Capítulo 2

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"Não, não quero mais gostar de ninguém porque dói. Não suporto mais a morte de ninguém que me é caro. Meu mundo é feito de pessoas que são minhas – e eu não posso perdê-las sem me perder."

Clarice Lispector

***

MUSICA DO CAPÍTULO:

  Por que você não vem e deita aqui do meu lado?
Acende a luz da noite
Vamos ficar acordados

Voar no mar de estrelas
E desvendar o infinito
Se embriagar de amor
Dizer o que nunca foi dito

Ane

―Olha Mamãe, o tio Fred touxe uma bebê que nem eu! ―Lise saltita animada batendo palminhas com um sorriso contagiante.

―Calma, Lise, desse jeito você vai ter um troço! ―É impossível não rir dela quando fica assim. Fred se aproxima rindo e se abaixa para pegá-la também nos braços, mas minha atenção se concentra na menina que é notavelmente a cópia dele.

É ela... a filha dele, tenho certeza!

Mas... como? Não estou entendendo nada! Ele mesmo havia me dito que não tinha contato com ela, que não queria ter aproximação e isso foi a causa de termos nos distanciado. Fred sabia que eu estava sofrendo na época por causa do "pai" de Lise e estava agindo igual a ele, como um irresponsável, descontando na filha o desgosto que sentia pela mãe.

―Oi, tio Fred! A mamãe me touxe hoje. Já sou uma mocinha. ―Conta com orgulho e não consigo evitar um sorriso.

―Oi boneca, como você está? O tio estava com muitas saudades... das duas. – Sorri de lado.

―Oi, Ane. –Me abraça meio desengonçado por causa das meninas.

―Oi... Quem é essa princesa? –A menina fica tímida e me olha curiosa. ― É muito linda.

―Mocinhas, essa daqui é a Gabi, minha filha. Viemos passar um tempo por aqui.

―Obaaaa! Vem Gabi, vamu brincar? Tá com fome? Eu touxe duas munecas. –É impossível não ficar orgulhosa da minha pequena. Gabi parece acanhada, mas pega na mão de Lise e sentam na manta estendida enquanto eu e Fred observamos em silêncio.

―É... Parece que algumas coisas mudaram. –Falo com um meio sorriso. Ele não sorri, parece concentrado na filha que interage com a Lise ainda que timidamente. ― Está tudo bem? ― Nega sem dizer uma palavra.

―Você já se pegou olhando em várias direções sem saber pra onde seguir? Já se sentiu completamente perdida sem saber o que fazer, Ane? ―Me olha nos olhos.

Como flashs em minha memória me leva ao dia que descobri que estava grávida de Lise. A rejeição do crápula,a mãe dele oferecendo dinheiro para que eu abortasse...

―Já... ―Respiro fundo. ―Quem nunca se sentiu assim, não é mesmo? O que aconteceu?

― A louca da Mabel sumiu e deixou a menina com uma assistente social e pediu para que me procurasse, pois, não tinha condições para cuidar dela. ―Engulo em seco. Não esperava por isso.

―Como ela pode fazer uma coisa dessas com a própria filha? ― Pergunto horrorizada.

―Você sabe que ela é uma mulher egoísta. Só pensa em dinheiro... –Dá de ombros e parece esgotado. ― A menina está abaixo do peso para sua idade, levei-a na pediatra antes de vir. ―Vejo seu olhar se afastar para longe. ―Trouxe Gabriela pra cá, para cuidar dela, mas não sei nem por onde começo.

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