Capítulo 57 - Amar não é fácil

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O dia amanheceu cinzento. Graças às poucas nuvens no céu, a claridade estava num nível agradável o suficiente para que Levi não quisesse sair da cama mesmo depois de tanto tempo sendo mantido dentro de casa. Claro, saía para correr pelas manhãs e, quando Eren ia embora cedo, dava uma volta à noite também. Ainda assim, sentia o corpo fraco e fragilizado, o que o irritava incondicionalmente. Já bastava o psicológico abalado, não precisava de mais nenhum ponto fraco na sua lista.

Respirando fundo, decidiu que seria melhor levantar de uma vez. Eram exatamente cinco horas da manhã, o horário perfeito para ir ao parque perto de seu apartamento sem que houvesse uma multidão que impedisse sua livre circulação pela pista de corrida. Sendo assim, levantou para beber qualquer suco que o namorado houvesse deixado na geladeira na noite anterior e fez a higiene pessoal, para só então sair de casa.

Como sempre, tentou jogar todo o estresse acumulado naquele momento, quando podia espairecer a mente forçando mais os músculos da perna e aumentando a velocidade. Dentre as várias coisas nas quais tinha que pensar, focou bastante em Eren — como sempre. Não tinha palavras para descrever o quanto era grato pelo garoto, muito menos o quão decepcionado consigo mesmo estava. Não era do tipo de pessoa que gostava de ter os outros cuidando de si — com exceção de Erwin —, e ali estava Levi se perguntando o que teria feito se Eren não tivesse a paciência que teve para estar ao seu lado quando mais precisou. Estava começando a depender de um pirralho? Aquilo era um absurdo. Um absurdo que, por mais que detestasse, também o comovia.

— Eren... — disse sem querer o nome do namorado em voz alta, quase que em um lamento.

Sabia melhor do que ninguém que o garoto dos olhos verdes encantadores não teria feito metade do que fez se os sentimentos não fossem verdadeiros. Estava começando a ver que Eren não mentiu em nenhuma das vezes em que disse "eu me importo com você". Tinha suas dúvidas, dada a idade e a maturidade dele, mas agora não havia dúvidas de que estava sendo sincero. Talvez, até o amasse — o que seria ainda pior.

Reconhecia aqueles sintomas, pois passou o mesmo com Erwin. Também era infinitamente grato pelo que o ex fez por ele, e agradeceu aos céus por ter conseguido terminar antes que ele também se apaixonasse. Mas... Eren? Era difícil. Sabia que os sentimentos do garoto eram cada vez mais profundos, que ele era uma boa pessoa e que merecia alguém igualmente bom ao seu lado, mas... Era capaz de abrir mão dele? Sabia que não — ou melhor, que não queria. Quanto mais ele o visitava, quanto mais conversavam e riam juntos, quanto mais trocavam olhares e carícias tão simples e ainda assim tão íntimas... Não dava para dizer que não queria aquilo. Eren havia se tornado a sua paz antes que pudesse controlar isso. No final das contas, era egoísta demais para abrir mão da própria felicidade para que o garoto pudesse ter o direito de amar alguém mais decente.

Pensar em deixar Eren ser tomado por um outro qualquer foi o combustível suficiente para que corresse mais quinhentos metros. Ao final do percurso, concluiu que, definitivamente, aquilo que os dois sentiam era um carinho imenso, mas que não era amor.

Não podia ser amor.

Depois de um banho demorado e de uma muda de roupas limpas, Levi se dirigiu à cozinha para um café da manhã decente e então partiu para a agência. Como a moto estava perdida em algum lugar por entre as favelas da área Maria, Levi não teve outra alternativa a não ser utilizar o transporte público nos primeiros dias de trabalho — o que lhe causou um visível desconforto notado por todos. Sendo assim, Erwin lhe ofereceu de bom grado o segundo carro que tinha, este menos chamativo e que serviria até que Levi conseguisse outra moto para substituir a antiga. Como o desgosto pela multidão nojenta falava mais alto, aceitou de bom grado a oferta.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora