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O grupo estava espalhado na sala de aula. O mapeamento da professora Cosoene, de redação, não deixava os seis amigos sentarem um perto do outro, só Gerson e Sarah que sentavam lado a lado, um toque de compaixão da professora.

A sala podia ser vista como um gigante tabuleiro de xadrez, mas a melhor forma de comparar é com um campo de batalha naval. Não era como se realmente existissem bombas que atacassem os alunos os fazendo afogar, na verdade as bombas eram as provas, e a água, a recuperação.

Sarah se sentava na C2, prestava atenção na aula, anotava coisas novas e importantes, e memorizava cada mínimo detalhe. Quando já sabia o que o professor ou professora iria falar ela tirava os seus óculos, ou ajeitava o seu cabelo castanho enquanto cantarolava alguma música em sua cabeça. Também muitas vezes se virava para Marcus, Gerson ou Diana para conversar com eles através de olhares rápidos ou palavras mudas para não atrapalhar a aula.

A carteira torta de Gerson ficava logo na D2, ele escutava as palavras dos professores encolhido dentro de sua cadeira, com o livro sempre aberto, e anotava as coisas que eram escritas na lousa. Às vezes perdia o interesse na aula e rabiscava o cabeçalho de uma folha de seu caderno, que depois seria rasgada e jogada no lixo. E quando o professor parava de falar ele conversava com a Gyh, a menina que sentava à sua frente.

Lucas sentava logo de frente à lousa na primeira fileira horizontal, na posição E1, ele geralmente não anotava coisa alguma, apenas prestava atenção em toda a aula, memorizando o que o professor falava, e quando se entediava ele começava a dar pequenos pulos em sua cadeira, deixando suas mão livres para dançarem juntas no ritmo. Ele fazia isso ignorando os risos de deboche, mas depois de um tempo os alunos ao seu redor já tinham se acostumado com suas peculiaridades.

Marcus era o mais difícil de decifrar o que fazia em sua carteira na F3, sempre debruçado em sua carteira com sua caneta, geralmente azul, na mão, escrevendo ou a mordendo a ponta traseira. Quando um de seus amigos o olhava e ele não retribuía o olhar, era difícil saber se ele estava anotando cada palavra falada pelo professor, ou se estava tendo mais uma ideia para uma nova história, ou escrevendo romances manuscritos em cadernos de uma matéria. Às vezes quando parava de escrever para respirar ou para não morrer de tanta dor na sua mão, ele olhava para o professor e tentava decifrar todo o conteúdo antes de voltar para os seus múltiplos mundos.

Diana ficava com os olhos vidrados o tempo todo em sua carteira na G1, ela anotava e escutava tudo, não perdia nada, sempre com o livro, caderno sobre a mesa e agenda aberta abaixo dela. Quando as atividades, principalmente de matemática, eram passadas em classe e ela se deparava com uma questão complicada, logo recorria por olhares que pediam a ajuda de Sarah.

E por último Leo, sentava do lado da parede dos janelões na parede oposta à porta, na carteira H4. Ele era o mais normal, em questão de ficar quieto em sua cadeira, claro, não tinha manias nem características surpreendentes além de passar o tempo assistindo a aula e se riscando com suas canetas, o que fazia seu braço no final da aula ficar totalmente fechado, parecendo aquelas tatuagens de motoqueiros. Mas além de conversar as vezes com Soyara, a menina da sua frente, ele tinha que suportar Lairana fazendo piadas/elogios com o tamanho de seus glúteos, que eram grandes.

Yvina não tinha mais uma carteira naquela sala. Tinha se mudado, tinha ido para a cidade de Caucanoa cedo naquele ano, antes de ter começado as aulas. Todos sentiam sua falta, quando ela vinha visitá-los era uma festa, mas isso quase nunca acontecia, pois ela tinha que estudar também. Foi difícil para eles deixá-la ir, e mais difícil pra ela ir, mas eles mantinham contato, claro que podiam fazer melhor, mas ela sabia que todos ali amavam, e se esforçavam para mantê-la perto.

O sinal tocou finalmente, anunciando o esperado recreio, ou banho de sol, como Marcus gostava de chamar. Lucas se levantou e foi ao encontro de Gerson e Sarah, já levantados. Diana não havia se mexido em sua mesa, ainda continuava escrevendo alguma coisa sobre a aula. Marcus acabara de escrever as páginas de um capítulo aleatório de uma das mil ideias, então se levantou após fechar o caderno e foi para mesa de Sarah. Leo se virou rapidamente para trás onde Yago tinha chamado seu nome.

O Menino Da ÁrvoreOnde histórias criam vida. Descubra agora