Matt
Se a Dani não tivesse gostado, não teria se interessado em sair comigo outras vezes. Fui ganhando confiança com isso. Minha relação com ela servia mais pra me avaliar do que qualquer outra coisa. Não me exigia afeto e da minha parte também não tinha sentimentos para termos um relacionamento convencional e seguíamos o último ano da escola assim. Era tão cômodo que eu não me esforçava para conhecer outras garotas no sentido sexual. Tinha criado uma certa dependência dela para experimentar coisas novas e ainda assim, deixo bem claro que não estava apaixonado. Ficar com outra pessoa àquela altura exigiria começar tudo de novo: conhecer, conversar, chamar para sair e quem sabe dar sorte de conseguir algo mais. Não queria me expor e arriscar a levar um não.
Na noite de formatura não poderia ser diferente, eu e Dani transamos. Ela me escolheu para ser seu par e não tive nenhum problema em aceitar, porque ninguém mais se interessaria em ir comigo. Estranhamente passamos a festa separados, pois Dani já estava com outro cara. Ele foi acompanhante da amiga dela e eu, no fundo desconfiava que ele saia com as duas. Sem querer me aprofundar muito na teoria de amor livre da Dani, me encontraria com ela, como uma forma de despedida depois que a festa acabasse.
Eu iria estudar a duas horas de casa, na Faculdade de Jornalismo e Comunicações da UF — Universidade da Flórida — e Dani ia mudar para Boston para estudar Biologia Marinha. Foi bom passar a noite com ela pela última vez e, de novo, ao invés de levar pra um lugar decente, ficamos no meu carro. Infelizmente, não no mesmo lugar da primeira vez, porque a escola inteira conhecia aquele mirante como o lugar oficial dos amassos. Naquela noite, teve lotação máxima!
Dirigi para um lugar afastado onde pudéssemos ficar sozinhos e posso dizer que nos despedimos devidamente. Eu estava pronto pra faculdade!
(...)
Havia mudado para o campus mesmo estudando não muito distante de casa. Isso me ajudaria a trabalhar melhor minhas inseguranças e timidez pra falar com pessoas. Eu sou determinado quando encasqueto com uma coisa. Ainda que mudanças me incomodem um pouco, eu tento enfrentar. Como eu poderia ser um jornalista tendo medo de falar?
Consegui uma vaga num quarto com um roomie estudioso e na dele. O cara era super introspectivo e demorou um tempo até que tivéssemos uma conversa de mais de um minuto. Contudo, Adam me deixava à vontade e respeitava meu espaço. Preferia assim do que dividir o quarto com um daqueles idiotas que só pensavam em festas, drogas e bebedeira.
Cheguei ao campus duas semanas antes do início das aulas para adaptação e trotes. Não tínhamos como fugir, eu achei que estava preparado, mas ficar pelado até o amanhecer dentro da piscina com as mãos amarradas tentando desatar os nós não estava escrito no programa da faculdade. Comemorei por não ter sido o último a conseguir sair e por não terem aparecido todos os calouros naquela festa. Principalmente, a menina Sem Nome da aula de Sociologia da Comunicação.
Já falei pra vocês sobre ela? Acho que já a conhecem. Os cabelos escuros se moviam no longo rabo de cavalo como pêndulo de um lado para o outro enquanto andava graciosamente pelos corredores do prédio de Comunicação. Ela tinha me chamado atenção antes mesmo que eu soubesse que estaríamos na mesma sala. Eu estava riscando círculos em volta do campo de data na parte superior do caderno pra matar o tempo e quando percebi o movimento de outros alunos entrando na sala, fiquei hipnotizado por ela. Parecia andar em câmera lenta. Suas formas generosas se desenhavam dentro da camisa xadrez que usava aberta sobre a camiseta branca e uma calça justa imitando jeans. Não conseguia esconder o desenho das curvas conforme andava. No rosto, não tinha nada além de brilho nos lábios e os cílios volumosos pareciam ser naturais. Nunca nenhuma garota tinha me deixado tão desconcertado desse jeito. Com a Dani era outra coisa, me deixava excitado. Mas a minha garota Sem Nome, eu queria tocar, beijar aquela boca que a cada dia tinha uma cor diferente e não menos deliciosa. Por semanas, a observava disfarçadamente na cafeteria e ficava fora do ar nas aulas de quinta-feira, estudando-lhe de cima a baixo.
Sentada em uma das cadeiras à frente na fileira ao lado, eu poderia admirá-la melhor. Ainda não tinha feito amizade com ninguém e nos intervalos, nem sempre saía de sala. Tinha sempre à mão um livro não relacionado ao conteúdo do curso, na maioria das vezes romance e isso me encantava. No dia que resolvi falar com ela, estava especialmente linda. Sentou-se numa fileira diferente do habitual, mais próxima à janela para pegar sol. As manhãs eram frias naquela sala e ela parecia apreciar o calor externo, olhando pro gramado lá fora. Notava-se o bronzeado saudável que tinha na pele morena, com tanta vida que parecia ter um brilho dourado. Ela fechou os olhos para aproveitar os raios de sol antes que mudassem de lugar e a sala voltasse a ficar cinza e gelada. O professor de Sociologia interrompeu os seus pensamentos e os meus quando deu início à aula falando sobre análise de textos em dupla.
Eu não tinha me esforçado tanto em conhecer gente nova até então, não tinha ido a nenhuma festa após o fatídico "banho" de piscina temendo que lembrassem de mim e usava o tempo livre estudando, lendo e pensando nela. No fundo, eu ainda era um cara tímido e iria colocar-me à prova naquele momento.
— Formem duplas para a análise com o colega ao lado. — disse o Sr. Jonas.
Esbocei um riso de felicidade sem que ela percebesse e me aproximei carregando a cadeira.
— Oi, meu nome é Matthew, mas as pessoas me chamam de Matt. — Estendi a mão para cumprimentá-la.
— Oi, Matthew! Você quer ler seu texto sozinho e depois discutir ou quer que a gente leia junto? — disse ela apertando minha mão, sendo direta ao ponto e ignorando as apresentações. Por isso ainda me refiro a ela como Garota Sem Nome, mesmo sabendo como se chama.
— Ah... bem... do jeito que você achar melhor. — respondi sem graça com a sua objetividade.
— Certo, então vamos ler separadamente. — disse apressada.
Ela pegou seus óculos na bolsa, me entregou o segundo texto para ler e começou sua parte desprezando minha presença ali. Porque meu peito estava disparado? O mínimo movimento dela me gerava expectativa de vencer a vergonha e conversar algo mais do que os princípios da Comunicação. Não era uma grande ironia o fato de eu não saber me comunicar? Em nenhum momento ela me deu abertura pra falar coisas além daquele trabalho em aula. Nas minhas poucas investidas, só recebia um aceno positivo com a cabeça pra ver se eu me mancava e parava de falar. O sol da manhã não foi suficiente para aquecer aquela frieza!
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You are enough
Fanfiction*CONCLUÍDA* Quando o amor der uma segunda chance, melhor não deixar passar. Ally deixa um longo relacionamento abusivo e complicado e volta para a casa dos pais quando reencontra seu ex-noivo e tem uma nova oportunidade de reviver o amor do passado...