☾ uganda ☽

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Leigh-Anne olhou para trás, e observou seu povo - ou o restante dele. Cansados, com fome e depressivos. E tudo por causa daquela vadia metida.

Ela desceu de seu cavalo, que também estava com fome, e todos atrás pararam no mesmo instante.

- Vamos fazer uma parada. - A princesa falou alto o bastante para todos a escutarem. - Primeiro, preciso de números: deixarei uma pessoa para contar quantos ainda temos e uma para contar quantas perdemos no caminho. Após a contagem, homens procuram por comida para todos, mulheres lavam roupas e equipamentos às margens do rio e eu ficarei com as crianças, procurando utensílios para uma fogueira grande e lugar seguro onde todos possamos dormir.

- Princesa Leigh-Anne. - Um soldado se pronunciou, recebendo somente uma sobrancelha arqueada como permissão para falar. - E se não encontrarmos comida?

Leigh-Anne pegou sua lança e uma pequena bolsa de palha de cima de seu cavalo.

- Não podemos comer o cadáver de Jade Thirlwall. - Ela falou enquanto passava por ele. - Ainda. Comece a fazer a contagem de pessoas.

E, quando o soldado a obedeceu, ela seguiu para o rio ali próximo, se ajoelhando na margem e fechando os olhos.

- Nyame, deus do Céu, guarde a alma de meu pai. - Ela sussurrou, para que ninguém a escutasse. - Ele foi um bom rei, e eu sei pelas pessoas que me seguem hoje. Nyame, deus do Céu, guarde a alma de minha mãe, pois ela foi a melhor a existir. Nyame, deus do Céu, guarde o povo que restou comigo, e providencie a vingança contra aqueles que assassinaram os que se foram.

Ela abriu os olhos e respirou fundo, observando o rio. Providenciar a vingança contra Jade Thirlwall, a rainha do Egito, e a pessoa que mais deveria morrer na face da Terra. Ela ainda consegue ouvir os gritos de seu pai queimando, amarrado em uma estaca, e os egípcios gritando "salvem a rainha Jade".

"Eles podem tomar nossa cidade, mas ela não vai tomar toda a África" foram as palavras de sua mãe antes de mandar todo o exército que tinham contra os egípcios. Ela ordenou que Leigh-Anne fugisse com todos os civis e soldados em treinamento que pudesse, mesmo contra sua vontade. E era isso o que estava fazendo por um dia inteiro, com todos os cavalos que conseguiu, sem dormir e comer, sem parar em lugar nenhum - até agora.

E talvez ela não devesse ter parado, pois pensar no que aconteceu há quase duas noites atrás a fazia desmoronar. Ela perdeu sua casa, seu pai, sua mãe e sua dignidade, tudo de uma vez, e agora tinha que fugir do exército egípcio e de Jade e sua sede de conquistar a África.

Era humilhante.

- Princesa? - Um soldado se aproximou dela, a fazendo se virar para olhá-lo. - Desculpe interromper. Algumas mulheres lhe deram isso, como agradecimento.

Leigh pegou a vasilha que ele estendeu. Havia algumas frutas, legumes frescos e um pequeno jarro com vinho, e a garota se permitiu dar um pequeno sorriso antes de entregar a vasilha ao soldado outra vez.

- Devolva a elas, para que possam alimentar seus filhos. - Ela falou.

- Mas... Minha princesa, a caçada demorará, talvez até o anoitecer.

- Precisamos manter as crianças vivas. - Ela respondeu, se levantando. - Quem vai continuar nossa raça? Porque eu não estou disposta a nos deixar entrar em extinção tão cedo.

O soldado só assentiu, conforme Leigh se afastava dele e voltava para perto do seu povo, começando a organizar tudo como havia dito.

E, quando o anoitecer chegou, todos tinham que estar dormindo para recarregar as energias, mas só as crianças faziam isso. Os adultos continuavam acordados, uns chorando pela perda de familiares, outros fazendo orações, silenciosas ou altas, mas com súplicas de uma luz no fim do túnel.

E Leigh-Anne não conseguia dormir vendo tudo aquilo, percebendo que todas aquelas vidas estavam em suas mãos, e ela tinha que guiá-los até o fim daquele túnel. Ela se sentou perto à fogueira e começou a mapear as estrelas em um pedaço de pano que encontrou. Eles estavam indo ao sul. Se quisesse se vingar de Jade, Leigh-Anne precisaria ir ao norte, mas se quisesse salvar todas aquelas pessoas, a direção correta era essa.

Ela olhou por cima do ombro, para todas aquelas pessoas chorando e orando, e então de volta para o mapa de estrelas. Haviam dois mil adultos ali, trezentas e vinte e cinco crianças. Eles aprenderiam a lutar, mas a dor não iria embora mesmo em um lugar seguro.

- Zaire. - Ela chamou um de seus soldados, que apareceu imediatamente.

- Sim, Alteza? - O homem fez uma pequena reverência.

- Apronte todos os cavalos, guarde tudo o que sobrou de comida e apague a fogueira. Quando o sol nascer, vamos para o norte.

Zaire assentiu prontamente, desaparecendo outra vez.

- E Jade Thirlwall vai ter o que merece. - Ela murmurou, depois de jogar o pano na fogueira e o observar queimar.

empires;; lm auOnde histórias criam vida. Descubra agora