Seis (1/3)

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Sarah estava puxando, quase arrastando, sua irmã pelo caminho de casa até o carro. A menina de pouco tamanho se parecia com Sarah, tinha um rosto similar, mas a semelhança acabava no cabelo claro da menina mais nova, o oposto dos fios castanhos lisos da irmã mais velha.

A pequena Sofie andava sonâmbula com os olhos fechados, um pequeno protesto para não ir para aula.

- Mas você só pinta na sua sala de aula! - reclamou Sarah, a colocando nos assentos traseiros do carro.

A garota de oito anos respondeu a irmã com uma cara emburrada, enquanto Sarah e sua mãe iam direto para frente do carro.

- Fardada já está, para escola irá. - a mãe de Sarah rimou, iniciando o carro, Sarah revirou os olhos enquanto uma conversa entre as duas começava.

Foi aí que se deixou mergulhar em lembranças. Dessa vez a recordação triste de Luan, a que não veio em sua cabeça no dia anterior quando o viu, invadiu por completo sua mente.

Ela deixou que sua cabeça a tele-transportasse de volta para aquele lindo dia de sol do ano passado.

Sarah tinha descido novamente com sua irmã naquele domingo, já era o segundo mês consecutivo que a garota não perdia um dia, uma oportunidade qualquer de descer para falar com o garoto que tivera conhecido nas férias.

Ela tinha o conhecido já há algum tempo, tinha o visto no começo do ano, quando era obrigada pela sua mãe de descer com sua irmã para brincar e pegar um sol. "Soltar os livros de vez enquanto faz bem" já sabia decorado as palavras dela.

Ele sempre andava com outros garotos, amigos, alguns moradores do prédio que ela lembrava vagamente de ter visto nas reuniões de vizinhança, ou nas vezes em que lia em sua sacada e observava os outros no pátio do prédio.

Os garotos no grupo ficavam empurrando uns aos outros, de uma forma divertida, uma brincadeira que Sarah não conseguia entender.

Sua relação com Luan foi avançando lentamente, começando pelas trocas de olhares quando ela balançava uma Sofie feliz e ele ria, andando pelo condomínio; depois evoluiu para pequenos acenos ou até comprimentos como "oi" ou "e aí?" quando ela via-o sair do apartamento do seu amigo no mesmo andar que o dela, o terceiro do prédio.

Naquele ponto ela já estava impressionada como conseguira sair tão longe com um relacionamento com uma pessoa do seu prédio que não fosse um parente.

O dia em que ele a abordou, enquanto ela via sua irmã a distância, foi uma grande surpresa. Logo Sarah tinha deixado de bancar a babá para se tornar uma pessoa que verdadeiramente conversava (besteiras) com outra que a respondia com palavras audíveis.

Logo a conversa entre os dois fuliu, e ficou combinado que nos dias de domingo ele iria dispensar os amigos por uma hora para poder se dedicar a conversar com Sarah, inteiramente, sempre no mesmo lugar perto do playground, nas máquinas de exercícios ao ar livre, onde eles poderiam ter uma visão privilegiada da piscina.

Em dois meses de funcionamento do esquema, Sarah já estava mais apaixonada por Luan do que seus personagens fictícios de romances, que eram muitos.

E ela, naquele dia em que as folhas das palmeiras nem ousavam se mexer pela insistência do vento, iria o falar o que sentia. Não planejava um pedido de casamento, apenas queria falar sobre a alteração nos seus batimentos cardíacos quando ele estava por perto, ou até mesmo quando ele vinha em sua cabeça, e se a vida seguisse a mesma linha narrativa que seus livros, ao final do dia Sarah e Luan estariam de beijando.

Mas não foi como tinha imaginado. "Ah, não foi mesmo" a Sarah do presente agora debochava um pouco da sua mente ingênua.

Ela tem a lembrança de estar no elevador animada, abrir um sorriso quando o viu (o que fez exageradamente) e perder o fôlego por ter chegado perto dele e pela pequena corrida que fez do Hall de entrada até a tarde quente.

O Menino Da ÁrvoreOnde histórias criam vida. Descubra agora