Capítulo 30

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Congelei. Com os olhos exageradamente abertos, abria e fechava a boca repetidamente sem conseguir dizer uma única palavra. Sentei-me. Fechei os olhos e respirei fundo consecutivas vezes, acalmando o meu coração com a minha mão colocada no peito. Aquela palavra. Como pode alguém ousar dizer-me isso sem me conhecer. Mas será que...? Não, não é possível. "O teu pai verdadeiro à muito se encontra desaparecido e por isso te pedimos que não cries esperanças". Será ele? Mas como? Oh, tantas perguntas, tirem-me daqui. Abro os olhos e olho diretamente para ele. Este sorria ligeiramente. Queria fazer o mesmo, mas do nada um sentimento de revolta surgiu. Se ele é o meu pai, porque nunca me procurou antes? Porque me abandonou quando mais precisava de uma figura paterna que me ajudasse a encontrar Davina, que me ajudasse a suportar a dor de ter perdido a minha mãe e o meu... pai? Céus, nem sei o que pensar. Respirei fundo mais uma vez antes de me levantar e falar.

- Quem és tu?

- Emily, eu sou o teu pai verdadeiro.

- Como esperas que acredite em tal? Prova-o.

E a figura alta começou a caminhar lentamente até mim.

- Eu posso mentir, mas as minhas memórias não e tu sabes disso.

Com receio, elevei as minhas mãos à sua cabeça e concentrei-me unicamente nele. Parecia um filme a passar diante dos meus olhos. O filme da sua vida. Parecia uma analepse, do presente para o passado. Estremeci assim que apareceu a figura da minha mãe. E então, de repente, vi umas mãos segurando um bebé. A minha mãe estava em frente sorrindo ligeiramente mas lavada em lágrimas. E então, outra memória surgiu. A minha mãe e outro homem, o John. Ambos observavam um bebé, eu, e pareciam intensamente apaixonados. E do nada, tudo se apagou. Voltei à realidade e de novo congelei. Era verdade. Ele era o meu pai. Ainda assim, o sentimento de revolta permaneceu.

- Eu sei que pode parecer de mais para ti neste momento e por isso vou deixar-te pensar. Mas espero que um dia queiras conhecer-me e saber as razões pela qual eu nunca te procurei após separar-me da tua mãe. Tens aqui o meu número. Até um dia Emily.

Largou um simples papel irregular, com o seu número de telemóvel escrito no mesmo. Guardei-o no bolso e observei-o de novo, quando este estava a sair. Olhou-me de novo antes de abrir a porta principal e finalmente saiu. Olhei em volta e todos permaneciam calados. Por momentos esqueci a presença deles. Parecia que nada disto tinha sido real, mas foi. O papel permanecia no meu bolso e intencionava deixá-lo lá, até ter a coragem de o usar.

- Emily? Estás bem? - Hayley pergunta.

- Sim. Apenas estou em choque. Não estava à espera de isto vir a acontecer um dia. Eu vou sair, preciso de estar sozinha.

Saí então pela noite fora. Vagueei pelas ruas inundadas de pessoas e música, sempre segurando o papel amarrotado no bolso. Entrei num bar e sentei-me num banco junto do balcão. Numa voz baixa peço um copo do melhor bourbon que tinham. Afogada pela bebida e pelos pensamentos, olho de novo para o papel. Pego no meu telemóvel e digito o número, mas rapidamente bloqueio o telemóvel e desisto da ideia. Mais um copo. Mais um pensamento. Mais uma noite sem dormir.

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