Vazio

Capítulo 45 - Medo

Levi já estava acordado faz um tempo, mas continuou deitado na cama para não incomodar o garoto que havia se apossado de seu tórax, usando-o de travesseiro — estava feliz apenas por Eren não ser um daqueles que babam durante o sono. Como estavam no período de transição do inverno para a primavera, o tempo ainda era agradavelmente frio o suficiente para que o calor que emanava de Eren fosse suportável, ainda que fosse um garoto muito quente.

Surpreendentemente, o mais velho teve outra boa noite de sono, chegando a dormir até mais tarde. Deu um belo sorriso de satisfação e pôs-se a acariciar os fios castanhos de Eren, tomando cuidado apenas para não o acordar. Aquele era um cabelo consideravelmente macio — para um garoto —, dando uma sensação semelhante ao do pelo de um cachorro bem cuidado. Sorriu mais ainda quando comparou o namorado com um filhote.

Acabou que, por acariciá-lo descuidadamente, Eren acabou se remexendo enquanto murmurava alguma coisa, ameaçando acordar. Levi pôs as duas mãos para cima e deixou o namorado se ajeitar sobre seu corpo, que acabou por encolher-se mais próximo ainda, depositando uma mão sobre seu peito desnudo. Considerou por alguns segundos se voltaria a brincar com o pelo de seu filhote — o cabelo de seu namorado — ou se o deixaria dormir em paz. Acabou optando por apoiar a mão sobre a nuca do garoto e apenas brincar com os fios menores do início do couro cabeludo.

Aproveitou aquele tempo para olhar em volta do quarto do mais novo, já que não teve muito tempo para fazê-lo mais cedo. Apesar de ser, à primeira vista, um quarto arrumado, dava para perceber que ele era apenas um quarto com uma "bagunça organizada". Havia coisas espalhadas em cima da escrivaninha, e as pequenas estantes que o garoto usava para arrumar os sapatos estavam apenas com os pares próximos uns dos outros, mas numa configuração bastante irregular. Ficou mais relaxado, pois aquele era para ser o normal — não deixaria que um pirralho fosse melhor nisso do que ele —, e isso sem falar que a probabilidade de Eren ter arrumado o quarto apenas para que ele não o julgasse era alta.

De certa forma, Levi achava aquilo muito... fofo? Arg, não, detestava essa palavra. Digamos que era uma atitude "louvável".

Esperava, também, encontrar vários pôsteres sobre qualquer coisa aleatória — bandas, artistas, grupos e afins —, mas a única coisa que encontrou foi um de baseball e outro que não era bem um pôster, mas uma foto de um grupo de adolescentes impressa numa folha A3. Àquela distância, não dava para identificar muito bem os rostos — haviam muitos na foto —, mas percebia-se que todos usavam a mesma roupa, e que estavam todos felizes. A foto estava fixada num painel magnético junto com várias outras fotos, mas estas estavam em seu tamanho normal.

Eren devia ter bons amigos. Perguntava-se por que havia dito aquelas coisas toscas sobre a vida ser medíocre: bastava só olhar em volta para perceber que nada lhe faltava, sem falar que sua relação com a mãe era muito boa e, com o pai... Bem, até onde entendeu, só foi ter problemas agora. Sendo assim, para que aquela revolta toda? Olhou para aquele rosto sereno com preocupação, enquanto passava de leve o dorso dos dedos pela lateral da face. Talvez algum outro parente o traumatizou na infância, concluiu. Ou isso, ou ficou meio transtornado depois de jogar um jogo com censura muito além da sua idade. Teve que admitir que, com essa última hipótese, sentiu-se um verdadeiro velho — o que o desagradou muito.

Sentindo-se terrivelmente inquieto por ainda estar na cama, cogitou formas de tirar o garoto de seu colo sem o acordar. Por mais que gostasse de tê-lo dormindo sobre seu corpo — descobriu que isso era bastante relaxante —, não estava acostumado àquela maresia pela manhã, mesmo que fosse num final de semana. Com muito cuidado, tentou girar o corpo para escorregar Eren de cima de seu peito, usando as mãos para diminuir o impacto dele com a cama. No final, o mais novo apenas gemeu em protesto e abraçou fortemente o travesseiro mais próximo.