mágico...

– Posso te fazer uma pergunta? Você não precisa responder se não quiser...

– Pode.

– Por que chorava?

Ela olhou dentro dos olhos dele. Algo a prendia naquele olhar. Os olhos, de um negro intenso, eram sérios, porém com um ar de menino. Olharam-se fixamente durante uns três segundos – que pareceram uma pequena eternidade –, e depois ela abaixou a cabeça. Ele completou:

– Desculpa, não foi a minha intenção te chatear. Você nem me conhece, não precisa responder, eu entendo...

Aquela pergunta causou-lhe uma estranheza: se por um lado tudo veio à tona e ela sentiu o coração lhe doer novamente; por outro, ela se sentia segura para falar sobre isso com aquele desconhecido.

– Não, tudo bem. Estou triste porque meu namorado me trocou por outra e...

Quando ela deu por si, percebeu que estava sentada na grama de um parque, chorando ao lado de um fotógrafo que nunca vira antes na vida.


APÓS RECUSAR O CONVITE DO AMIGO, ele acabou adormecendo no sofá. Durante um sono profundo, sonhara algo estranho: tudo estava escuro, ela corria para uma luz, e ele tentava alcançá-la, em vão. Ela, então, sumira na luminosidade, ao mesmo tempo em que ele tropeçava e caía já sem fôlego.

Quando ele sentira que iria morrer, acordou com alguém que batia na porta do seu apartamento. Foi ver quem era e, ao olhar pelo olho mágico, viu que aquela mulher sedutora estava do outro lado da porta, esguia e deslumbrante.

História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora