Cinco

118 5 0
                                    

Diana conversava com Sarah, gravando áudios rápidos em seu celular sobre a pia. Ela estava no banheiro, agora olhava no espelho, já vestida, tentando domar os seus cachos pretos e volumosos mesmo molhados. Estava se arrumando apressadamente para logo partir ao condomínio.

- S: Então. O que tu acha? (18:31) – a mensagem escrita por Sarah estava logo abaixo de uma foto que ela mandara.

Era uma captura de tela, uma conversa que Sarah teve com Gerson. Percebeu isso pois reconheceu a foto de parede do chat de Sarah e podia ver que logo no topo da conversa havia o rosto de Gerson. Diana leu a conversa, era uma única foto e pelo horário ela tinha sido apenas há alguns minutos.

Absorveu as palavras e logo apertou no botão do microfone na tela gelada e úmida.

- Ah Sarah, – falou, sua voz ecoando nas paredes claras do pequeno banheiro de seu quarto. – sinceramente eu não acho que ele esteja apaixonado pelo menino, eu não sei. Foi só o primeiro dia, sabe, nem ele nem tu conhecem o garoto. E eu já falei para vocês sobre Gerson. – mandou a mensagem de voz que por reproduzida por Sarah quase instantaneamente.

- S: Ah mulher, sei lá... mas é verdade, hoje foi só o primeiro dia, vamos deixar rolar… (18:32).

- Pois amiga… – gravou outro áudio. – Eu vou indo, porque os garotos do condomínio me esperam! – soltou pequenos risinhos enquanto destrancava a porta e saía do banheiro pronta.

- S: Arrasa gata! (18:33) – elas se despediram rapidamente e Diana logo pôde focar em descer as escadas e ir em direção ao seu pai, que a esperava no portão para sair.

Por um breve momento ela parou e pensou nas palavras que tinha dito para Sarah. “Eu já falei pra vocês sobre o Gerson”. Essa frase ficou em sua cabeça por um instante, ela não falava por mal, claro que não.

Ela não tinha nenhum texto preparado sobre “o caso de Gerson”, só achava estranho. Não que ela não o aceitasse, muito pelo contrário, ela queria o melhor para ele, mas diferente dos outros, ela sentiu que faltou alguma coisa quando Gerson tinha "saído do armário".

“Talvez ele não seja bi” pensou. Ela suspeitava que Gerson ainda poderia ser hétero, não era como uma esperança, mas sim como uma teoria. Ela acreditava na generalização da adolescência, sabia que nesse período todos tinham suas dúvidas e medos, talvez Gerson tivesse passando por essa fase de uma forma mais forte. É, talvez fosse isso, Gerson apenas poderia está passando por uma fase, como os adultos chamam.

É mais fácil culpar as confusões mentais em palavras de mais velhos que tiram o mérito da complexidade humana e os justificam em uma fase que todos passam, como um nível de vídeo game. É, com certeza era simples assim.

Diana mexeu brevemente em seus cachos e regressou a andar, mas quando passou pela mesa de jantar ela parou de repente e olhou para sua mochila do colégio. Ela não deveria deixá-la ali, mas sabia que não dava mais tempo para de guardá-la. Passou pela porta fazendo uma lista mental das suas tarefas de casa diárias.

“Matemática, feito. Biologia, feito. Física, feito. Português, as milhões que a professora passara, feito”. Ela sempre fazia as tarefas. Diana não seria a mesma se não se cobrasse tanto na escola. Mas muito felizmente ela conseguia separar suas obrigações escolares da sua vida social. E essa não era hora de ficar pensando em verbos e equações.

Seu pai a deixou na rua de casas iguais, logo na frente da casa de sua tia. Geralmente as quintas e segundas ou às vezes nos finais de semana Diana ia visitar sua prima, Jade, no seu condomínio onde elas duas ficavam conversando com os outros adolescentes daquela rua fechada.

O Menino Da ÁrvoreOnde histórias criam vida. Descubra agora