5. Sem promessas

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No dia seguinte, meu telefone estava cheio de mensagens do Alex. A madrugada inteira ele escreveu coisas que passavam do ressentimento à raiva. Por alguns segundos, não me lembrava do motivo da indignação nas mensagens. Além de ter me visto com outra pessoa, ele também teria que aceitar minha demissão. Eu deveria ter feito isso há muito tempo, independente de ter alguém novo na minha vida ou não, por puro amor próprio.

Levantei da cama, dei um beijinho no Matt ainda dormindo e fui pra casa. Precisava pensar,ficar sozinha. Eu e o Alex precisávamos conversar, mas meu orgulho não permitia procurá-lo. Eu estava me sentindo no topo do mundo e não queria ter que lidar com as complicações da nossa relação mal resolvida naquele momento.

À noite, meus pais inventaram um jantar casual sem motivo pra que Matt viesse de novo com os pais dele. Não era nada especial, nossos pais nem sabiam do nosso revival, era só pra bater papo mesmo. Pedi que minha mãe não se preocupasse com os últimos detalhes, porque nós dois íamos cuidar das coisas na cozinha. Ele toda hora aproveitava pra me roubar uns beijos.

— Você está se aproveitando da situação, né? Eles não sabem da gente. — cochichei enquanto me afastava.

— O que tem "a gente"? Eles estão doidos pra ver a gente junto de novo.

— Tá bom, mas tenta pegar leve. Não quero que eles saibam ainda. — eu disse.

Enquanto a gente falava isso, parou um carro em frente a minha casa.
Matt estava levando umas coisas pra sala e na volta pra cozinha ouviu que bateram na porta. Ao abrir, encontrou Alex.

— E aí? Tudo bom? Alex, né? — Matt disse, estendendo a mão pra cumprimentar.

— Isso... Você é quem? — contrastando com a gentileza do outro.

Eles se apresentaram e o Matt disse que lembrava dele do dia do boliche. Eu, da cozinha, ouvi:

— Amor, é o Alex. — ele gritou da porta.
Ele nunca me chamou assim. O Alex teria certeza que não era só um cara com quem eu dormi na noite do boliche. Estava na casa dos meus pais me chamando carinhosamente, só podia ser meu namorado. Mas não tínhamos terminado! Já que eu não atendia às ligações dele, ele acabou dando um jeito de me encontrar.

— Alex, que bom te ver. Entra! — tentei ficar calma e agir naturalmente.

Percebi que ele estava muito desconfortável depois que Matt se aproximou... acho que eu não sentia meus pés no chão naquela hora, pensei estar num sonho e, com sorte, logo iria acordar . Nós três conversamos por uns 5 minutos, mas eu nem conseguia assimilar o que estava sendo falado.
Ele se mostrava impaciente por estar ali e disse:

— Cara, se você não se importar, tenho algumas coisas de trabalho para falar com ela. Desculpa. Você pode nos dar licença? — pediu um tempo , já que não conseguiria dizer na frente de Matt o motivo que o trouxe ali.

— Claro! — Matt nos deixou, voltando à cozinha.

Eu e o Alex nos olhamos sem falar nada...

— Podemos conversar lá fora? — ele perguntou bem sério.

Paramos perto do carro dele e aguardei que ele falasse primeiro. Por antecipação, eu me sentia na defensiva como naqueles momentos em que a gente faz bobagem e é chamado atenção pelo pai. Em algum lugar dentro de mim eu carregava esse peso na nossa relação. Pra tentar combater isso, eu pensava "sou adulta, dona da minha vida e não tenho que me submeter ". Mas confesso que fiquei apreensiva quando ele me olhou e falou com a voz baixa e cheia de rancor:

— O que está acontecendo?

Eu respirei fundo e respondi:
— Eu só estou seguindo com a minha vida, Alex.

— Você não atende às minhas ligações. Não responde às minhas mensagens. Tentei inúmeras vezes falar com você. — subindo o tom de voz.

— Sim, mas eu não queria falar com você! Eu quero falar uma coisa... eu... — a insegurança me dava um nó na garganta — Quero que você siga sua vida enquanto estou vivendo a minha... Bem longe de você.

— Não fala besteira. Quem é esse cara? — cruzou os braços.

— Um amigo meu — desviei o olhar.

— Amigo? Você quer me fazer de idiota? Eu vi vocês no boliche aquela noite se agarrando e ele já está te chamando de "amor". Isso é sério?

— Porque você se importa? Esqueceu que é casado. Você tem compromisso com outra pessoa, porque eu tenho que ser fiel a você? — tomei coragem para enfrentá-lo.

— Sim, eu sou casado e você sabe muito bem desde o dia em que nos conhecemos. Porque isso te incomoda agora? — ele tentava jogar a culpa em mim.

— Não quero mais ser sua reserva, Alex. Não quero mais fazer parte da sua vida. Me demiti porque não daria certo continuar trabalhando com você depois de tudo que passamos.

— Não acredito nisso. — levou às mãos ao rosto demonstrando impaciência.

— Está vendo? Você não consegue me ouvir. Não sou sua, Alex. Estou cansada dessa vida!

Os olhos marejados mostravam que ele se recusava a aceitar.

— Escuta, não posso ficar sem você. Você sabe que as coisas não vão bem em casa, não quero mais ficar preso a esse casamento.

Eu fiquei surpresa em ouvir isso pela primeira vez, mas porque só agora? Só mesmo pra me confundir e continuar me enrolando por mais alguns anos.

— Agora isso não me interessa mais. Chega de promessas, Alex

Dei as costas e voltei pra casa. Enquanto saí andando, ele gritou:

— Ei, você não vai conseguir se livrar de mim tão fácil.

Eu fiquei com muita raiva de mim porque realmente, depois de tanto tempo, deixá-lo não era fácil e antes de entrar no carro, ele falou baixinho rindo e apontando pra mim:

— Você é minha!

You are enoughOnde histórias criam vida. Descubra agora