Herege

Capítulo 37

A manhã chegou bem lentamente. Não consegui dormir mais que 1h e estava completamente exausta. Não tinha vontade nem coragem para sair de casa mas quanto mais tempo ficasse, mais tempo teria para pensar naquilo que mais queria ignorar. Levanto-me bem lentamente e vou direta para a casa de banho tomar um duche.
Um dos desejos da minha mãe era que um dia me tornasse médica, tal como ela foi. Então, durante algum tempo e com recursos a livros, ela me ensinava simples coisas que um dia deixou de o fazer. Durante a minha estadia em Mystic Falls, desenvolvi ao máximo a capacidade de realmente salvar vidas sem utilizar qualquer tipo de magia, apenas estudando e treinando intensamente numa escola bem prestigiada. E sinceramente é disso que preciso agora.
Depois do duche, despachei-me a vestir e saí o mais rápido possível. Hoje vai ser o dia, o dia em que tudo vai mudar.

As últimas semanas têm sido extremamente difíceis de encarar com alguma alegria. Neste momento o que me deixava feliz era este emprego no hospital local. Ver a recuperação de pacientes é uma gloriosa satisfação. Mas todos os dias eu choro até adormecer. Choro por saudades, pelos arrependimentos, pela dor. É uma luta constante levantar-me da cama todas as manhãs sabendo que não os verei, sabendo que não a poderei abraçar, sabendo que não o poderei beijar. Mas eu escolhi isto e vou até ao fim. Não posso voltar atrás e fazer as coisas de outra forma ou mesmo proteger os meus pais daquela tortura mas posso mudar, para melhor. Mudar para ajudar outras pessoas. O quanto eu dava para poder falar com a minha mãe uma última vez. Iria pedir desculpa por tudo. Iria principalmente dizer-lhe o quanto a amo.
Sei que parece extremo esta fuga da realidade mas não sinto que mereço a vida que tinha em New Orleans, não depois de tudo o que aconteceu. Não depois de tudo o que fiz. Parece que caíra uma avalanche de memórias que encheram a minha mente até ao limite. E todas as noitas eu revejo isso. Todas as noites os meus demónios atacam sem dó nem piedade e por cada noite que passa sinto-me a afogar cada vez mais e as chances de poder voltar à superfície são cada vez mais escassas. Mas tenho que voltar reerguer deste tormento por conta própria e perceber que tenho uma eternidade para mudar.

5 anos. 5 anos se passaram desde que saí de New Orleans e nunca mais tive notícias de ninguém. Talvez tenham desistido de mim. Talvez tenham seguido em frente com as suas vidas. Talvez seja verdade que a distância leva ao esquecimento.
As noites mal dormidas ainda permanecem na minha vida e as memórias ainda me assombram à noite. Mas tudo tem sido mais fácil de lidar. Cada vez que penso neles fico com um nó na garganta e os meus olhos humedecem sem dar conta. Mas sinto que estou mais próxima de poder voltar para eles. Obviamente que nada do que fiz desapareceu mas parece que o peso que carregava suavizou e sinto-me mais forte. Viver uma vida de humano fez-me perceber o quão importante é a vida, ainda que esta seja eterna para mim e que o "para sempre" realmente existe e faz sentido.
Neste momento estou no hospital de Atlanta. Pronta para ir examinar um paciente, ouço alguém a chamar-me.

- Dra. Emily?

- Sim?

- Está alguém à sua espera na receção.

- Quem quer que seja diga para esperar. Estou ocupada.

E quando estava prestes a virar as costas ele insiste.

- Dra. Emily é importante. O cavalheiro disse exatamente que se não a trouxesse a ele que eu tinha que me matar.

Arregalei os olhos e respirei fundo. Olhei atentamente nos olhos dele e percebi que tinha sido compelido.

- Não te preocupes, eu vou lá.

Caminhei nervosamente para a receção. A cada passo que dava o meu coração palpitava sem moderação. Mal cheguei não consegui ver a cara, mas percebi imediatamente quem era. E para responder às minhas dúvidas, ele vira-se para mim. Klaus.

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Capítulo novo!!!!

Desculpem a demora e também estes avanços no tempo (penso que seria menos monótono assim).

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