Capítulo 13 -parte 2

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Ele se aproxima e limpo as lágrimas tentando disfarçar um pouco,mas seus olho estão cravados em mim.

-Quando te chamei para passear por aqui, era nós dois, porque não me esperou? –Dá um meio sorriso.

-Queria pensar um pouco. -Dou de ombros nervosa. 

-Precisamos conversar. -Senta ao meu lado. E o meu coração para. 

-Pre-precisamos?

 -Sim. Você não pode mais carregar esse fardo no olhar sozinha, Ane. Há dias venho te vendo se isolar e espero para ouvir o que anda fazendo você ficar tão tensa, mas não me fala nada, nem uma pista. Quando amamos confiamos na pessoa então confia em mim, meu amor. -Toca os meus cabelos enrolando uma mecha no dedo.

 -Sim, eu sei. -Continuo olhando o lago que parece calmo como sempre e alheio a tempestade que se forma dentro de mim pronta para destruir tudo. 

-O que você tem para me falar é tão sério assim que não pode me olhar nos olhos? -Engulo em seco limpando as lágrimas. 

-Se eu te olhar nos olhos perco toda e qualquer coragem de contar tudo quer preciso dizer. -Ele entrelaça os nossos dedos e aperto a sua mão querendo absorver o máximo seu calor. -Vai doer, Fred. Vai te ferir e quebrar o seu coração, eu sei. Mas é preciso.

-Não quero saber. Se for para destruir o que temos, não conta. -Noto um sofrimento tão grande na sua voz que me sinto pior.

 -Eu queria muito poder ignorar tudo e seguir a nossa vida, mas não posso. Não seria justo com você e com Lise. -Ao falar o nome da nossa pequena ele me encara, e respiro fundo. 

-É sobre o pai biológico dela? -Vejo insegurança no seu olhar. -Ele voltou, é isso? -confirmo porque de certa forma é verdade. -Ótimo, assim eu quero logo a cara desse maldito irresponsável! Você... ainda o ama? -seus olhos buscam os meus procurando uma resposta. 

-Fred... Você lembra aquele dia que tomamos o nosso primeiro porre juntos? -Mudo de assunto e ele me olha confuso. 

-Sim. Ficamos tão bêbados que mal conseguíamos ficar em pé. Mas o que isso tem a ver com o que te perguntei? -Toco em seu rosto sentindo as minhas lágrimas caírem. -Naquele dia fizemos amor. Estávamos tão bêbados que fomos irresponsáveis e não nos prevenimos, acredito que você não lembra, mas eu -a menos bêbada- lembro todos os detalhes daquela noite porque foi nela que... -A cor foge do seu rosto, meu coração acelera tanto no peito que fica difícil respirar.

 -Não termina. Não... Não fala o que eu acho que você vai falar! -Há lágrimas e dor no seu olhar, ele parece perdido e inquieto compartilhando a mesma agonia que eu. Quase posso ouvir o som do seu coração quebrando em mil pedacinhos. -Foi naquele dia que concebemos a Lise. Você é o pai biológico dela, Fred. -Falo em meio aos soluços. -Ela é sua, meu amor. Nunca houve mais ninguém além de você. 

Um silencio se instala entre nós dois e o vento frio mexendo nas folhas é a única coisa que faz barulho agora, quase posso ouvir a respiração tensa dele. 

-Como você pode fazer isso comigo, Ane? Como pode esconder que a tínhamos uma filha juntos, porra! -Grita em meio às próprias lágrimas. -Você sabe o quanto está doendo aqui? -Bate no peito perto do coração. -Minha filha, minha filha! -Fred chora e eu não aguento ver seu sofrimento. 

-Eu não podia te dizer. -Acrescento gritando de volta. -Você acha que foi fácil te esquecer tendo um pedaço seu crescendo dentro de mim? Você acha que é fácil todos os dias ter que ver a minha filha chamando o pai dela de tio? Pois vou te dizer, não é! Mas eu não podia te contar. Fui obrigada a esconder isso de você, Fred, porque eu te amo, mas amo muito mais a minha filha! 

-Nossa filha! Nossa! Não roube mais isso de mim. Não tire o restante do direito que eu tenho. -Ele parece descontrolado.

-Não fui eu que roubei esse direto de você. Acha que foi fácil? Eu tinha acabado de fazer 18 anos, Fred, tinha um monte de planos e de repente me vi grávida e sozinha! 

-Porque quis. -Fala frio. -Sabe muito bem que eu assumiria as minhas responsabilidades. Eu jamais deixaria a minha filha... -Interrompo-o. 

-Ah... Que responsável você é. Tão responsável que não pode manter a única promessa que me fez. -Falo logo tudo de uma vez porque se vamos por tudo a pratos limpos, que seja agora. -Eu estava pronta para te contar, mas sabe o que aconteceu? Cheguei na festa e você estava beijando outra! E depois disso tudo ficou pior! Eu via mesmo a distância como você tratava a Gabi friamente. Eu não queria nada daquilo para Lise. Ela merecia amor, carinho, atenção e cuidado. -Controlo a minha voz limpando as lágrimas. -E o ódio que você sentia por mim não deixaria você ama-la, Fred. 

-Nada disso justifica o que você fez. Nada! Você tirou os meus direitos, Ane. De todas as dores que já senti na vida, nenhuma delas se compara com essa que estou sentindo agora. Estou rasgado por dentro. O meu coração está dilacerado. -Tento secar as lágrimas do seu rosto, mas ele não deixa. 

-Eu também estou! Cada minuto que eu via vocês dois juntos sem saber a verdade me matava por dentro! Cada vez que Lise te chama de tio, faz o meu coração sangrar. Porque... você é o pai dela, Fred! Você me deu o motivo para levantar e lutar todos os dias! Ela não merece chorar cada vez que um coleguinha fala que tem pai e ela não. Mas não fui eu quem escolheu assim! Não foi! -Choro desesperada quando vejo o mesmo ódio que vi em seus e lembro a ameaça da bruxa. 

-Foi você sim! -Grita ensandecido. -Você nos roubou todos esses momentos! Se tem uma culpada aqui, essa pessoa é você Ane! Eu... eu não consigo entender... como pode ser tão cruel? 

-Não fui eu! Não fiz isso... por favor, acredita em mim! -seguro sua mão, mas ele retira como se tivesse dado choque.

 -Acreditar em você? Como? Me fala como se tirou o meu direito de ser pai? O meu direto... meu Deus! Perdemos tanta coisa por causa do seu egoísmo! -Parece quebrado, desconsolado e uma raiva imensa toma conta do meu corpo.

-Egoísta? Eu? -Me aproximo dele e aponto o dedo. -Você não sabe de nada! Comi o pão que o diabo amaçou para ver a minha filha saudável e a criança linda que ela é! Quantas noites fiquei de vigília e ficaria outras mil para cuidar dela. Você não tem noção de tudo que abri mão para poder cuidar da Lise em paz. Não me chame de egoísta, sem conhecer as minhas lutas, ou as cicatrizes que carrego no peito por causa das pessoas que eu amo... inclusive você! -Termino batendo o dedo no peito dele em prantos. 

-Quem ama não mente. Não faz essas coisas! -Desvia o olhar do meu como se não suportasse me olhar. 

-Tem razão. Quem ama protege. Abre mão da sua felicidade por causa dos filhos e foi isso que fiz. Eu te deixei ir embora para outro país para que a  Lise pudesse nascer. -Confesso esgotada. 

-Como?! 

-Queriam tirá-la de mim, Fred. Eu... eu não podia deixar! -Soluço sentindo uma dor imensa só de pensar. -Eu poderia viver sem você, mas não podia deixar que tirassem o que me restou depois de tudo. 

-Não estou entendendo, Ane! Como?! Quem?! Que ser humano teria coragem de fazer uma coisa dessas? -Limpo as lágrimas e respiro fundo olhando dentro dos olhos dele sabendo que a ferida aberta em seu peito sangraria um pouco mais. 

-Foi a sua mãe, Fred! -Fecho os olhos para não vê a sua dor. -Lise estava nasceu com doenças respiratórias e precisava de tratamento urgente ou não iria resistir.  -Minhas mãos tremem e aperto-as sentindo que estão geladas. -Era a vida dela, ou o nosso amor. Então abri mão de você e preferi  ter um pedacinho seu pra sempre! -Termino baixinho quase sem voz. 

Abro os olhos e vejo Fred com os olhos arregalados, somente lágrimas caiam deles. 

Podia quase ver o quanto ele estava machucado por dentro e mesmo sem saber se iria aceitar, o abracei com força para que soubesse que sua dor era minha também... 

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