Peregrinos

16 - Flashback

- Nicholas! Nick não faça isso! - minha mãe gritava
- Deixe-o! Deixe-o! Eu gosto! - Mike sorria como ninguém
- Ele ficará bem mamãe não vou deixar nada acontecer com ele! - prometi

Acordei subitamente e me sentei na cama assustado, suando frio. Senti uma mão gelada contra meu peito e escutei sua voz tentando me acalmar.

- Nicholas. Está tudo bem. Está tudo bem. - Emma estava com os olhos arregalados
- Obrigado. - murmuro
- Não é problema. - ela sorri gentilmente - Está bem agora?
- Sim. Pode ir ver William. - me levanto
- Acabei de vir de lá. - sua expressão se torna séria - Acordou gritando.

Nos últimos tempos, desde que meu irmão faleceu, tudo tem estado fora de seus eixos. Emma estava em maior sanidade por assim dizer, cuidava de mim e de Will que acordávamos sempre gritando com pesadelos.

Meu pai estava se despedaçando e o pior, não conseguia ajudar. Ele se trancava no escritório e nem na sala de café aparecia, apesar de que eu também não o fazia.

Emma se despediu e saiu de meu quarto após se certificar de que eu não surtaria. Peguei roupas no closet e fui tomar banho, ordenei que não houvessem mais criados em meu quarto.

Após fazer a higiene matinal e me arrumar fui tentar a sorte com meu pai.

- Abra a porta. Por favor. - me encostei na porta
- Vá embora garoto idiota! - ele grita de dentro
- Eu não sou um garoto eu sou seu filho. - cerrei os dentes
- Meu único filho morreu. Você é só um estúpido que não cumpriu sua promessa. - ele cuspia as palavras
- Está bêbado? - falo firme
- Bêbado de desgosto. - ele ironiza
- Basta. Você é um rei. Recomponha-se. Não pode ser um rei e um bêbado.
- Então parabéns meu herdeiro, é o novo rei.

Congelei imediatamente, não estava preparado para me tornar rei e talvez fosse apenas estupidez de um bêbado, mas eu tinha responsabilidades com Melirínda, o povo não merecia um rei bêbado.

- Então agora serei o rei. - virei as costas e me afastei

Se tornar rei exigia muito de alguém, apenas a transição de um rei para seu herdeiro era exaustivo. Mantive em segredo até estar cem por cento certo de que seria o novo rei.

Reuni a todos os meus amigos, Maggie, William, Clara, Emma. Havia acabado de sair de uma reunião para analisar regras e assinar papéis.

Cada um teve sua reação, todos surpresos, mas cada um com sua reação.

Maggie se empolgou como se fosse a melhor coisa do mundo, Clara permaneceu em silêncio e deu um sorriso caloroso, Emma abaixou a cabeça e saiu, William foi atrás dela.

- Não preciso ficar aqui para perder outro alguém que eu ame Will. Me desculpe.
- Emma. Por favor.
- Espero que seus pesadelos passem.
- E por isso vai me deixar? Para me dar mais um?

Não que seja algo nobre mas fiquei escutando a conversa, tinha que saber com certeza se o que entendi estava certo. Parabéns Nicholas, conseguiu estragar tudo.

Depois do anúncio e de ver a conversa de Emma e William fui ao meu quarto. Não cheguei a entrar, me sentei encostado na porta e fiquei em silêncio.

- Eu te odeio. - William se sentou ao meu lado
- Porque Emma vai embora? Escutei a conversa.
- Não me importo. Ela não vai embora, vamos impedir.
- Como?
- Ela só precisa de uma amigo, chame Nathan. Vai dar tudo certo.

Cumpri com o plano de Nathan, o mais rápido possível o garoto de cabelos azuis apareceu no castelo. Contei a ele o que aconteceu e ele foi correndo atrás de Emma.

- Nick? Vamos Nick vamos!
- É perigoso Mike! E se cair?
- Então levanto.

Acordei no dia seguinte menos afobado do que antes no entanto ainda suando frio. Olhei para os lados inconscientemente procurando pela mão gelada que me tirava do transe.

Respirei fundo e torci para que o plano tivesse dado certo. Me levantei e fiz a rotina de sempre.

Tomei o café da manhã no quarto, coloquei uma jaqueta e fui até o estábulo. Peguei um cavalo, avisei os guardas e cavalguei para o cenário dos meus pesadelos.

Desci do cavalo na entrada da floresta e dali para frente fui a pé. Estava de manhã e o Sol acabava de surgir, o dia estava dourado, eram raros os sem neve, mas é claro que aquele seria.

Parei imediatamente quando vi um silhueta pequena em pé apoiada em uma árvore cantando baixinho. Ela estava afundando o dedo do pé na água tranquila.

- Nadava neste lago todos os dias quando era pequeno. Eu e Mike.
- Queria sair mais para explorar. É tudo muito bonito aqui.

Emma virou o rosto, com a luz do Sol brilhando nas marcas deixadas por lágrimas já derramadas ela parecia a mais bonita que já conheci.

- É aqui que meus "pesadelos" se passam.
- Como isso poderia ser o cenário de um pesadelo?
- São flashbacks na verdade, mas se tornaram pesadelos porque me e lembram de algo que nunca vai voltar. Entende?
- Não é o único de luto. - ela soa fria
- Não é a única que deseja fugir. - retruco
- Não desejo mais. Vou ficar. - ela esclarece
- Nathan te convenceu? - levanto uma sobrancelha
- William o fez. - ela se sentar com os pés na água
- Pensei que o odiasse. - sento-me ao seu lado
- Não se odeia alguém que fica do seu lado do jeito que ele o faz. - ela encara os pés
- Me desculpe. - murmuro
- Não é sua culpa, nem minha, não me importo de qualquer maneira, é sua responsabilidade.
- Não tenho que fazer isso sozinho. - a olho
- Ninguém tem que ficar sozinho, nem mesmo um rei, sei disso.
- Case-se comigo, não me perde e eu não a perco. - ela se vira para mim
- Não posso ser uma rainha. Muito menos sua esposa. - ela se levanta - Pode ser um rei mas não estamos em um conto de fadas, e não serei a sua rainha perfeita.

Normalmente Emma era sempre a garota animada que tinha palavras calorosas e vivia rindo de coisas simples para não chorar por tudo ruim que acontecia.

Mas desta vez ela estava tão fria que suas palavras me fizeram congelar.

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- Amyone