Nicolas
Minha mãe estava sentada no chão a minha frente, com seus olhos azuis parecendo tristes e um sorriso que não parecia de felicidade em seus labios, eu estava sentado na minha cama, a encarando e pensando no que podia ser aquilo que ela e o papai diziam que eu tinha:
- Você está bem meu amor? - ela perguntou baixinho e passou a mão pelo meu cabelo.
- To mamãe. A senhora tá triste?
- Não Nick- sorriu fraco- só estou um pouco cansada.
Ela fungou e beijou uma das minhas mãos, eu não conseguia entender porque o papai tinha saído do quarto quando a mamãe falou o nome da doença que eu tinha, eu nem sabia que problema era esse, mas estava curioso:
- Mãe? - a chamei e ela me encarou- eu to muito doente?
- Não, não filho você não está doente.- se apressou em me acalmar.
- Mas então o que eu tenho?- queria saber o que era, mas não conseguia entender.
- Não vamos falar disso agora ta bom? Amanhã a mamãe e o papai te explica.-suspirou pesadamente - Não fica preocupado com isso meu amor.
- Mãe, minha cabeça ainda tá doendo.- reclamei sentindo uma pontada forte.- a luz ta irritando meu olho.
- Daqui a pouco o remédio faz efeito, deita pra eu te cobrir, vou apagar a luz tudo bem?
- Não vai me deixar aqui sozinho ne? - perguntei aflito enquanto me deitava e ela me cobria.
- Não precisa ter medo do escuro- beijou minha testa e se sentou ao meu lado na cama.
- Eu tenho muito medo mãe - minha voz tremeu- Não sai do meu lado ta bom?
- Tudo bem meu amor. Feche os olhinhos para dormir.
Então eu virei para o lado e fechei os olhos, ouvi o barulho da luz se apagando mas não liguei, porque minha mãe estava bem ali do meu lado acariciando meu cabelo.
Alguns minutos se passaram e eu ainda estava acordado para ter certeza que ela não sairia do meu lado, mas fingi estar dormindo, e mesmo ouvindo ela chorar baixinho me recusei a abrir os olhos, sabia que tinha algo ruim acontecendo, mas se eu perguntasse o que era ela diria que não era nada, então apenas pedi para que o papai do céu fizesse ela parar de chorar, não gostava de ver minha mãe triste.
-Hey Nick!! Acorda cara, estamos atrasados sabia?
-Me deixa- reclamei me virando para o lado.
- Nicolas to falando sério, a gente tem horário para chegar no serviço.- Diogo parecia irritado mas eu estava exausto- Nicolas para de graça levanta logo, tá pior que jumento.
-O que foi? -perguntei abrindo os olhos de vagar e bocejando.
- Trabalho cara, apenas o trabalho.- falou alto e puxou minha coberta - anda bela adormecida.
-Tá,tá... to indo.
Ouvi seus passos se distanciarem e me sentei na cama um pouco atordoado com o sonho que tive, um sonho bem real por sinal. Eu amava sonhar porque assim eu podia ver coisas que há muito tempo não via, mas também me recordar, e essas recordações eram constantes, porém não era de uma boa fase da minha vida.
Me lembro como se fosse hoje do dia em que descobrimos que eu tinha a mesma doença do meu pai, aquele foi o dia mais confuso da minha vida, peguei no sono ouvindo minha mãe chorar e acordei com meus pais já ao me lado, eles sempre me apoiaram e nunca me recliminaram pelo que aconteceu, talvez por isso eu não tenha sido tão recluso quanto a aceitar minha realidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Eu Nunca Disse Adeus
Romance| EM REVISÃO | Ser cego não significa não enxergar nada,quando deixamos de ver o exterior procuramos pela personalidade, caçamos vestigios do invisível e cremos no que pensamos compreender. Talvez essa não seja apenas uma deficiência dos olhos,mas t...