Com certeza eu estava frustrado.
A razão? Bem, minha tentação escapara-me pelos dedos. Ela sabia muito bem que nós precisávamos conversar e, como eu a conhecia bem demais para saber disso, a mesma queria adiar isso ao máximo, então tudo que pude ver foi a barra do longo vestido branco fugindo do salão no qual eu me encontrava. Simplesmente soquei a parede ao lado da porta e senti a dor espalhar-se lentamente pelo meu punho.
— Merda! – exclamei, irritado.
Eu sinceramente não aguentava mais essa situação enlouquecedora. Será que nós dois não podíamos conversar e nos acertar? Era complicado demais para aquela morena assimilar? Controlei meus instintos de ir até a garota e berrar com ela tudo o que estava engasgado. Que não possuía nenhum direito de despejar suas frustrações em cima de mim e esperar que eu não retaliasse. Céus, era tão difícil acreditar que eu a amava e muito, por sinal? Tantas perguntas que eu gostaria de fazer e nenhuma resposta à vista.
Sai em busca de alguma bebida para aliviar minha tensão e, quando finalmente a encontrei, servi-me rapidamente. Sentado em um dos sofás com o estofado de camurça vermelha, observei o movimento se esvair lentamente. Até que algo chamou minha atenção. As irmãs Gainsborough estavam conversando. E, por mais que eu tentasse focar e ouvir algo do que elas falavam, não conseguia. Era como se... Não, por que diabos usariam um feitiço de percepção? Porém, a conclusão era exatamente essa.
— Aquele maldito Sirius está nos olhando... – Emilly sussurrou, e murmurou mais uma vez o feitiço de percepção, que eu não consegui distinguir. - ... Parece mais forte do que parece. Lethícia vai...
— Só que não é tão fácil assim.
— Regina... Tem que dar certo. – rolou os olhos. – O plano... Céus, ele é mesmo um curioso.
Frustrei-me por não conseguir vencer o poder do feitiço. Conseguia vê-las, sabia que estavam ali, só não me interessava por suas presenças. Era uma droga. Fechei um pouco os olhos, tentando embraçar o poder que irradiava dali e ouvir um pouco mais. Sabia que a Gainsborough mais velha estava irritada com as minhas tentativas de prestar atenção, entretanto... valia a pena prestar atenção.
Mesmo que eu fingisse não prestar atenção, a pessoa que executava o feitiço conseguia sentir se alguém o penetrasse.
— Como ela é a primeira vítima, quero muito sangue. – enfatizou a última palavra e a irmã parecia estagnada. – Agora vamos, não podemos perder mais um segundo.
Deixei meus ombros caírem, um mau pressentimento tomou conta de meu ser e percebi que precisava de ajuda. Meus olhos rapidamente captaram a presença de Remus Lupin sozinho, bebericando o que eu julgava ser uísque de fogo. Os olhos do loiro pareciam profundamente desolados, indaguei-me se algo sério havia ocorrido e se o garoto quereria falar sobre isso. Os problemas pareceram minúsculos diante da tristeza do rapaz.
— O que houve, moony? – questionei, curioso e com uma pitada de piedade. – Você não me parece bem.
— Briguei com a Dorcas. – exalou. – Aparentemente ela acha que eu não sou bom o suficiente para uma mulher como a que a mesma está se tornando.
— Como é? – pareci rude, ao perguntar. – Isso não é do feitio da Meadowes. Tem certeza de que era ela?
— E quem mais poderia ser? – riu, irônico. – Eu bebi um pouco, no entanto ainda retenho minhas faculdades mentais.
— Eu só quis dizer que... Ah, moony, ela pode estar estressada, passando por algum problema ou algo do gênero. Não enforque-a antes de saber os reais motivos. – despejei. – Desculpe. Não quis ser um filho da puta.
— Provavelmente você está certo. – suspirou e deu um gole na bebida. – E o que aconteceu com você? Brigou com a Leth de novo? Não está com uma cara melhor do que a minha.
— Odeio como eu sou óbvio. – encolhi os ombros e montei uma careta.
— Sua cara sempre fica assim quando vocês brigam. – apenas uma minuto se passou até que ele falasse novamente. – E soou muito estranho o modo que eu disse isso.
Permiti uma gargalhada escapar e meus os ombros relaxaram rapidamente.
— Não quero mais brigar, Remmy, e aquela maldita mulher não consegue entender isso. – bufei, irritado. – E faz minha vida um verdadeiro inferno.
— Deixe-a em paz, Sirius. Sinceramente, você deixa a Lethícia muito encurralada; provavelmente ela só está assustada com tudo isso. – uniu as mãos, um pouco desconcertado. - Eu provavelmente piraria! Aliás, se fosse o majestoso Black, já teria me feito quebrar o coração de alguma garota perdidamente apaixonada.
— Sinto-me plenamente um vilão agora. – ri baixo. – Você tem razão.
— Sei que sim.
— Então tenho que deixa-la ir?
— Só quero dizer que não a pressione. Vocês definitivamente têm de ficar juntos! – seu sorriso era mínimo, porém sincero. – Deixe-a vir, ok?
A oportunidade de responde-lo me foi negada no momento em que os portões abriram-se. Nada me preparou para ver a figura pálida, fantasmagórica, com as roupas embebidas num líquido cor de carmim de Lily Evans. Seu rosto parecia profundamente triste e assustado com a situação que teve de passar.
— Alguém, por favor, ajude! – chorou. – Preciso falar com Dumbledore, ou alguém responsável. Aconteceu algo grave!
Vi como ela teve de lutar com os próprios soluços para dizer aquelas mínimas palavras. Não hesitei em correr até ela. Seus olhos pareceram ainda mais devastados quando me avistou. Percebi que a ruiva tremia e as lágrimas fugiam de seus olhos com facilidade. Suas mãos agarraram meus ombros.
— Sirius, ela... Céus, quando cheguei lá. Não pude fazer nada. – mordeu os lábios.
— O que aconteceu?
— Hogwarts tem um assassino sedento por sangue e igualmente, meu Merlin, insano. – sua mão suja tocou meu braço e tive um calafrio.
Os passos seguintes aconteceram puramente no automático. Lily levou-me até o lugar e eu pude ver James enlouquecer por alguns segundos, pulando sobre a garota inanimada. Dumbledore e todos os demais professores já estavam na cena. Aquilo para mim fora pior do que todos os tipos de dor que eu já experimentara.
Sua aparência tão vulnerável me assustou.
O primeiro detalhe foi sua pele, que outrora sempre fora tão vivaz e bronzeada, agora amarelava e esvaia-se. Sangue carmesim espalhava-se rapidamente por todo chão e a vida fugia de seu corpo. Quis chorar. Mas, de qualquer forma, as lágrimas simplesmente não derramaram-se. Madame Pomfrey tentava parar o sangue e, subitamente, concluí que meu cérebro não controlava mais as minhas ações. Na realidade, eu não conseguia expressar nenhuma ação.
Um aglomerado formou-se e cochichavam sobre algo.
Foi nesse momento que notei as palavras escritas na parede com o líquido vermelho:
"THOSE WHO THE SCAR LINGER, SOON SHALL BE DRAWN TO THE LIGHT OF GLORY."
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Tentação Potter
RomanceO que aconteceria se James Potter não fosse o filho único? Lethícia Potter é a gêmea do mesmo e junto com os outros Marotos, ela apronta todas em Hogwarts. E com o sétimo e último ano chegando, muitas coisas podem acontecer, tais como sentimentos...