Matt
Tinha um motivo para esperar ansiosamente as quintas-feiras: vê-la na faculdade. Às vezes, a encontrava pelo campus, mas seu jeito reservado não me dava muita liberdade para puxar assunto. Comprometido com minha mudança de atitude, decidi ir até a mesa onde ela almoçava no refeitório para tentar conversar. Ela olhou de relance para mim à distância enquanto eu andava em sua direção e disfarçou, aguardando me aproximar.
— Oi?! Se incomoda se eu sentar aqui?
— Não, tudo bem. — me senti mais confortável quando ela sorriu pra mim.
— Está gostando da vida no campus?
— Bem, na verdade, não quis mudar para o alojamento porque moro a 1h30 daqui. Prefiro ir e voltar todo dia.
— Ah, você mora perto então. Eu também, mas quis desgrudar um pouco de casa.
— Quis aproveitar a vida de universitário? Festas, bebidas e garotas, imagino. — opa! Vamos falar de vida pessoal já? Deixei um sorriso escapar achando aquilo engraçado.
— Hmm, sim para o primeiro, um pouco do segundo e nada do terceiro. — eu confessei de cara pra que ela soubesse que eu estava livre. Queria tanto aquela garota, que estava me entregando na primeira conversa.
Ela só franziu a sobrancelha mostrando não acreditar.
— Se você está dizendo...
— Não sei se te interessa saber, mas a última vez que saí com uma garota ainda foi na formatura, acredite. A faculdade não me fez perder a cabeça. Prefiro ter alguém que valha a pena.
— Hmm... — mostrando incredulidade — Não se faz mais caras assim.
Ela recolheu as coisas em cima da mesa para se levantar e naquele momento, eu precisava fazer alguma coisa para não perder a chance de vê-la uma outra vez fora da aula. Soltei a primeira coisa que me veio à cabeça.
— Você já começou seu trabalho de Sociologia? Acho que o prazo é até o dia da prova, que significa semana que vem.
Ela, já de pé, respondeu:
— Sim, fiz a pesquisa e preciso trabalhar nos slides.
— Olha, eu não fiz muita coisa, mas posso te ajudar com a apresentação e a gente entrega como dupla. Temos essa opção... Claro, se você quiser.
— Ah, seria ótimo, porque não sei fazer uma apresentação bacana. Você sabe? — ela perguntou.
— Tenho meus talentos.
— Nos falamos na aula, então.
Ela deu meio sorriso e retirou a bandeja da mesa, se despedindo.
Nos encontramos na biblioteca no dia seguinte para fazer a apresentação. Enquanto eu formatava o texto no seu laptop, sentia seu perfume, algo que não esqueceria por muito tempo. Quando a abracei na porta da casa dos seus pais, imediatamente fui transportado para esse dia na biblioteca. Lembro-me até da roupa que vestia, uma camiseta branca e calça jeans, os cabelos presos num rabo de cavalo. Ela me observava ali, relendo superficialmente o que havia escrito e eu faria de tudo pra demorar ali a tarde toda e aproveitar a presença dela.
Anoiteceu e ainda finalizamos o trabalho. Pensei em convidá-la pra sair, mas achei que já estaria enjoada de mim naquele dia e resolvi arriscar.
— Seu texto ficou muito bom. Acho que agora é só apresentar. Vamos tomar um café ali no refeitório?
Ele suspirou antes de responder.
— Estou cansada e só por isso vou aceitar. Preciso estar acordada pra dirigir.
O café seria uma boa oportunidade para tentar falar sobre outras coisas e acabar perguntando mais sobre ela.
— E você? Porque escolheu relações públicas? – Entreguei-lhe o café que estava na minha bandeja.
— Não sei... gosto de escrever, gosto de lidar com pessoas, mas sou introvertida como você já deve ter percebido.... Estou trabalhando nisso.
— É... — respondi pensando na minha personalidade. — Sei do que você está falando, mas estou me desafiando, me forçando a falar com as pessoas e manter contato.
— Então você veio falar comigo à força? — ela me olhou, exigindo uma boa resposta.
— Não, de jeito nenhum! Eu vi você sozinha na aula... quer dizer, eu... eu gostei de você.
Ela não conseguiu esconder o sorriso de constrangimento, mesmo tendo se recomposto rapidamente para rebater.
— Não sou muito fácil de se gostar, mas vou acreditar em você.
— Sim, queria inclusive te chamar pra sair qualquer dia.
Mais uma vez, ela se levantou como quem fosse fugir da proposta.
— Pode ser... falamos melhor sobre isso outra hora, ok?
Ela pegou seu casaco nas costas da cadeira e vestiu-se, me deixando sozinho e cheio de esperança.
(...)
Não queria que nosso primeiro encontro fosse numa lanchonete fast food, mas era tudo o que podia fazer naqueles dias de dureza. Esperava que ela gostasse de tacos tanto quanto eu.
Sinto muito por ela ter que ser vista com um cara como eu era, com espinhas no rosto e cabelo estranho. Meu cabelo de roqueiro não fazia mais parte do meu visual, até que resolvi mudar. Não gostei do resultado, porém era tarde demais. Nunca fui malhado como os caras do time de futebol da escola nem tinha altura para jogar basquete. Só levava jeito pra jogar videogame. Nisso ninguém me vencia! Talvez por esse motivo eu me aproximava mais de caras como eu do que meninas.
Voltando ao nosso encontro, ela dobrou a esquina e veio em minha direção enquanto eu esperava em frente à lanchonete. Usava um vestido preto florido e cabelos soltos brilhando com a luz do sol, o vento dava conta de provocar movimento no seu andar, novamente em câmera lenta.
Ela se aproximou e quando fui abraçá-la, ela me deu um beijo na bochecha. Fiquei surpreso com o gesto.
O ambiente descontraído e sem obrigações nos permitiu falar sobre namoro e nossa vida no high school.
Ela, assim como eu, tinha namorado poucas vezes e não estava a fim de aventuras durante a faculdade. Era muito centrada e decidida, tinha planos pra tudo.Foi pega de surpresa quando dei um beijo rápido após se distrair com o próprio riso causado por algo que falei, sentada ao meu lado no banco duplo da lanchonete. Me olhou séria.
— Porque você fez isso?
Quase me arrependi do que fiz e naquele instante achei que tinha passado dos limites cedo demais. Ela era irresistível com aquele pescoço sempre à mostra pedindo pra ser beijado.
— Desculpa... não deveria, né?
— Na verdade, eu não sei se gostei.
— Ah... como assim?
— Acho que você vai ter que repetir pra eu ter certeza que gosto — deu um sorrisinho malicioso e ficou à espera de outro beijo.
Aproveitei a deixa e a beijei novamente, dessa vez com mais calma e dedicação. Meus lábios sentiram seu calor e cada ranhura dos seus antes que enquanto minha mão deslizava por baixo do seu cabelo quase preto, parecia um véu cobrindo seus ombros. Parei um instante para olhar pra ela e saber se podia continuar e a resposta foi seus olhos fechados pedindo mais. E empolguei um pouco quando minha língua encontrou a dela e ali me dei conta que precisava parar. Calma, esse foi só o primeiro beijo!
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You are enough
Fanfiction*CONCLUÍDA* Quando o amor der uma segunda chance, melhor não deixar passar. Ally deixa um longo relacionamento abusivo e complicado e volta para a casa dos pais quando reencontra seu ex-noivo e tem uma nova oportunidade de reviver o amor do passado...