Dez

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Nem a água do chuveiro, nem o som irritante do despertador ou mesmo os gritos de sua mãe faziam os olhos de Marcus ficarem mais abertos.

Era segunda-feira novamente e agora o menino andava em passos pequenos para cada ponto de seu quarto. Fazia aquilo todas as manhãs: se levantava e ficava viajando na fronteira entre os sonhos e a vida real. Tinha que ir no banheiro e ficar, ou ao menos tentar, o mais apresentável socialmente. Depois tinha que arrastar-se para dentro de seu quarto e pegar sua mochila, para finalmente descer e tentar comer algo antes que perdesse a primeira aula.

Ele, no momento, tentava enfiar alguns papéis de cadernos soltos, aqueles formavam um único capítulo que justificavam as olheiras debaixo de seus olhos por ter ficado a noite toda escrevendo. Carregava um achocolatado e uma torrada em apenas uma mão enquanto fazia seu caminho ao carro. Era uma verdadeira proeza que fazia isso todas as manhãs para conseguir chegar o menos atrasado possível, estava começando a achar-se profissional naquilo.

Quando finalmente tinha conseguido acabar tudo Marcus piscava cada vez mais pesadamente, pois o balançar calmo do carro junto ao horário e com o cantarolar de sua mãe das músicas antigas que rádio tocava, o fazia, cada vez mais, achar o sono mais atrativo.

Ele pegou seu celular no bolso para tentar ver se a luz clara gerada pelo aparelho o ajudaria a mantê-lo acordado, e logo o fez, pois tinha começado a digitar alguma coisa no Whatsger para Sarah.

- M: Online? (06:49) – mandou com esperanças.

- S: Sim, está mandando essa mensagem para dizer que vai faltar? (06:49) – respondeu rapidamente.

- M: Rá, não. Acha mesmo que iria acordar as seis da madrugada apenas para avisar que iria faltar? (06:49)

- S: Kkk, verdade, impossível (06:50)

- M: E aí,  novidades?

- S: Por que tá me perguntando isso? Nós vamos nos ver daqui a dez minutos

- M: Sono! Tenho que fazer alguma coisa parar manter-me acordado e não chegar com crateras escuras debaixo de meus olhos (06:51)

- S: Ah, entendo... mas infelizmente não tenho nada

- M: Argh, sabia que é seu trabalho como amiga me ajudar, né?

- S: Enjoado... – Marcus sorriu ao ler a mensagem – S: mas pensando bem, eu tenho sim uma coisa... (06:52)

- M: Eita, o que é? – digitou rápido, a curiosidade invadindo o seu corpo e finalmente expulsando o sono.

- S: Ah... é o Gerson (06:54) – ele esperou ela continuar, mas de princípio só mandou aquela mensagem, e quando ia começar a digitar, Sarah voltou a respondê-lo – S: Ele também está gostando do E.

- M: Ahn? Como eu não soube disso? Explica... (06:55) – por impulso ele aproximou o celular ao seu rosto.

- S: Foi na quinta, ele só me contou isso... sei lá, do mesmo jeito que eu estou gostando, ele também tá, acho – leu – e não conta pra ninguém, só você é a Diana sabem.

- M: Ah, mas, sei lá, foi tu que viu ele primeiro (06:56) – respondeu, tentando consolar a garota, mesmo sabendo que o que tinha falado não fazia sentido.

- S: Não, nós todos vimos ele primeiro, eu só fui falar. Nada impede ele de gostar do garoto.

- M: É, eu sei, mas vamos fazer isso funcionar – respondeu meio sem saber o que dizer – Esse E é disputado...

- S: Kkk, ok. Se apressa, a aula já vai começar  (06:57) – falou quebrando o clima.

- M: Tá bom chefe, chegando – respondeu por fim, desligando o telefone e vendo o resto do pequeno caminho para o colégio, através da janela do carro.

O Menino Da ÁrvoreOnde histórias criam vida. Descubra agora