E lá estava ele, sentado no outro lado da rua no banco da praça. Com certeza ele não deve ter me visto, afinal os seus olhos estavam totalmente penetrados no garota que estava ao seu lado. Em pleno horário de aula, no momento em que ele deveria está assistindo as aulas do cursinho que ele tanto fala, o Gustavo estava lá, agarrando aquela garota, beijando no meio da rua sem o menor pudor.
Confesso que fiquei com ciumes, ou não, acho que era raiva mesmo. Meu coração acelerou, senti o meu sangue subir para minha cabeça. "Elas pensam que são especiais para ele..." ," vamos dizer que ele gosta de variedades...", essas frases começaram a saltar na minha cabeça. Eu não sabia se chorava ou se corria. De repente, parecia que os carros da avenida resolveram não passar só para eu ter certeza do que eu estava vendo.
- Desculpa! - um senhor que acabara de esbarrar em mim falou sorrindo.
Balancei a cabeça e dei um sorriso amarelo sem nem saber o que havia acontecido direito. Foi só então que eu percebi que eu estava mais uma vez parada olhando para o Gustavo, mas agora sem nenhum sorriso bobo no rosto e sem ele ter percebido também. Pelo menos eu acho que não.
Segui em direção do Pet Shop bem devagar e desnorteada. Eu não sabia se ficava feliz por receber o sinal que eu havia pedido e ter entendido agora o que o Lucas falou, ou ficava triste pelos mesmos motivos. Em falar no Lucas, eu acho que devo a ele muitas desculpas. Claro que o simples fato do seu primo ser um desviado e pervertido - sim estou com raiva! - não dá motivo dele não querer tentar ganhá-lo para Jesus.
Mas agora eu entendo porque ele se afastou do tal 'grande amigo de infância', o Gustavo certamente queria ficar com essas pessoas que só querem a 'curtição' ao invés de ir para a igreja como faz o Lucas. Esse deve ser o motivo, também, para ele faltar tanto e chegar atrasado na escola dominical.
- Como você é burra, Ana! - falei comigo mesma no meio da rua.
Uma senhora que caminhava ao meu lado, olhou diferente para mim depois disso, mas eu só dei um sorrisinho e segui andando. Depois do mico que eu passei pensando que o Gustavo fosse um 'santo', agora, qualquer outro será totalmente inferior.
Cheguei, enfim, ao Pet Shop que estava lotado.
- Ana! Está tudo bem? - A Dona Edna correu até mim, assim que me viu. - Que demora foi essa? Liguei um monte vezes para você, e nada de atender.
Eu olhei para o celular que ainda estava na minha mão, e sim, tinha um monte de chamadas não atendidas e mensagens da Bia e da Diana que ainda não havia lido. Por elas parecia que eu havia morrido.
- Demorei porque a fila estava enorme. - falei sem responder sobre não ter atendido o celular.
- Eu imaginei. - ela falou ainda olhando para mim. - Que bom que você chegou! Obrigada, viu?! - ela sorriu.
- Mãe, eu já estou indo, tá?!
O Lucas apareceu.
Meu coração gelou naquele momento. Ele estava certo, ele havia me avisado, mas eu não conseguir falar com ele de tanta vergonha, apenas respondi a fria despedida que ele me deu depois de cumprimentar sua mãe.
- Tchau. - falei depois que ele já tinha ido.
- Está tudo bem mesmo, Ana?! - a Dona Edna, que ainda estava me olhando, como de estivesse tentando descifrar algo, me perguntou.
- Está sim. - falei sorrindo e logo segui para o balcão.
- Que demora foi essa, Ana! - o Nathan falou assim que cheguei. - A fila estava enorme, não é?! - apenas balancei a cabeça positivamente e ergui as sobrancelhas e ele entendeu. - Deixa eu ir lá que a Michele está quase ficando louca lá com os animais. - ele sorriu.
*****
Pois é, o dia foi bem longo hoje. Ficar lá naquele balcão, fingindo que nada havia acontecido e ainda tendo que sorri para os clientes, não foi fácil. Foi por isso que quando minha mãe me perguntou se eu estava bem, assim que eu cheguei em casa, eu desabei.
Contei tudo, desde o primeiro dia no shopping, até as conclusões que tirei depois de ir a lotérica. Isso tudo em meio de muitas lágrimas.
- Filha... - ela falou depois que eu terminei. - Porque você não me contou tudo isso antes? Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa ontem, mas eu estava com tanta dor de cabeça que pensei que era só coisa minha, desculpa... - ela me deu mais um papel para limpar o meu rosto todo molhado.
- Só hoje.. - ela continuou - que a Edna me ligou percebi que não era coisa da minha cabeça. Ela falou que tinha percebido que você não estava bem depois que você voltou da lotérica, da qual você havia demorado de voltar. E que o Lucas também depois de ontem está bem estranho, ela havia perguntado o porque , mas ele não quis contar...
- Eu não acredito, mãe... - falei baixinho, olhando para a parede relembrando o que havia visto. Algumas lágrimas insistiam em cair - Eu toda boba, pensando que ele gostava de mim, que... que...
Enquanto pensava, minha mãe não parava de olhar para mim, com um pequeno sorriso no rosto.
- Que foi mãe? - perguntei quando percebi.
- Nada... - ela tentava conter o riso e seus olhos não saiam dos meus.- É só que... eu estou impressionada de como a minha menininha cresceu. Antes era só bonecas... e de repente...
- Mãe!!! - a interrompi.
Como ela pode pensar essas coisas comigo assim?!!!
- Desculpa filha. É que quando eu estava grávida de você, eu ficava pensando em como seria quando crescesse. Como seria na escola... como seria suas primeiras paixões.. Eu ficava pensando comigo mesma no que eu iria falar nessas horas. - ela deu mais um sorrizinho.
- Eu acho que você não imaginou que seria assim, não é?
- Eu acho que foi bem melhor. - ela riu, e depois fez sinal com as mãos para deixá-la continuar a falar, quando eu ensaiei um questionamento. - Eu sempre orei para que Deus me desse uma filha, ou um filho, que fosse temente a Ele. Que Ele a livrasse dos caminhos maus, que não se misturasse com pessoas erradas, essas coisas... E ver você agora, na igreja, no grupo de louvor, fazendo até célula na escola, e ainda me dizer que orou a Deus pedindo que Ele a mostrasse se o Gustavo é o cara certo para você ou não... Acho que você é o orgulho de qualquer mãe...
Posso dizer que naquele momento eu fiquei com muita vergonha.
- E olha filha... - ela levantou minha cabeça para que eu prestasse atenção nela. - Eu acho que não deveria ficar triste não. É claro que não vai ser fácil esquecer esse menino, e que ainda precisamos orar muito por ele, mas se você orou para que Deus te mostrasse se ele é o garoto certo para você, e Ele te mostrou que não, então você não tem que se preocupar, porque o que Ele tem é bem melhor.
- Verdade mãe. - falei esboçando um sorriso.
- Agora nada de ficar triste. Ergue essa cabecinha sua. E outros pretendentes virão e eu acho que não está muito longe não, hein...
- Como assim??? - perguntei antes dela sai do quarto.
Ela começou a sorri e depois de balançar os ombros, como não soubesse de nada, falou:
- Você vai ter que orar mais um pouquinho.
Depois que dizer aquilo, ela saiu do quarto e foi em direção a Clara que estava chorando lá na sala com o meu pai .
- Como assim?- perguntei a mim mesma. - O que ela estava insinuando?
Perguntei novamente a ela no jantar, mas ela desconversou e eu deixei para lá. Deve ser bobeira de 'mãe'.
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Sou Crente... E daí?!
Ficção AdolescenteAna é uma garota de 17 anos super temente a Deus e comprometida com a igreja. Quando tudo estava aparentemente perfeito, ela ver sua vida mudar e com isso começa a encarar algumas questões típicas da sua idade.