Capítulo XVI: far away from him

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— Que dia é hoje mesmo? – ouvi Evans questionar a mim, enquanto acomodava-se em uma poltrona de estofado vermelho. – Estou tão cansada que simplesmente quero que essas semanas restantes passem voando!

A garota de cabelos flamejantes cruzou as pernas e eu lhe lancei um olhar divertido, como se duvidasse que meus ouvidos realmente decodificaram certo àquelas palavras que a mesma dissera.

— Lily Evans sabe-tudo cansada de estudar? – brinquei. – Achei que fosse a coisa mais prazerosa que você gostasse de fazer.

— E é! – rebateu. – Mas depois de prestar os NIEMs, estou com um pouco de ressentimento à esses livros.

Ri baixo, direcionando meu olhar para o buraco de entrada da torre de gryffindor, por onde vi entrar uma garota de chamativos cabelos ruivos e olhos verdes claros dissimulados: Regina Gainsborough. Atrás dela vinha Arthur. Sim, o mesmo que namorou a Potter mirim alguns meses atrás. Não gostava nem um pouquinho desses dois andando juntos, porque o resultado dessa união era muito imprevisível.

— Não estou gostando da proximidade desses dois. – Lily comentou, aos sussurros. – Tenho arrepios horríveis na coluna quando os vejo assim, coladinhos.

— É... Não vejo nada muito produtivo advindo dessa amizade. – respondi, vagamente. – Mas vamos deixar isso para lá, provavelmente só estamos fantasiando.

— Espero. – mordeu o lábio.

Descendo as escadas do dormitório feminino, Lethícia Potter não poderia estar mais animada. Ela trazia consigo uma pilha de papéis apertados nos braços curtos e conversava alto com a loura que a acompanhava. A garota tinha sido nomeada a responsável por um discurso de despedida para os graduandos e estava pondo todo o seu ímpeto naquilo. Todos os dias eu tinha que escutar por exatos quarenta e cinco minutos ela descrever as ideias que tivera, até que eu a calava com um beijo. E tinha de ser um muito sutil para não parecer que eu estava entediado.

Ela sorriu, nos avistando, e caminhou até nós.

— Joguem para lá esse ar de derrotados e digam para mim – recebeu e cutucão nas costelas da outra. - e Marlene, se até agora estamos indo bem. E sim, ela está me ajudando com alguns detalhes.

— Finalmente essa cretina está me dando algum crédito! – rolou os olhos e eu ri.

— Olhe como fala comigo! – mirou-a com um olhar cético. – Você está apenas ajudando, eu estou produzindo.

— Chega. – a ruiva amiga encerrou. – Parem de agir como malucas! É apenas um discurso.

— É apenas um DISCURSO? – permaneci calado enquanto tanto a morena quanto a loura berravam em sincronia.

Gargalhei um pouco mais da situação, o que fez as três olharem para mim com uma indignação enorme. Ergui os braços e deixei os problemas para que as doidas resolvessem. Parti em busca de encontrar os meninos e finalmente conversar sobre algo puramente interessante.

~~

Mordi meu lábio, sentindo algo estranho me abater enquanto tentava organizar as falas em uma única. Precisava fazer uma despedida fenomenal, que deixaria todos em prantos! Porém nada me ocorria para dar seguimento ao primeiro parágrafo do texto. Se não cuidasse, teria de improvisar. E sinceramente não gostaria de ter de fazer isso.

Subitamente, enquanto me debruçava sobre outro livro, senti uma sensação terrível queimar minha entranhas e corri para o banheiro. Não é preciso comentar que o vômito ainda era uma das coisas mais nojentas que eu já tivera a oportunidade de experimentar. Precisava ir urgentemente na enfermaria ou ficaria louca com essas náuseas todos os dias.

Oh, no.

Não, não, não, não e não!

Abri a gaveta de minha mesinha de cabeceira em busca de um diário a parte, onde eu calculava os dias do meu período. Virei o livro, o abrindo do final e checando o último dia que havia menstruado, apenas para constatar que estava umas três semanas atrasada. Merda, isso não podia estar acontecendo agora.

Eu precisava de uma resposta concreta, algo que me desse a certeza de que aquilo era realmente... verdade. Quero dizer, era normal aquele tipo de coisa acontecer com uma garota. Na verdade eu ficava até feliz quando isso acontecia, pois tinha alguns dias de folga da sensação enfastiante. Porém, agora... Com o auxílio desses vômitos, simplesmente não conseguia afastar a ideia de minha cabeça.

Precisava conversar com o Sirius urgentemente, ele saberia como me acalmar uma hora dessas. Se ele mesmo não ficasse pior do que eu estou agora. Sinceramente esperava que não.

Desci as escadas aos tropeços, esbarrando em uns poucos alunos do primeiro ano. Tive a impressão de ter esbarrado em Lily igualmente, porém seus gritos ficaram bem atrás de mim. Não era ela com quem eu gostaria de conversar. Pelo menos não nesse momento.

Busquei incansavelmente por aquele maldito Black em cada pequeno orifício de Hogwarts, no entanto o mesmo parecia ter desaparecido da face da terra. Avistei James recostado contra uma parede a conversar com Remus, ambos pareciam um pouco preocupados.

— Jim, você viu o Sirius?

— Hum, sim. – ele falou com uma cara duvidosa, como se não soubesse como me contar algo. – O vi conversando com Regina, um pouco ali a frente.

— Sabe sobre o quê?

— Não, suponho que deve ser algo da escola.

Senti que o meu irmão não fora nem um pouco sincero em suas palavras. No mínimo ele parecia duvidoso quanto ao que me falar, como se não tivesse certeza do que dizer ou se tivesse medo de minha reação. Abanei com a cabeça e agradeci, continuando o meu caminho em linha reta.

A medida que me aproximava da sala de Feitiços, pude ouvir vozes conversando.

— Eu sei que você quer isso. – ouvi uma risadinha. – Não adianta negar.

— Sinceramente, não estou entendendo! – uma voz rouca e dolorosamente conhecida retrucou.

Os fragmentos da conversa deixaram-me confusa e hesitei se iria ou não a frente. Talvez visse algo que não queria. Desviei o meu olhar para uma enorme e majestosa janela que estava a minha frente. Pude ver o Sol fazer seu caminho tranquilo até horizonte, pintando o céu com tons alaranjados e rosas. Fiz uma pequena prece e engoli o meu medo, dando passos firmes até o lugar.

Deixei o meu pequeno diário cair no chão.

Eu tinha razão, não queria ver aquilo.

Uma das mãos dela tocava a gravata do moreno e a outra seu ombro. Ele não havia me visto ainda e o beijo entre eles parecia algo ensaiado, a não ser pelo fator de suas mãos estarem nos ombros da garota, como se a quisesse afastar e aproximar ao mesmo tempo.

Senti que meu coração se estilhaçou dentro do meu peito.

Forcei minhas pernas a correr para longe dali antes que o moreno pudesse ver as lágrimas correndo torrencialmente por meu rosto.

— Lethícia, espere!

Ainda pude ouvir seu grito distante, mas era somente o que era para mim agora: distante.

Tentação PotterWhere stories live. Discover now