Extras - 20. Combinado!

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Matt

Aquele beijo serviu para quebrar o gelo inicial que existia entre nós até aquele dia. Toda vez que nos encontrávamos, pareciamos dois estranhos, mas depois que nos beijamos, ela passou ao sentar ao meu lado nas aulas de quinta. Ponto pra mim! Sempre que ela entrava na sala, eu já estava sentado no meu lugar de sempre a esperando com um sorriso. Aquela garota iluminava meu dia e não fazia ideia do quanto me deixava feliz apenas em olhar pra ela ou sentir seu perfume no ar, bem ali ao meu lado. Observá-la concentrada na aula era o meu passatempo preferido e acabava não entendendo nada da matéria.

Mesmo estando mais próximos, só nos víamos naquele dia certo da semana e eventualmente pelos corredores. Por duas semanas, não tocamos no assunto do beijo, nem sobre o que viria a acontecer depois. Só estávamos curtindo a companhia um do outro.

Achei que já estava na hora de chamá-la pra sair de novo e ver no que ia dar. Eu queria ficar com ela e esperava que fosse recíproco.

No fim da aula, enquanto guardava seu caderno da bolsa, tomei coragem e lhe perguntei:

— É... então... estava pensando se você gostaria de sair amanhã, já que agora passaram as provas, de repente pra conversar um pouco... não sei. — já contaram que caras ficam nervosos para tomar a iniciativa?

Ela me olhou sem demonstrar expressão, não era fácil ler seus pensamentos, eu enxergava como um mecanismo de defesa. Tempos depois, eu descobri assim que se protegia. Eu me sentia sempre mais exposto do que ela quanto às nossas intenções e isso me deixava um tanto inseguro. Um de nós tinha que tomar iniciativa. Caso contrário, nada aconteceria.

— Sim. — ela respondeu com um sorriso que não me trouxe a tranquilidade que eu queria. Seu jeito reservado era enigmático, mas pelo menos o sim eu já tinha.

— Aonde você gostaria de ir? – Esperava que não fosse um lugar muito caro.

— Tô sempre a fim de uma pizza. – Ufa! – ela encolheu os ombros.

— Tem uma pizzaria muito boa perto da minha casa. Vou visitar meus pais esse final de semana e pensei que poderíamos ir lá.

— Tudo bem por mim. Vou com meu carro e te encontro lá.— ela disse.

— Não parece um encontro. Não prefere que eu te busque em casa? – perguntei.

— Pode ficar tranquilo que não ligo pra essas coisas. Se eu for com meu carro, posso voltar sozinha.

— Ok, então.

***

Fui dirigindo passar aqueles dois dias em casa, mas a maior expectativa mesmo era ver minha menina do rabo de cavalo. Nos encontramos no estacionamento da pizzaria no sábado à noite e, por um instante, hesitei em cumprimentá-la. Um beijo, um abraço? Um aperto de mão seria muito distante, um beijo, próximo demais. Fiquei no meio termo com um abraço e beijo no rosto. Pude sentir o cheiro daquele perfume com o qual já estava começando a me familiarizar. Ela estava linda de vestido florido, jaqueta jeans e tênis. Seu cabelo preso estava no rabo de cavalo de sempre e eu adorava, por dar um ar de menina. Eu estava caidinho e não conseguia esconder.

Ela me surpreendeu sentando ao meu lado no booth. Mesmo sem saber o que fazer, sempre tentava dar um passo à frente e resolvi passar o braço por cima do ombro dela. O abraço foi bem recebido, pois ela se aproximou e me olhou nos olhos bem de perto. Por um momento antes do beijo, fiquei mergulhado na profundidade do castanho-escuro dos seus olhos emoldurados por cílios de boneca, num tom de madeira bem escura numa combinação perfeita com suas sobrancelhas desenhadas. Fechamos os olhos e o beijo pareceu frio e desajeitado de início, até que encaixamos nossos lábios e ela me sugou a parte inferior, convidando pra um beijo mais intenso. Estávamos em um lugar público, só os assentos escondidos nos davam um pouco de privacidade para nos demorar um pouco mais na demonstração de carinho. Senti sua mão tocar meu rosto, como que escondendo o nosso beijo de quem olhasse para nós. Senti meu peito queimar... e outras coisas também.

Ela se afastou um pouco me olhando com um sorriso lindo.

— Não esperava? – perguntou.

— Não esperava , mas queria, se é que isso faz sentido. Não queria te pressionar.

— Matt, eu gosto de você. Caso contrário, não estaria aqui.

— Dois encontros com beijo já são suficientes pra andar por aí de mãos dadas?

— Três pra eu pensar no caso. – ela respondeu me dando um beijo rápido para encerrar o assunto e ajustar-se no assento para devorar nossa pizza que acabava de chegar.

Mais alguns encontros foram necessários para que ela aceitasse que eu a chamasse de namorada e pudéssemos finalmente andar de mãos dadas pelo campus. Nunca tinha tido um relacionamento assim e acho que era mais a minha cara. Não me sentia pressionado ou fazendo as coisas por obrigação, como se tivesse que dar satisfação aos demais.

O ano letivo estava perto de terminar e passaríamos a ter mais algumas aulas em comum, como se o tempo que passávamos durante a semana não fosse suficiente. Ainda não tínhamos dormido juntos, não queria apressar as coisas e também não queria que fosse parecido com o que tive com a Dani. No meu alojamento não tínhamos privacidade em nenhuma hora do dia e na casa dos pais dela também não seria possível. Tínhamos passado a fase de conhecer a família e dormir um na casa do outro, mas nunca juntos. Não digo que nada acontecia quando ficávamos sozinhos, só não podíamos ir até o fim.

Nos momentos com ela, tornava-se cada vez mais difícil controlar o desejo. Não era preciso beijá-la muitas vezes para que meu corpo tivesse reações fora do meu controle. Ela gostava de colocar a mão por dentro do meu cabelo, que já estava um pouco maior agora, e isso não me ajudava a manter as coisas tranquilas.

Uma noite, estávamos na varanda da casa dela nos despedindo e tocamos no assunto, depois de um beijo que me deixou com as orelhas quentes.

— Matt, você não acha que...?

— Tá difícil! – nós dois rimos.

— Eu sei. A gente nunca conversou sério sobre isso... queria tanto ficar sozinha com você.— ela disse, se pendurando em volta do meu pescoço.

Olhar a carinha linda dela me querendo, me dava vontade de sair correndo dali rumo ao mirante. Mas, não! Ela merecia uma coisa melhor.

— Você já fez isso antes? – perguntei.

— Sim, fica tranquilo.

— Tá bom, só queria ter certeza.

— Você não vai ser o primeiro. – ela disse de um jeito super normal e eu fiquei pensando que por pouco ela não seria a primeira pra mim.

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