Extras - 22. Antes tarde do que nunca!

67 9 13
                                    

Matt

Tivemos muitas outras oportunidades de ficar juntos de novo e estava cada dia mais apaixonado por Ally. À medida que os semestres avançaram, tivemos menos aulas em comum, já que ela havia optado por especializar-se em Relações Públicas e eu, em jornalismo. Ally continuava reservada quanto aos seus sentimentos, mesmo depois de algum tempo de namoro. Ela dizia que me amava e gostava de ficar comigo, mas não era fã de demonstrações públicas de afeto.

Nos encontramos no refeitório para o almoço, como sempre fazíamos e contei-lhe sobre as pesquisas que andei fazendo para estagiar. Tinha acabado de sair da Reitoria com uma carta de recomendação da universidade e considerava Nova Iorque um lugar com mais oportunidades para iniciar a carreira de jornalista. Ainda que tivesse de trabalhar muito para me destacar, estava disposto a me sacrificar e correr o risco. Trabalhar na Flórida não seria a mesma coisa, não era o que tinha planejado pra mim. Nunca tínhamos conversado sério sobre mudança até então.

— Estava vendo uns apartamentos em Nova Iorque. Pequenos. Bem pequenos. Mas acho que você vai gostar. — falei.

— Você quer a minha opinião? Porque não dá uma olhada naqueles apartamentos para estudantes? De repente fica mais barato compartilhar o aluguel com outros caras. — Da forma que falou, eu parecia um estranho pra ela. Fiquei surpreso.

— Como assim outros caras? Estou contando que você se mude comigo.

— E quando você planejava me contar? — Ela parecia mais surpresa que eu. — Mandei currículo para várias agências de Los Angeles. Uma delas até me retornou, querendo marcar entrevista. Eu não quero fazer carreira em Nova Iorque, Matt.

— Ally, o que você estava pensando em fazer depois da formatura? — questionei.

— Definitivamente, não estava nos meus planos mudar com você.

— Como assim? E a gente?

— A gente entrou na faculdade com um objetivo, certo? Então, vou cumprir o que eu planejei. Eu amo você, mas sou muito nova para morar com alguém.

— Eu achei que era importante pra você. Ally, Nova Iorque está cheio de oportunidades de trabalho como relações públicas. Nada impede que você trabalhe na sua área estando perto de mim.

— Mas estou dizendo que não quero. Está difícil de entender?

Fiquei extremamente decepcionado e não consegui entender porque nunca tivemos esse tipo de conversa antes. Tínhamos planos diferentes para nós dois e não passava pela minha cabeça que ela optaria por morar do outro lado do país a desenvolver carreira na mesma cidade que eu, que também lhe ofereceria oportunidades. Ally estava determinada e sua teimosia me irritava. Estava magoado por estar fora dos seus planos, mas não iria desistir tão fácil.

Por meses juntei uma grana do estágio que havia começado a fazer, intermediado pela faculdade, com a carga horária de apenas quatro horas por dia. Dava conta de assistir às aulas do último período e estagiar sem problemas. Comprei um anel simples, o mais caro que eu podia pagar naquele momento e planejei tudo cuidadosamente para pedi-la em casamento na noite da formatura, aproveitando a presença dos nossos pais na festa. Mesmo com a negativa de Ally sobre mudar-se para Nova Iorque comigo, acreditei que estando noivos e com compromisso no futuro, ela reconsideraria a decisão. Poderíamos manter o noivado a distância por um tempo até que tivéssemos condição de fazermos a festa de casamento. Queria que ela tivesse o casamento dos sonhos e eu me esforçaria para isso. Nas ocasiões que tivemos de ir ao casamento de colegas da faculdade e conhecidos, notava como ela ficava emocionada e chegava a comentar sobre os seus planos se um dia fosse casar. Nunca disse que seria comigo, mas acreditava que sim.

A decisão de seguirmos caminhos diferentes para trabalhar, na verdade, demonstrava que ela não fazia tanta questão de estar perto assim. Continuávamos namorando, saindo juntos, dormindo juntos, o sexo cada dia estava melhor. Não conseguia pensar na possibilidade de ficar longe dela.

No momento do jantar na festa de formatura, rodeado à mesa pela nossa família, peguei a caixinha com o anel e me levantei. Ela olhou pra mim com visível estranhamento, sem entender o motivo de ter levantado tão abruptamente. Tirei a caixa do bolso da calça e me ajoelhei ao lado de Ally, sentada na cadeira. Sua expressão foi de espanto. Não acreditava que eu estava fazendo algo tão importante, já que seguiríamos rumos diferentes. Sua mãe ficou visivelmente emocionada, colocando a mão sobre o ombro da filha.

— Alyson!

Ela não conseguia falar, ligeiramente constrangida, olhou para a mãe com os seus olhos também marejados e voltou a olhar pra mim, ali ajoelhado esperando sua resposta.

— Matt! Você não me falou que faria isso. — soou como se ela estivesse contrariada.

— Não se conta uma surpresa, Ally! E aí, você quer casar comigo? – perguntei.

— Sim...

No fundo, Ally respondeu hesitante e se viu encurralada por mim. Nos dias que seguiram, ela não tocou mais no assunto do noivado. Continuou agindo como minha namorada. Ela veio me ver no dia que começava a empacotar minhas coisas para a mudança. Desviou das caixas espalhadas no chão e sentou-se na cama.

— Matt, você sabe que eu não vou com você. Como isso pode dar certo?

— Tudo bem você não querer vir comigo. Já aceitei. Podemos nos ver de vez em quando e nos falarmos por telefone todos os dias. — tentei amenizar o assunto.

— Por isso você quis me pedir em casamento na frente de todo mundo. Pra eu ter que aceitar?

Ter que aceitar? Parece que ficar comigo não significa nada pra você. Te vejo em todos os meus planos, Ally.

— Você está me sufocando. Todos os dias, desde que eu disse sim, olho pra esse anel e me sinto presa. Eu amo você, Matt, mas não quero isso pra mim. Não agora. — Tirou o anel do dedo e o colocou sobre minha mesa de cabeceira.

Fiquei sentado no chão do quarto, vendo-a ir embora sem conseguir impedi-la. As coisas desandaram e perdemos o contato ao longo dos anos. Estava apegado a Ally em vários sentidos e só com o tempo aprendi a me desligar. Sentia vontade de ligar pra ela todos os dias, assim o fiz algumas vezes, até que ela me pediu pra parar.

Levamos anos para nos encontrar novamente. Estávamos mudados, feridos, experientes e precisando um do outro mais do que nunca. Fico feliz que o destino tenha contribuído para que aquele sim acontecesse. Antes tarde do que nunca!

You are enoughOnde histórias criam vida. Descubra agora