Capítulo 47

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Semanas se passaram e hoje era o dia em que Caroline iria escolher o seu vestido de casamento. Todas estávamos entusiasmadas e Caroline ainda mais. Notava-se um certo nervosismo nela, ainda que o negasse. Afinal, é um dia importante, mesmo para seres imortais. Como será estar casada com a pessoa que mais amas para sempre (literalmente)? Suspirei. Não que não esteja feliz com Klaus. Eu estou, muito. Mas tenho medo que um dia tudo acabe. Sacudi estes pensamentos e deixei-me levar pelo entusiasmo de Caroline. 

Estamos num loja de vestidos de noiva mais conceituada da região. Era praticamente o paraíso de cada mulher que fosse casar. Vestidos de todos os feitios, adequados ao ideal de cada mulher. Observamos durante o que parecia tempos infinitos Caroline experimentando vestidos. Em determinado momento, ela extasiou assim que viu um vestido que conseguia realçar ainda mais a sua beleza natural. Soube que era o vestido ideal no momento em que ela sorriu docemente e deixou cair uma lágrima. Corremos até ela, abraçando-a e lançando elogios ao vestido. Caroline sorria.

O dia passou e finalmente chego a casa. Os olhos pesavam e a minha cabeça latejava depois do dia de hoje.  

- Boa noite, filha. - O meu pai fala, ao mesmo tempo que dá atenção ao seu livro.

- Boa noite.

- Então como correu? 

- Correu tudo bem, pai. Caroline está muito feliz. - A minha voz falhou assim que pronunciei a palavra "feliz". 

Suspirei amargamente. 

- Emily? O que se passa?

- Nada pai, vou dormir. Até amanhã.

- Não, Emily. Espera!

Não dei atenção. Segui para o meu quarto e deixei-me largar na cama. Sabem aqueles dias em que te sentes sem motivação nenhuma? Aqueles dias em que te sentes inútil, sem objetivos nenhuns. Aqueles dias em que nada te agrada e te faz feliz. Aqueles dias em que dá vontade de desistir de tudo. Mas depois, no dia seguinte, tudo volta à normalidade e dás por ti a soltar um pequeno riso pelos ridículos pensamentos e sentimentos que passaram por ti sem lógica alguma. Bem, eu estou num desses dias. Porquê? Não sei. Outra incongruência: nunca há razão, pelo menos assim parece. Fecho os olhos por largos segundos tentando encontrar alguma causa para me sentir assim, mas foi em vão. Leves batidas são ressoadas. 

- Entra. 

O meu pai entra calmamente e senta-se ao meu lado na cama. Ele não diz nada, apenas olha para mim analisando o meu olhar partido. 

Sento-me também, encostando-me na cabeceira da cama. 

- Porquê, pai? Porque me sinto assim? Eu estou feliz, não estou?

- Emily, querida. Só tu podes responder isso. Mas diz-me, o que se passa?

- Eu não sei. Eu realmente não sei. Eu sinto sempre falta de algo. Eu sinto falta da minha mãe. Eu sinto falta do meu pai, bem, de John. Eu sinto falta... de Klaus. 

- De Klaus? Vocês não estão juntos?

Estamos? Eu sinto um afastamento entre nós. Será paranóia minha? Talvez. Será isto uma fase? O amor que sinto por ele é inquestionável, mas e o dele? Será que ele sente o mesmo por mim? Será que ele me ama tanto como eu o amo? Não sei a razão destas inseguranças. Ou talvez o saiba. Eu preciso que constantemente as pessoas me lembrem que eu sou amada, que eu valho a pena. Aliás, eu não preciso só de palavras. Eu preciso que me mostrem isso através de ações e, por vezes, Klaus se esquece disso. 

- Querida, o que quer que sintas, não deixes que isso decida o teu futuro. Se há algo que te incomoda, fala. Não deixes isso só para ti. Quanto ao resto, terás que saber lidar com a saudade de Liz e John. Afinal, tu és uma mulher forte e sei perfeitamente que irás conseguir. Por vezes podes não conseguir o suficiente, mas lembra-te, amanhã é outro dia e eu estarei sempre aqui para ti. 

Ele deposita um beijo na minha testa e abandona o quarto, deixando-me sozinha com os meus pensamentos. Deixei-me, por fim, levar pelo cansaço. 

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