Onze

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- Eu tô te falando, a série tá quase na décima quarta temporada e não fica boa – Gerson falava com Marcus, os dois andando pelo corredor lotado de outros adolescentes, enquanto o restante do grupo vinha atrás, saindo da sala de aula.

Os alunos do nono e oitavo ano tinham acabado de ser liberados por vinte minutos, para o intervalo, e sendo uma segunda-feira, o cansaço e a fome justificavam a lentidão dos passos de todos.

- Mas eu falei que ela não era boa – Marcus respondeu rindo e olhando para trás, à procura do grupo, para finalmente alcançá-los – Da próxima vez me escuta e assiste Contos De Terror Britânicos, não vai se arrepender.

- Do que tão falando? – uma menina pulou na frente dos dois, impedindo eles de continuarem andando e causando outros alunos desavisados a esbarrarem nas costas de Marcus, o que o deixou nada feliz.

- Do quão ruim Once Upon a Little Liar é – Gerson respondeu-a indiferente.

Marcus não tinha percebido quem era a pessoa que os tinha abordados, pois estava preocupado em saber quem tinha o tocado e também se ocupava em ficar irritado por Sarah e Diana continuarem paradas na porta da sala esperando Leo e Lucas que por algum motivo não tinham saído. Foi só quando virou-se que se deparou com Anakaoa, menina na frente dos dois garotos nem um pouco feliz com a resposta que tinha acabado de receber.

- Olhem, meus queridos, OUALL é ótimo, no dia em que suas séries explodirem a torre Eiffel, me avisem, porque se alguém faz isso, é qualificado imediatamente como uma série boa! – a menina loira de cabelos lisos continuava de pé, na frente de Gerson e Marcus, com sua mão apoiada em sua cintura, demonstrando uma raiva cômica para os dois meninos.

Ana Carla, desde que tinha entrado no colégio, era conhecida como Anakaoa por algum motivo desconhecido. A menina tinha uma aparência simpática, seus cabelos combinavam com a pele clara, um pouco avermelhada naturalmente nas bochechas, mas os pequenos hematomas roxos destoavam de tudo, e suas explicações eram sobre as tantas vezes que a menina distraída caia ou se batia em algum canto.  De vista parecia inofensiva, mas claramente quando uma pessoa se aproximava dela, podia observar que a menina era totalmente imprevisível, ainda mais quando abria a boca, seria inevitável não aprender um novo palavrão.

Até diziam que se ela se esforçasse, jogando o cabelo para frente e abrindo um sorriso macabro, ela conseguiria qualquer papel em um filme de terror como a criança inocente, que no final era a assassina psicopata.

- É, mas a gente falava mais sobre o roteiro e como... – Marcus começou a contestar amenizando a situação, esperando que Anakaoa não explodisse, mas como sempre foi bruscamente interrompido pela mesma.

- Ah, vai se fu...

- Vamos parar aqui, né! – Gerson não deixou-a continuar, rindo pela resposta brusca que ela tinha dado.

A menina soltou uma gargalhada e regressou o andar com seu dedo do meio levantado no ar. Para outros isso poderia parecer uma briga, mas para eles era apenas uma interação comum com a garota.

- Por que vocês demoraram tanto? – Marcus perguntou na pausa que fez ao mastigar sua empada.

- Ah, pela tarefa de classe de história – Lucas respondeu com seu novo celular nas mãos – Ei,  a Yvina mandou uma mensagem. Falou que ia estar aqui pro intervalo.

- É, aqui estou – disse Yvina, surgindo de um ponto cego para os outros,  juntando-se ao grupo dos seis e sendo cumprimentada.

- Meu Deus... Yvina no recreio novamente – Sarah começou a falar – temos que ir para a árvore sagrada.

- A Árvore que parece estar sendo bastante badalada – Yvina rebateu risonha, referindo-se aos acontecimentos que tinha tomado parte no mesmo dia que aconteceram.

Então depois de fazerem o percurso normal e atingirem o corredor aberto com bancos ao lado esquerdo, o grupo viu a árvore no coreto a alguns metros de distância, mas como tinha acontecido na quinta-feira da semana passada, eles foram enganados.
- Como pensei... ocupada – Diana comentou, parando no meio do caminho.

Então, parados lá os sete fitaram Edmundo novamente sozinho sentado na árvore.

- Vamos lá? A gente pode conversar com ele – Leo sugeriu tomando um passo à frente.

- Você é louco? Não, claro que não – Sarah interceptou o caminho do garoto pegando-o pelo braço e o arrastando para o banco mais próximo a sua esquerda – sentem, vocês todos.

Todos a obedeceram, e apertados lá ficaram, de frente para o coreto, a alguns metros da árvore que lentamente virava propriedade do garoto de jaqueta preta.

- Vocês não sabem quem eu acabei de conhecer no shopping... Já adiantando aqui, eu posso começar a falar assim do nada sem parar, não sei porquê, mas provavelmente é uma doença psicológica que esse menino que conheci me passou, não se preocupem, ele é gay, mas tudo bem, porque eu descobri que sou uma faghag... – Yvina continuou tagarelando, e a cada palavra os amigos perdiam interesse ou ficavam como Marcus, que há tempo tinha parado de entender as tantas palavras tão rápidas que saiam de sua boca.

As conversas paralelas logo começaram, mas incrivelmente nenhum dos sete paravam de olhar para sua frente, para o menino que Sarah e Gerson supriam algum tipo de sentimento, para o menino que não percebia os olhares pois estava de costas para o grupo, encostado no troco da árvore.

Foi para todos, principalmente para Edmundo, uma grande surpresa quando um grande lagarto caiu de um galho da árvore, na grama sintética, e logo se recompondo, o animal tentou novamente retornar para o topo da árvore e ignorando o obstáculo que era o menino, o bicho subiu na perna do garoto, indo em direção ao troco de madeira, passando por de baixo da camisa do menino, procurando voltar de onde tinha caído.

E foi ali, no desespero, que o menino percebeu que havia um calango dentro de sua roupa, então começou a debater-se tirando seu casaco e jogando-o longe.

  Bem no momento, Lucas não demorou e já com seu celular na mão, pôde capturar o exato instante em uma foto, onde Edmundo se debatia e o calango caía no chão novamente.

As risadas dos sete logo começaram, e rapidamente, para E não percebê-los, o grupo começou a correr para outro lado enquanto riam histericamente, se distanciando do menino que mais tarde ganhou mais um apelido por parte do grupo: “CalangoBoy”.

Gerson corria rindo e guardava a imagem de E tirando seu casaco, já Sarah estava ao seu lado correndo e lembrando do rosto de desespero do rapaz, preocupada com ele.

O Menino Da ÁrvoreOnde histórias criam vida. Descubra agora