Capítulo 16 - Parte I

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- Boa Tarde gente!!! - falei quando entrei no Pet Shop.

- Iaí Aninha! - falou o Alan enquanto me cumprimentava com um beijinho no rosto.

- Tudo bom? Estou indo lá,? - apontei para o quintal.

Deixei minha bolsa em cima do balcão e segui pelo corredor branco até o cercado onde a Lola e os outros cachorros para adoção estavam. Com muito custo estou conseguindo mantê-la aqui. Mas é só eu tocar no assunto lá em casa que a confusão começa. De um lado está eu e minha mãe - a favor da adoção - do outro está o meu pai que não quer deixar de jeito nenhum. Mas a Lola já é quase minha, até parece que ela já entendeu qual é o plano, porque é só chegar alguém para adotar que ela vai lá para o fundo do cercado e se alguém se aproxima ela finge que vai morder. As vezes eu até fico pensando se eu não estou sendo egoísta não querendo que ela seja adotada, mas é como se ela já fosse minha e eu dela. Acho que dá para entender não é?!

Meu coração disparou,  meu sangue ferveu, senti que ia ter um 'treco' depois que cheguei no quintal. Comecei a andar de um lado para o outro e não parava de dizer comigo mesma: "como assim?!", "não pode ser", " Não Pai, porque isso aconteceu?". Senti algumas lágrimas caindo em meu rosto, eu olhava, parava, voltava,  ia de novo. Entrei no cercado, todos os cachorros começaram a subir em cima de mim, como sempre faziam quando eu entrava lá, mas eu só estava procurando uma. A Lola.

- Nathaaaaannn! Ô Nathaaan! - gritei ainda procurando.

Ele apareceu desesperado, meio ofegante e com os olhos arregalados. Atrás dele estava a Michele ainda com a bolsa debaixo dos braços, também com a aparência de preocupação.

- O que aconteceu, Ana! - falou os dois ao mesmo tempo.

- Cadê a Lola? Como vocês deixaram ela ser adotada? - falei, quase que em prantos.

- Como assim? - falou a Michele enquanto olhava de um lado para o outro  entre os cachorros.

- Ah! Era isso. - falou o Nathan sorrindo e colocando a mão no peito.

- Como assim, 'era isso'? A Lola foi adot...

- Ela não foi adotada, Ana. A dona Edna levou ela e alguns outros cachorros para vacinação.

Fiquei parada olhando para ele, ainda processando o que ele tinha acabado de falar. Só depois de um tempo pensei em voz alta só para entender o que havia acontecido.

- Então ela não foi adotada? -  respirei fundo - Que susto.

- Relaxa, Ana. - a Michele foi logo me abraçando e rindo.

- Que susto digo eu. Vim correndo pensando que algo tinha acontecido, ainda chego e vejo você quase chorando.

- Desculpa Nathan. - falei rindo.

- A gente tem que conversar com seus pais para eles adotarem essa cachorrinha logo.  Porque senão... - falou a Michele enquanto íamos em direção a recepção.

- Verdade! Vocês poderiam conversar com meu pai... - falei já puxando minha cadeira no balcão, toda animada.

- Ela estava brincando Ana. - o Nathan falou rindo e, junto a ele, a Michele.

- Ai.. ai.. Ana. Deixa eu ir lá para o meu posto. - ela falou ainda rindo e apontando para o cliente que estava chegando.

Os dois foram para a sua sala e eu segui com o meu trabalho ainda me estabilizando depois daquele susto e pensando no que eles falaram. Até que não era uma má ideia...

- Minha mãe está aí? 

Eu estava tão atenta com as fichas que estava fazendo - da ultima vez eu tinha escrito algumas coisas erradas :/ - que tomei um susto quando ele se aproximou do balcão. O susto foi maior ainda quando vi que quem falou era um garoto moreno com um moletom vermelho. Ué mas ele não estava de jaqueta jeans de manhã?

- É... é.. Ela saiu. - falei meio desconfortável e com um frio na barriga. Estranho...

- Você sabe se ela demora?

Dava para perceber que ele estava relutando para falar, não olhava para mim diretamente. Pelo seu semblante parecia que estava falando com uma desconhecida ou alguém que não tinha muita intimidade.

- Éééé...

- Lucas!!! - a Dona Edna entrou. Ufa!!! - Filho, me ajuda a trazer os cãezinhos do carro, por favor?!

- Oi mãe. - ele a cumprimentou com um beijinho na testa. Que fofo! - Encontrou mais algum?

Sim, ela resgatou mais dois filhotinhos, que pelo o que deu para entender estavam em um terreno abandonado, sem comida e sem nada. E quando ela resgata um animalzinho é uma festa só, conta cada detalhe de como os encontrou e em que estado eles estavam.

- Lola!!! - gritei quando ela entrou com a cachorrinha. -  Que susto que você me deu garota...

- Susto foi eu que leve com essa aí.. - o Nathan apareceu - Ela pensou que a Lola foi adotada. - ele explicou para os dois, que não estavam entendendo nada. - Cheguei no cercado e lá estava ela chorando... - continuou.

- Eu não estava chorando, tá?! Eu só pensei.. - comecei a explicar depois de ver que todos na recepção estavam rindo de mim.

- Nosso Pai! Esqueci de pagar o boleto. - A Dona Edna interrompeu. - Esqueci mesmo. - ela mostrou o papel, depois de encontrar na bolsa. - Fiquei toda empolgada com o Toddy e a Luna que esqueci de ir no banco. 

Um silêncio pairou pela recepção, dava para ouvir os latidos do cachorrinho no fundo e os carros passando lá fora. Todos ficaram parados olhando para a Dona Edna, sem saber o que falar. A Dona Edna, que por sinal, estava com uma cara de frustração enorme.

- Eu vou lá mãe. - o Lucas se prontificou.

- Mas eu preciso de você para me ajudar com os documentos...

- Eu vou.- falei - O Nathan pode fica no meu lugar. 

Percebi que o Lucas, que estava ao meu lado, ficou olhando para mim, mas não deu para ver qual era a sua expressão porque fiz questão de não olhar para ele. Não entendo direito o porque dessa raiva dele comigo, mas se é assim eu vou entrar no jogo. 

- É eu fico.

- Você vai, Ana?! É que eu não posso deixar de pagar isso hoje e...

- Tudo bem. Eu vou. - falei, entregando a Lola, que estava em meu colo, para o Nathan.

Foi então que, bem aliviada, ela me deu a fatura e o dinheiro. Depois de salvar as fichas que eu estava fazendo e pegar minha bolsa eu segui para a lotérica, que não era muito longe. Na verdade eu gostava de sair quando a Dona Edna pedia, primeiro, porque gostava de ver as pessoas, arejar a cabeça... E segundo, na maioria das vezes ela pedia para eu fazer algo que ficava perto do curso pré-vestibular do Gustavo. 

É, eu sei que isso é bobeira... e que depois de ontem eu não deveria ficar pensando nisso... ainda mais depois do que o Lucas falou sobre ele. - é o que a Bia e a Diana me falaram quando contei a elas, enquanto estava na fila; que, a princípio, estava ENORME. Mas o que eu vou fazer? Esquecer? Não dá. Ontem mesmo conversei com Deus, pedi para me mostrar o que o Lucas estava querendo dizer com aquilo, e perguntei o que Ele a achava sobre o Gustavo e eu. Mas até agora nada, então...

Mal sabia eu que a resposta iria chegar bem rápido. Literalmente, ela estava a minha frente, ou para ser mais precisa, a alguns metros a minha frente, bem do outro lado da rua, numa praça, dando sentido a tudo que o Lucas falou, me fazendo lembrar da seguinte frase dita por ele "eu te avisei...".

Sou Crente... E daí?!Onde histórias criam vida. Descubra agora