Capítulo 56 - O que se passou

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Eren sentia na pele os mornos raios da primavera atingirem-lhe o rosto. Finalmente, Março havia chegado, e com ele vinham as brisas refrescantes e o calor agradável, o clima perfeito para a realização do Torneio de Primavera. Claro, ainda faltava uma semana para que o primeiro jogo do Kyojin acontecesse, mas isso não diminuía em nada a ansiedade do garoto — muito pelo contrário, apenas aumentava.

Estava no meio da aula de história, matéria a qual dominava muito bem, então deu-se ao luxo de divagar enquanto observava a rua pela janela. Querendo ou não, a primeira coisa que lhe vinha à mente quando não tinha nada no que pensar eram nas lembranças da terrível semana quando Levi havia sumido. Já havia se passado pouco mais de um mês desde o ocorrido, tempo suficiente para que Eren estranhasse toda aquela situação. Não acreditava que tinha chegado tão longe naquela depressão, a ponto de isolar-se quase que por completo de seu grupo de amigos e, pior, ter ameaçado Armin no telhado.

Claro, tinha completa ciência de que seus sentimentos pelo namorado não eram superficiais, mas também não imaginava que fossem tão profundos. A sensação do desespero que sentira na época era tão distante que mais parecia um sonho para o garoto, como se nada daquilo fosse real. Teria, de fato, acreditado que aquela semana fosse apenas um pesadelo se o namorado não tivesse marcas explícitas do ocorrido, tanto no seu corpo quanto na sua personalidade. Imediatamente, sua mente correu para o dia posterior ao da descoberta de que o namorado ainda estava vivo, quando dormiram abraçados a noite toda...

Levi havia aumentado mais um pouco a sua coleção de cicatrizes, tendo agora uma no ombro, coxa, pulsos e algumas feridas nas costas. E por falar nas costas... Maldito trocadilho deixado por Hanji no bilhete. No outro dia, quando os dois acordaram, Eren foi o primeiro a notar a pilha de papel em cima da cômoda — já que não era do feitio do namorado deixar coisas à toa —, e foi quando notou o recado deixado pela morena sobre a comida na geladeira e algo sobre as costas do mais velho. No final das contas, o que estava no dorso do tronco de Levi era uma hostil tatuagem de um típico dragão oriental vermelho, ascendendo de forma contorcida desde a lombar até a nuca do mais velho, onde a criatura tatuada abria a boca.

Não precisava ser um detetive para adivinhar de onde surgiu aquela tatuagem, muito menos qual grupo criminoso a usava como símbolo por dentre os membros. Eren sentiu-se enjoado ao vê-la pela primeira vez, principalmente porque percebera que em muitas partes da tatuagem haviam feridas — o que indicava um trabalho sem cuidado algum, embora a arte final fosse, de fato, impressionante.

— Por que fizeram isso com você? — murmurou o garoto, ainda meio incrédulo ao olhar para a tatuagem no corpo do namorado.

Levi se limitou a olhá-lo com pesar, e então abaixar a cabeça.

— Por que eles fizeram isso com você? — insistiu Eren, mas sem resposta mais uma vez. — Levi... o que aconteceu?

O mais velho apenas apoiou a testa no ombro do namorado, que estava sentado na cama ao seu lado. Ainda hesitante, o garoto moreno levou a mão até os fios negros que haviam crescido em demasiado para manter o padrão do corte militar de Levi. Acentuando o carinho, ouviu alguns suspiros despercebidos fugirem do namorado, que se aconchegava ainda mais, até esconder o rosto na curva do pescoço. Eren sorriu com o gesto, comparando-o com algum tipo de filhote.

— Tem que conversar comigo — pediu Eren, depositando um beijo terno no topo da cabeça do namorado. — Comigo, com Hanji, com alguém... este silêncio só vai te sufocar.

Levi gemeu em protesto, agora passando os braços pela cintura do moreno, que retribuiu o gesto enquanto sussurrava-lhe no ouvido.

Esse silêncio está me sufocando...

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora