Capítulo 14

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Aquele que diz uma mentira não sabe a tarefa que assumiu, porque está obrigado a inventar vinte vezes mais para sustentar a certeza da primeira.

Eu fiquei ali no quarto abraçada a Gui durante um bom tempo, não contei e na verdade não me importava, só sabia que estava muito ali com ele, melhor do que nunca estivera antes. E ele não parecia incomodado com isso. Só ficou me fazendo companhia, acariciando meu cabelo e sussurrando que tudo estava bem. E por um instante eu acreditei que ficaria.

- Acho melhor eu ir embora. - Rle disse. - Já anoiteceu.

- Você tem mesmo que ir? - Perguntei.

_Vou estar ali do lado_ sorriu_ se precisar de mim é só chamar.

Eu me levantei do colo dele, e ele se levantou da cama. Eu não queria que ele fosse embora, mas seria melhor assim, Half estaria de volta em pouco tempo e minha mãe também. Eu teria de explicar a ela o mesmo que falei pro Gui. Que tropecei e cai naquela mesinha. Gui foi caminhando até a sacada...

- Não quer usar a porta? - Eu sugeri.

- Por aqui é mais rápido. - Deu de ombros.

- Por lá é mais seguro. - Eu afirmei.

- Eu não vou cair, Grace. - Ele disse sério.

Eu só o encarei com os braços cruzados e a expressão séria.

- Está bem, está  bem. Eu vou pela porta. - Revirou os olhos.

Eu desci as escadas devagar, ainda estava dolorida, e ele veio bem atrás de mim, sem nenhuma pressa. Mas ele parou de andar quando estávamos atravessando a sala, encarando a mesinha quebrada. O vidro espalhado pelo chão e o meu sangue.

- Eu falei pra você que tinha caído na mesinha. - Dei de ombros.

- Como conseguiu fazer isso? - Me olhou desconfiado.

- Eu tropecei no tapete e cai em cima da mesinha. Era de um vidro vagabundo. - Tentei parecer convincente.

- Você precisa tomar mais cuidado por onde anda, Grace. - Ele agora parecia acreditar mais em mim.

- Eu avisei que era desastrada. - Fiz careta.

Ele riu discretamente, mas continuou a encarar o estrago na sala. Ficar olhando aquilo me deu arrepios, lembrar do acontecera há poucas horas atrás, das ameaças. Tive vontade de chorar novamente mais me contive.

- Minha mãe e o Half vão surtar quando virem isso. - Comentei.

- Sua mãe pareceu muito apegada à decoração da casa.

- É, meu pai que comprou essa mesinha. - Respirei fundo. - Minha mãe a adorava.

Ele se virou pra me olhar, percebendo minha súbita tristeza. Eu não conseguia evitar ficar assim quando o assunto era o meu pai. Falar dele doía mais que qualquer uma das coisas que Half fazia comigo. Era uma ferida no meu coração que não sararia nunca.

- Bom, acho melhor você ir antes que eles cheguem. - Disse me recompondo.

- Tudo bem, mas cuidado ouviu?

- Eu vou tentar ser menos desastrada. Prometo. - Sorri.

- Até amanhã, Grace. - Sussurrou.

- Até amanhã, Gui.

Ele sorriu e saiu pela porta e o vazio dentro de mim voltou. Ficaria pior quando Half chegasse em casa, quando eu tivesse que mentir de novo.

Algum Tempo Depois...

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