Quatro

120 7 0
                                    


Gerson não tinha nem começado a fazer as tarefas, a mochila ainda continuava aberta em sua cama. Ele estava sentado na cadeira de seu computador, sem o usar, olhando apenas para a tela desligada.

Já estava assim por um tempo, e não sabia se o sol continuava no céu, já que suas janelas e portas estavam fechadas.

Cada vez que ele vinha em sua mente o seu coração batia mais rápido. Ele já tinha sentido isso antes, tinha descoberto seus sentimentos da pior forma. Ainda passava por momentos de dúvidas, sentia culpa, medo e a atração pelo proibido havia piorado.

O grupo não tinha nenhum problema com nada, na verdade os problemas eram com as pessoas que não aceitavam a diversidade humana, mas mesmo assim foi difícil fazer o que tinha feito, mesmo sabendo que Yvina praticamente o adotaria e os outros fariam uma festa.

Ele havia demorado pra contar, sabia que acima de tudo todos aqueles amigos não estavam passando pelo o que ele estava, eles viviam sua vida para frente, não tinham problemas com isso.

Eles poderiam estranhar. Podiam deixá-lo, esse era o maior medo dele. Ele se lembrava daquele dia, era o começo do verão e por isso o céu estava nublado, nada estava planejado, as palavras simplesmente surgiram.

Era aula após o intervalo, estava chovendo lá fora. O característico barulho que as gotas de chuva faziam ao bater na janela era indistinguível, até o zunido discreto do ar-condicionado fora tomado pelo som que todos gostavam de escutar.

As conversas eram baixas. Na sala, as luzes perto da lousa estavam desligadas, deixando só a última fileira de lâmpadas iluminando todo o local.

O professor substituto de física, que ninguém tomara o trabalho de decorar o nome, passava uma apresentação no Datashow, projetando números em notação científica na lousa.

Ainda era o primeiro mapa de classe do ano, então os professores não se davam o trabalho de se reunirem e espalhar os alunos que conversavam, ou seja, todos os alunos iriam ser misturados o quanto antes, e pessoas que nem se olhavam na cara uma da outra iriam de sentar lado a lado.

O grupo se concentrava do meio para o final da sala. Sarah, que já tinha entendido o conteúdo; Marcus, que pela primeira vez no ano já tinha copiado a projeção em seu caderno; e Gerson, que nem se obrigara a olhar para o professor. Todos estavam de cabeças baixas, virados um para o outro e conversando com Lydia, amiga-quase-irmã-e-vizinha-da-prima de Gerson. As duas (prima e amiga) estudavam na mesma sala que ele, e sempre haviam cursado naquele colégio enquanto Gerson havia entrado lá há longos seis anos.

Do grupo deles, só Marcus, Sarah e Leo estavam naquele colégio desde os anos iniciais até a eternidade, desde que os traiçoeiros de seus pais os colocaram lá quando nem mesmo sabiam escrever o próprio nome.

Gerson não lembrava mais o que eles tinham conversado, mas pelo que se recordava era algo sobre as organizações do nonão para as competições com o ensino médio. Era o primeiro ano deles ali, nessas competições tão importantes, as quais só os quatro últimos anos participavam.

Eram as olimpíadas internas, as escolhas da rainha e a tão esperada quadrilha, o evento que indicava o ano ganhador. E eles eram os novatos, os pequenos intimidados, agora.

- A Klara vai sair, ela provavelmente ia ser nossa noiva. - falou Lydia jogando suas mãos para o alto. - Eu não sei mais o que fazer, por cima, os ensaios nem começaram! Como vou resolver essa situação do noivo?

- Coloca alguém no lugar dela - falou Marcus desinteressado em tudo aquilo. - Bota o noivo com o bispo.

Gerson e Sarah riram, mas não Lydia. Ela não era tão liberal quanto os outros e isso só colocava mais insegurança em Gerson, mas naquele momento ele ria, era na verdade fácil fazê-lo rir, e ali ele estava se sentindo feliz, realmente, confortável naquele momento, então quando percebeu ele já havia pronunciado as palavras.

O Menino Da ÁrvoreOnde histórias criam vida. Descubra agora