O Menino Da Árvore

Sete

- Imaginem, vocês estão dentro de uma loja - Lucas gesticulava, enrugando sua testa cada vez mais ao falar - e querem ir para fora dessa loja, isso dentro de um shopping. Aí você vai pra dentro do corredor. Então a frase 'sair para dentro' vai fazer sentido, BUM! - o menino loiro imitou com seus dedos uma explosão em sua cabeça assim que terminou de falar.

Sarah olhava para Lucas, mas não tinha escutado nenhuma palavra que o menino tinha falando, isso explicava o fato dela manter uma expressão focada, mas que beirava o tédio, na verdade ela estava muito concentrada em não fazer nada de estúpido, mesmo que o garoto não tivera dado as caras.

Diana estava sentada ao lado de Lucas, muito mais interessada nas pessoas que apareciam em fotos quadradas na tela de seu celular, ela não demorava em cada multimídia, apenas deixa seu rastro com corações gerados por dois toques seguidos na superfície de vidro.

Gerson mantinha seu olhar baixo para a mesa de uma pedra escura, ele, mesmo tendo acordado tarde, tinha chegado minutos antes da aula começar, diferente de Marcus que provavelmente chegaria nos últimos segundos.

Ele, quando chegou ao encontro dos amigos, não trocou muitas palavras, apenas quando ninguém prestava atenção soltava rápidos olhares para Sarah, estudando-a, vendo se ela transparecia algum perigo eminente, mas não conseguia enxergar nada. Eles não haviam falado nada sobre o assunto dos dois estarem gostando, ou pelo menos suprindo qualquer sentimento parecido, pelo mesmo garoto, aquele que tinham conhecido no dia anterior.

Os quatro estavam sentados em uma mesa das várias do pequeno refeitório da cantina da Paulinha, ninguém comia nada, mas muitos alunos ficavam ali pois era um lugar estratégico, logo à esquerda das escadas do prédio que se encontravam as salas de aula do fundamental dois.

Leo cumprimentava algumas garotas na mesa vizinha, ele gostava e se sentia confortável socializando com os outros, atos que nem todos do grupo entendiam, mas ele gostava mais ainda de jogar seu charme, o que fazia agora, deixando aquelas meninas caírem em sua lábia.

Lucas falou algo a mais, mas continuou a ser ignorado, apenas como um zumbido irritante nos ouvidos cansados dos amigos entediados, mas a voz do garoto foi interrompida por uma mais grossa que todos podiam dizer que era a de Leo.

O menino tinha deixado de conversar com as meninas e agora carregava o seu celular de capa preta em sua mão, enquanto falava ele digitava alguma coisa.

- Marcus - foi a primeira palavra que despertou os amigos, menos Diana, para o escutarem - quer um áudio, uma explicação sobre a conversa - se sentou na cadeira mais próxima de Lucas, apertou o botão com o ícone de microfone e aproximou o aparelho mais pra perto de Sarah.

- De novo? - a menina disse se afastando, diminuindo a proximidade do seu rosto e do celular de Leo, enquanto revirava seus olhos - Eu já falei pra vocês, apenas cumprimentei o menino e ele mal olhou na minha cara.

Gerson por impulso sorriu com suas palavras e foi pegue no ato pelos olhos indecifráveis de Sarah.

- M: Detalhes (06:47) - a mensagem apareceu no visor do celular assim que o áudio foi reproduzido por Marcus - Preciso de inspiração para diálogos! (06:47)

Sarah demorou para responder. Gerson pensou em algumas forma de despistar o assunto, de levar para uma outra direção, como uma pequena forma de ciúme borbulhando dentro dele, mas decidiu não fazer nada, queria também detalhes, reações mais concretas daquele menino misterioso.

No dia anterior, logo após as trocas de palavras terem acontecido, o grupo se encontrava explodindo de curiosidades e perguntas, mas quando perguntavam o que foi dito sempre recebiam a resposta que foram apenas palavras toscas gaguejadas por Sarah e pequenos esboços de expressão do garoto. Ninguém suspeitava que o quê Sarah relatava era mentira, era apenas a curiosidade e a necessidade de detalhes que os faziam não ficarem satisfeitos com as respostas passadas.