You are enough

12. Confusa

Comecei a conhecer a rotina nova-iorquina naquelas primeiras semanas. Eu passava a maior parte do dia sozinha. Em vez de ficar no apê, ia dar uma volta pela cidade. Não dava pra pirar nas compras porque não podia gastar minhas reservas. Estava me organizando para entregar o apartamento em Los Angeles e pegar minhas coisas. Saí de lá pra passar apenas o fim de ano e a vida deu uma reviravolta.

Num daqueles dias , demorei um pouco mais na rua e resolvi fazer uma surpresa. Pra não fazer o jantar, passei no restaurante que ele gostava e levei pra casa. Cheguei no prédio, peguei o elevador e ao abrir no andar uma moça loira bonita se despediu dele na porta e saiu com uma caixa. Olhei para dentro rapidamente e vi alguns objetos pessoais. Fiquei um pouco desconfiada, sem saber o motivo. Ela passou por mim sem falar e ele também não disse nada. O elevador desceu e eu entrei muda. Depois de fechar a porta, ele disse:

— Tudo bem?

— Eu não sei. Está? — Ele quis rir, mas percebeu o meu humor.

— Essa menina que passou por você agora é a Mandy. — ele disse.

— E quem é ela? — não deu pra evitar minha cara feia.

— É uma colega da redação. — isso não me soava bem.

— Eu vi uma escova de dentes na caixa que ela levava?

— Ela veio buscar as coisas dela — ele sabia que a situação ia piorar depois do que disse.

— As coisas dela? Por que? Por que ela tinha escova de dentes aqui, Matt? Ela morava aqui com você?

— Por alguns meses, sim.

— Meses? É sério isso? — não acredito que ele não tinha me contado isso antes.

— Sim, mas já acabou. Não tem mais nada entre a gente. Não tem que se preocupar com isso. — se ele tentou me acalmar com isso, não conseguiu.

— Obrigada por me contar! — e mudei de assunto. — Eu trouxe o jantar. — Fiquei chateadíssima com aquela mulher me ignorando no corredor. Ela era linda!

Durante o jantar, fiquei muda de vez. E mal consegui dormir pensando em como teria sido esse namoro dos dois. Fiquei com ódio dele não ter me contado e não ter ao menos me apresentado à garota.

(...)

Antes de ir trabalhar, ele deixou o telefone em cima da mesa. Tocou e ele pediu pra que eu atendesse. Era a tal. Quando ela ouviu minha voz, desligou. Em seguida, veio uma mensagem:

"Obrigada por tudo. Foi ótimo! Sempre sua, Mandy"

Alguns dias depois, eu ainda estava estranha. Sim, eu fico remoendo e sofrendo com suposições. Falou comigo num sábado à tarde sobre sairmos à noite e eu respondi que não queria. De repente, me peguei meio deprê por coisas que eu imaginava terem acontecido naquele dia mesmo. Ele me trouxe uma xícara de café e disse:

— Você está diferente? É por causa daquela história com a Mandy? Eu fiz algo errado?

— Fez? — me irritava tanto falar sobre isso.

— Por favor, pare de criar caso por nada.

Olhei pra ele surpresa com a irritação.

— Esquece. Não quero falar sobre isso, Matt. — Não queria mais conversar.

Peguei o notebook e comecei a ver passagens pra Califórnia Queria resolver minhas pendências por lá e me afastar daquele clima. Eu queria saber o que ela significava pra ele mas ao mesmo tempo não queria saber detalhes. Na real, não queria sentir o que estava sentindo.

No final de semana seguinte iria pra Califórnia e até então, ele ficou tentando me agradar e chamar minha atenção.

A cama e o sofá começaram a ficar desconfortáveis para nós dois. No meio da situação eu tinha uns flashes pensando que ele provavelmente esteve ali com outra pessoa. Já estava me fazendo mal.
Ele tinha aquele jeito de perceber as coisas calado e só falar quando eu me abria. Sobre isso eu não queria mais falar porque ainda tinha muitas dúvidas e achava que ele não queria contar. Achava que ele não tinha nos apresentado pra deixar passar batido o sexo incrível que tinha acabado de acontecer. Coisas da minha cabeça!

Falei pra ele sobre a viagem somente na véspera. Não seria nada demais. Traria minhas coisas pessoais pra cá e devolveria o apartamento. Ele ficou um pouco assustado, embora soubesse que eu precisava resolver isso logo. Eu fiz questão de ser breve quando contei, só pra ter o gostinho de ver como ele reagiria se eu decidisse voltar para lá de vez.

— Você tem certeza? Porque você não pede pra alguém enviar suas coisas?

— Prefiro eu mesma cuidar disso. — ele se aproximou e deu um beijo sem muito afeto da minha parte.