Quatorze (1/2)

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Em um instante a semana já havia se passado. E não foi nem um pouco surpreendente o fato dos acontecimentos da terça-feira, que agora pareciam bem distantes, não se repetirem. Nenhuma aproximação do grupo com o garoto foi feita, apenas alguns acenos e palavras trocadas entre Edmundo e Leo, brevemente no corredor das salas.

Sarah, além de lamentar-se toda hora pela conversa ruim que tivera com o garoto no começo da semana, não pôde deixar de notar os breves olhares que um menino, do qual ela não ousava olhar para saber se já tivera visto antes, soltava quando ela raramente descia de seu apartamento, não por mero lazer, claro, mas por sua mãe obrigá-la, justificando que era sua vez de pegar alguma encomenda na portaria.

Fora isso, ela não fazia muito, pois excluindo os estudos, ela ficava com seu tempo livre praticamente todo olhando o Instambler de Edmundo, deliciando-se com as palavras; algumas de autoria própria, outras sendo citações de livros românticos.

Diana, por outro lado, tinha tirado bem mais proveito dos dias que se seguiram, pois naquela quinta-feira, quando voltava ao condomínio de sua prima, teve uma considerável surpresa de saber da grande simpatia dos gêmeos, pois ambos W1 e W2 tinham conversado rapidamente com o grupo mais novo.

Já Leo, mesmo criando uma inesperada e aleatória aproximação com Edmundo, mantinha-se ocupado todo tempo, porque além de seus compromissos escolares e das aulas extracurriculares que atendia, ele tentava manter uma vida social ativa, o que incrivelmente conseguia fazer. Naquele sábado não foi diferente, pois como tinha prometido para seus amigos da OJD ele fora tocar violão no evento que tinha ocorrido pela manhã, e infelizmente por um bom tempo teve que aturar a falta da presença de Katrina e as perguntas desconexas de Bia, que apenas procurava puxar assunto, mas com objetivos muito além de uma simples conversa.

Os outros, com vidas menos interessantes no momento, seguiram suas vidas pela semana como se acompanhassem um roteiro ou uma receita. Marcus marcou com o grupo um encontro, como faziam de vez em quando, no shopping, para assistir a um filme, decidindo a data para próximo sábado. Lucas não teve muito com o que se surpreender porque passou dois dias na casa de seu pai cuidando de sua irmã, para ele o trabalho de babá não era nenhum pouco incômodo, porque quando estava na presença de Maria Flor, sua irmã mais nova, ele podia tirar bastante proveito. Yvina, além de seguir com seu combinado de encontrar com seus amigos nos finais de aulas, ficou esperando o perfeito dia em que poderia voltar ao shopping e ter noticias de Pedro e Nicolas, e esse dia se revelou ser também sábado, era quando não tinha absolutamente nada para fazer.

Gerson passou sua semana magoado, mais pela falta de consideração por parte de seus amigos do que com seus sentimentos para com o garoto. Ele sabia que não estava apaixonado por Edmundo, e tentando lembrar do que Yvina tinha dito quando o grupo escolhia o codinome E: que o que Gerson e até Sarah poderiam estar sentindo era apenas uma atração pelo menino. Então, procurando esquecer de tudo o que se passava, Gerson foi ao apartamento de seu primo, assim que o convite feito na semana anterior foi renovado.

  Então, chegando lá, Gerson ficou bastante feliz em rever seu tio, tia e principalmente seu primo, ao qual sempre foi próximo, e o garoto prestes a acabar o colégio logo apresentou a Gerson sua namorada, uma garota simpática que logo fez Gerson acreditar no casal, já que seu primo tinha ficado conhecido entre a família por seus relacionamentos duradouros, então sabendo que ele havia oficializado essa relação, Gerson já imaginava os próximos anos de convivência com a garota.

Ele, admirado com a casa de seus parentes que moravam do outro lado da cidade, em uma zona nobre, viu-se bastante disposto quando Júlio e sua namorada o chamaram para descer e ir à piscina, quando a manhã de sábado já tinha se esgotado.

Assim que puseram-se fora do elevador, os três conseguiram sentir o grande calor que aquele começo de tarde trazia. Seguindo na direção do deck onde a grande piscina abrigava algumas pessoas, juntamente com as cadeiras de bronzeamento, Gerson teve que se despedir do casal, já que a partir de sua própria ideia, tinha prometido deixá-los à sós.

Então, sozinho, Gerson decidiu ter uma autoestima alta e logo dirigiu-se para a área coberta do lado da piscina, onde duas mesas largas de madeira foram postas ao lado de uma churrasqueira de tijolos, deixando assim um ar rústico para o local, mesmo que as palmeiras crescendo altas não muito longe trouxessem de volta a polidez que cercava o prédio.

Mesmo com seu plano inicial de não pensar nada sobre o assunto, não pensar nada sobre Edmundo, Gerson logo desenvolveu uma teoria para se ver livre de tudo aquilo. Sentado brevemente na mesa, observando garotos na piscina ou bronzeando-se, Gerson chegou a conclusão que precisava de um  remédio, uma cura que o fizesse esquecer E, alguém para extravasar todos os seus sentimentos. Aquilo claramente era um movimento altruísta, pois mesmo que no final Gerson fosse tirar algum prazer, ele estava ao mesmo tempo tentando livrar seus sentimentos do garoto, ao qual Sarah estava gradativamente se apaixonando.

Então, para prevenir brigas ou até qualquer estranhamento com seus amigos, Gerson decidiu que precisava de outra pessoa, um menino para deixar toda essa fúria dentro dele escapar, que no momento o consumia dolorosamente.

Já decidido que não ia demorar mais, ele ia se levantar e ir à piscina, talvez trocar olhares com algum garoto e logo puxar uma conversa desinteressante. Mas assim que ia se levantando, Gerson foi impedido por um toque em seu ombro seguido por um:

- Oi – disse o menino sorridente, claramente mais velho, um ano no máximo, e com uma estrutura facial invejável, com uma linha bem marcada de seu queixo e mandíbula. Era realmente corpulento e tinha seus músculos exercitados, em outras palavras: tudo o que Gerson procurava no momento.

O Menino Da ÁrvoreOnde histórias criam vida. Descubra agora