- Com licença, olá – disse a menina carregando uma mochila azul com referência de alguma série, chamando a atenção de Lucas, o menino antes distraído, sentado em uma mesa na cantina da tia Paulinha, esperando a aula começar.
- Oi, ahn, sim, oi – respondeu o garoto brevemente assustado pela menina em sua frente, que riu meigamente pela reação do menino.
- Wow, calma aí, só quero lhe perguntar uma coisa rápido, posso? – sorriu gentilmente ao explicar-se a Lucas.
De imediato não houve resposta, não devido a um grande nervosismo de Lucas ou por ele estar completamente hipnotizado, foi apenas por o garoto ter tomado um breve cuidado de examinar a garota que falava com ele; uma menina de pele morena e com um cabelo caído em seus ombros, acabando em discretos cachos que o tímido vento implicava em fazê-los bater em sua bochecha.
- Sim, claro – respondeu olhando para a cadeira em sua frente, mas ela não sentou, talvez por não ter entendido o gesto de Lucas ou por apenas não querer.
- Você sabe quando começa a monitoria de matemática? – perguntou sem desviar o olhar do menino.
- Ah, você é da tarde – pensou alto brevemente e a garota assentiu – deve começar no mesmo horário das nossas aulas, o que é logo logo.– respondeu finalmente, tentando devolver o constante sorriso sem parecer muito sem graça.
- E a sala? – perguntou assim que recebeu a resposta.
- Ahn... eu não sei ao certo, mas provavelmente é a 300, a única que fica livre nesse horário.
- Legal, ok! – disse, provocando propositalmente um pequeno silêncio entre os dois, onde sorriam e olhavam-se. - Ok, obrigada loirinho – a garota sorriu e se foi.
Respirando fundo, Lucas virou-se para checar Diana. Ela continuava falando com outras pessoas de sua sala, às quais ele não era próximo. Ao regressar o olhar para onde antes estava a garota, Lucas deparou-se com Marcus de frente à vitrine da pequena papelaria que havia dentro da escola, a Sorria, o seu amigo observava os poucos livros em destaque.
- Marcus? Cedo na escola? – Lucas cumprimentou seu amigo após ter abandonado seu assento e agora acompanhava Marcus de frente ao grande vidro.
- Sim, um milagre, eu sei – devolveu um grande sorriso – Tive que vir com meu tio hoje, acordei às 5 da manhã, na verdade acho que alguma parte de mim ainda está dormindo.
- Uma Horcrux? – riu.
- Sim.
- E aí, pensando em comprar “Relacionamento à prova de balas”? – Lucas debochou, apontando para o livro através da vitrine.
- Ha! Mesmo que pareça tentador, ainda mais por esse preço, uma oferta realmente "imperdível"… não. – Marcus olhou para o garoto ao seu lado e logo sacou algo de seu bolso – Apenas uma lapiseira comum, nada como tal obra de arte.
- Não chame-a assim, olha, ela é azul – rebateu e os dois riram da grande bobagem.
- Olá pessoas – a voz de Gerson quebrou o olhar recíproco de Marcus e Lucas para os dois garotos tornarem a encará-lo, logo do outro lado de Marcus – Olha, que surpresa você aqui à essa hora.
- Como falei: milagre. E olha que nem é natal ainda – Marcus brincou novamente com sua presença tão cedo.
- Vocês viram Sarah por aí? – Gerson perguntou.
- Espera, está dizendo que eu cheguei primeiro que a Sarah? – Marcus falou muito surpreso, brevemente pensando que havia algo realmente errado com o universo.
- Com certeza não – Lucas falou, observando ao seu redor, olhando de volta para a cantina da tia Paulinha e as algumas mesas posicionadas à distância – Ah, olha lá, ela está ali, conversando com Diana e Lisbela. Estranho, não tinha a visto quando estava lá.
- Devia bem estar no banheiro – Gerson sugeriu começando a caminhar em direção das garotas, acompanhado por seus dois amigos.
- Ou talvez estivesse falando, ou se pegando com E – Marcus logo disse, cheio de segundas intenções.
- Impossível – Lucas falou e imediatamente os três caíram na gargalhada alta. E Gerson sentiu-se feliz por escutar o nome do garoto ligado à sua amiga e não sentir ciúmes. Talvez seu remédio estivesse realmente funcionando.
■
- Pessoal, ei, galera prestem atenção aqui por favor – Lydia estava de pé no batente do professor, de frente para os vários alunos, tentando conseguir atenção de todos no meio de uma troca de professores, com a segunda aula prestes a começar.
- Gente, silêncio! – Soyara falou em voz alta pelo cômodo barulhento, não tendo total sucesso, mas já bastante útil para Lydia aproveitar.
- Ótimo. Todos, não se esqueçam que sábado, essa semana, ocorrerão os eventos da escola, começando de tarde com a Retórica e finalizando com a quadrilha à noite – a garota falava sorridente e gesticulava bastante, trazendo mais atenção para si a cada palavra dita – mesmo se você não participou de toda preparação ou não vai dançar, nós esperamos que toda família nonão compareça. Não se esqueçam de comprar os ingressos, hoje, segunda, pode parecer cedo, mas eles voam!
“E não se esqueçam: cinema antes” as letras de Sarah marcavam o pedacinho de uma folha de caderno, ao qual ela passou a Gerson após escrever um “ok” em sua caligrafia no verso, o que o garoto fez o mesmo e logo jogou a folha para a mesa de Lucas, fazendo o papel seguir seu caminho para todos confirmarem suas presenças.
Mesmo reagindo e escutando tudo o que era falado, Gerson realmente não prestava atenção em nada, pois era inevitável que ao aquietar-se, sentado, no meio no meio de um aula, as lembranças de Luan viriam a tona em sua mente. Com certeza iria passar as próximas aulas assim, ou até o resto do dia, até poder voltar para casa e poder conversar com Luan no computador.
Ele lembrava que seu objetivo não era se apaixonar pelo garoto, e realmente Gerson não queria nada sério, isso só iria piorar tudo para o seu lado. Não estava preparado para um compromisso, muito menos para abrir-se sobre esse assunto à sua família, realmente não se sentia preparado para aquilo, naquele momento.
Mas seus medos e receios logo se esvaiam quando lembrava das conversas entre os dois, principalmente do dia anterior, domingo, exatamente um dia depois de conhecer o rapaz, quando Gerson acordou com uma mensagem convidando-o ao prédio novamente naquele dia, e sem sequer ver seu primo Gerson passou o dia no apartamento de Luan, conversando, descobrindo ainda mais sobre o garoto, aproveitando os grandes silêncios que os dois passavam apenas olhando um pro outro, às vezes segurando as mãos, outras vezes cada um acarenciando o cabelo um do outro.
Cada vez Gerson ia mais fundo no garoto, descobrindo como foi para ele lidar com a recente morte de seu pai e como vivia tendo uma mãe doutora que trabalhava os sete dias da semana, ou até descobrir como ele fez para finalizar o Super Peach World em apenas três horas. Os dois se divertiam e realmente aproveitavam a presença um do outro.
Gerson queria beijá-lo, queria abraçá-lo mais forte, ele realmente queria mais, muito mais de Luan. Mas também não queria levar isso muito longe, não podia se arriscar desse jeito. Realmente estava grato por finalmente ter esquecido ou pelo menos começado a esquecer Edmundo, mas prometeu a si mesmo que aquilo tudo não iria passar dos limites, pois queria prazer, não dor.
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O Menino Da Árvore
Fiksi RemajaOMDA Eram adolescentes, brincavam, aprendiam, cresciam e amavam. Tinham seus problemas, fraquezas e inseguranças. Não era diferente naquele grupo de amigos. Eles só não sabiam o quão O Menino Da Árvore podia interferir em suas vidas.