Capítulo 21

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Depois de uma semana totalmente abençoada, enfim, chega o sábado. Mas diferente de muitos que ao chegarem no final de semana aproveitam para dormir até mais tarde e para descansar da semana cansativa, eu tenho que levantar cedo. Mas nada de preguiça, afinal, hoje é um dia muito especial e o mais aguardado do ano por mim!

Ansiosa para o dia finalmente começar, me levantei antes mesmo do alarme tocar. Com o volume do fone de ouvido no último, coloquei todas as músicas do Livres Para Adorar no celular. Eu precisava estar bem afinada para hoje à noite.

O tempo estava maravilhoso. Logo cedo o sol já deu as caras. O céu lindo estava quase todo azul, somente algumas nuvens resolveram aparecer. Aquilo tudo seria um indicio que o sábado seria completamente abençoado.

- Bom dia! Bom dia! – Cumprimentei a Dona Edna e o Nathan, que estavam abrindo o Pet shop.

- Bom dia, Aninha! – O Nathan me cumprimentou. – Vejo que já está ensaiando para hoje à noite. – Ele apontou para o meu fone, que mesmo tendo tirado do ouvido dava para escutar a música que estava tocando. Ai se minha mãe estivesse aqui agora... – É a música "Santo"?

-Isso mesmo!

- A Carla também está toda animada. Baixou todas as músicas no meu celular e passou a noite de ontem toda ouvindo.

- Tomara que vocês usem todas essas energias hoje com os animais. Porque você viu ontem, não é Ana?! Um monte de gente agendou para limpeza e para adoção.

- Nosso! Verdade. Hoje vai ser um dia daqueles. Bem movimentado. – Falei enquanto ligava o computador.

- Graças a Deus!!! – A Edna gritou da sua sala.

- Graças a Deus! – O Nathan repetiu. – Eu vou lá soltar os cachorros e colocar a comida. E quando a Michele chegar, você fala para ela ir lá me ajuda. Beleza?!

- Beleza!

Não demorou muito para a recepção lotar. Era um latido de lá, um atende daqui, um anota dali. Era o típico sábado que a Dona Edna gosta.

- Ana! – A Dona Edna apareceu no balcão. – O Lucas vem para me ajudar com a adoção. Daí quando ele chegar você pede para ele já ir direto lá para fundo, por favor?

- Tudo bem. – Sorri e já voltei logo para o computador para continuar com a ficha que estava fazendo. Em dias como esse era necessário ser muito rápida.

- Bom dia! – Ele logo apareceu na recepção. – A paz do Senhor!

- A paz, Lucas! – Nos cumprimentamos.

- Hoje o dia está bem cheio, hein?! – Ele se virou para ver toda a recepção.

- Verdade! Sua mãe que está toda contente os animais estão sendo quase todos adotados! – Falei, quase gritando por conta da barulheira que estava naquele local. – Ah!!! Ela pediu para você ir direto para lá. Para ajudá-la.

- Beleza! Quando o Gustavo aparecer aí, fala para ele ir para lá também.

- Okay. – Falei por impulso.

O Gustavo aqui?!

Fazia um bom tempo que eu não o via. Para ser mais exata, desde aquela quarta-feira na caixa lotérica. Depois daquele dia eu fazia questão de não o ver: alguns dias eu saia mais cedo do Pet Shop, outras vezes eu não passava na rua em que ele fazia seu curso preparatório. E como ele não estava indo mais na igreja e nem fazia mais parte do ministério de louvor, cortei relações por completo com ele.

Mas depois desses dias que o avô do Lucas ficou doente eles dois ficaram cada vez mais próximos. Pelo pouco que a Dona Edna me contou, e depois o Lucas, o Gustavo estava muito abalado com toda a situação. Isso porque depois de seus pais se divorciarem o seu avô acabou sendo um segundo pai para ele, e vê-lo todo debilitado o deixou bastante triste. Foi então que os dois deixaram as rixas de lado e decidiram manter a amizade.

E lá estava ele de blusa xadrez vermelha calça jeans na frente do Pet Shop com um violão pendurado em um dos braços e a mochila na mão. A cada passo que ele dava em minha direção mais raiva eu tinha. Ele começou a driblar alguns clientes com seus animais e enfim chegou no balcão.

- E aí, Aninha?! – Ele falou ao se aproximar, todo sorridente evidenciando a sua covinha que nem era mais charmosa. – Quanto tempo, hein?!

- Verdade. – Falei ainda olhando para o computador. Como ele pode ser tão ...– O Lucas pediu para você ir ajuda-lo lá no fundo com a adoção.

- Beleza! – Ele começou a ir mais logo voltou. – Eu posso deixar essas coisas aqui?! – Ele apontou para sua mochila e para o violão.

- Pode deixar aí atrás. – Apontei rapidamente para o local atrás de mim e, sem olha-lo diretamente, voltei para o que eu estava fazendo.

Eu estava com muita raiva daquele garoto. Como ele pode brincar com Deus desse jeito? Fingir que é crente? Ficar com um pé no mundo e outro na igreja e ainda pensar que está tudo bem? O Lucas estava certo e eu que nem boba pensava que ele tinha solução...

Passei o trabalho inteiro pensando nessas coisas e ao mesmo tempo pedia perdão por estar com tanta raiva de uma pessoa.

- Você vai no culto de hoje, não é Gustavo? – O Nathan falou enquanto saíamos do Pet Shop.

As três horas o expediente, finalmente, havia terminado. A Dona Edna estava mais que contente com o tanto de lar que ela havia conquistado para os seus cachorrinhos. Tirando a Lola, somente dois animaizinhos não foram levados: um cachorrinho vira-lata e uma gatinha, mas os dois já estavam adotados e só na próxima semana iriam para seus devidos lares.

- Claro que vou! Não perco hoje por nada! Hoje vai ser benção pura! – O Gustavo falou todo animado.

Como pode ser tão sínico?!

- Mas hoje você não tem curso, não? – Perguntei.

- Graças ao Pai, hoje não tenho, Aninha. – Ele, ainda alegre, colocou uma das mãos em meu ombro enquanto falava.

- Que bom então. – Falei me desvencilhando dos seus braços dando um passo para o lado.

Quem foi que deu essa intimidade toda para me chamar de Aninha, hein?

- Vamos lá então?! Por que só temos algumas horinhas para descansar. – A Edna foi abrindo o carro.

Como de costume, eu voltava com ela para casa, mas hoje o carro estava um pouco mais cheio.

- Pode sentar na frente, Ana. – O Lucas abriu a porta dianteira para que eu entrasse. – Eu sento atrás com o Gustavo.

- Obrigada! – Falei sinceramente grata por não precisar me sentar ao lado do Gustavo, pelo menos eu estava a alguns centímetros de distância.

Nos despedimos da Michele, da Jéssica e do Nathan e seguimos para o nosso prédio. Ao som da música "Vai Valer Apena" fomos o caminho inteiro conversando sobre o culto de logo mais à noite. Os dois atrás pareciam ter, verdadeiramente, se entendido. Eles começaram a relembrar todos os shows que eles já foram e cada situação que eles passaram.

- Mas naquele dia você me deixou sozinho, cara. Só meia hora depois que você voltou. Eu estava quase ligando para minha mãe. – O Lucas falou e depois os dois começaram a rir.

- Eu fui procurar um banheiro e me perdi. – O Gustavo, em meio aos risos, falou. – Foi muito engraçado a cara que você fez quando eu cheguei. "Mano, onde você estava? Fiquei maior tempão te procurando" – Ele o imitou e continuou a rir.

Eu não estava entendendo nada, mas de uma coisa eu tinha certeza: o Gustavo não tinha ido procurar um banheiro naquele dia.    

Sou Crente... E daí?!Onde histórias criam vida. Descubra agora