Melissa
Segurar as mãos do Nick não era algo que eu fazia com frequência, mas naquele dia era uma exceção, queria quebrar as barreiras e o abraçar forte até ter certeza que nunca mais nos afastariamos, meu coração doia de um jeito incompreensível mas ainda assim meus pais jamais compreenderiam, eles achavam que eu iria superar, porém com onze anos eu já era grande o suficiente para saber que algumas coisas eram insubstituíveis:
- Você vai ficar bem? - perguntei com medo.
- Só se me prometer que não vai deixar de falar comigo- falou e eu encarei a profundidade de seus olhos, mesmo que ele não tivesse consciência disso.
- Eu jamais deixaria de falar com você , sabe disso.
Ele apenas afirmou com a cabeça e eu engoli em seco sabendo que aquele era o nosso fim, não haveriam mais conversas na sala de aula por uma folha secreta, não haveriam mais discussões bobas nem mesmo o consolo de um ombro amigo, eu estaria sozinha e precisaria aprender a lidar com a ausência dele, esse com certeza era o ponto mais difícil da mudança:
- Vamos Mel, já esta na hora !- minha mãe gritou ao lado dos pais do Nick e do meu pai que ja estava no volante.
- Acho que chegou a hora de dizer adeus - falei triste e as lágrimas começaram a brotar nos meus olhos, mesmo ele não podendo me ver me senti constrangida por chorar tão abertamente, mas o fogo que consumia meu coração era de alguma forma avassalador e incompreensível.
- Não- ele disse apenas- não vou dizer. Apenas um até logo já vale não acha?- sorriu fraco.
Sem perceber o abracei forte como se minha vida dependesse daquilo, ele levou um susto e eu sabia que era errado o pegar de surpresa, mas não tinha como evitar, precisava que ele entendesse o quanto sentiria sua falta:
- Eu te amo Nick, nunca vou te esquecer - falei entre lágrimas.
- Também te amo Mel- ouvi sua voz falhar- vai ser difícil aqui sem você.
- Assim que eu puder fujo de casa e venho para ca- falei confiante me soltando dele.
- Te deixo se esconder no porão - sorriu com os olhos cheios de lágrimas.
- Engraçadinho.
- Boa sorte Mel.
- Obrigada. E vê se não arruma outra melhor amiga.
- Impossível.
Respirei fundo e olhei a rua que antes era nosso refúgio, havíamos brincado tanto ali, e agora eu iria embora e deixaria tudo para trás.
Minha mãe me chamou mais uma vez e eu comecei a me afastar do Nick sabendo que se disesse mais alguma coisa talvez me recusasse a ir embora, então num gesto involuntário acenei e falei apenas:
- Tchau.
- Tchau - respondeu e abaixou a cabeça.
Será que ele estava tão devastado quanto eu? Realmente queria saber, mas conclui que sim no instante em que os pais dele o abraçaram de lado e falaram algo que não escutei para ele. Apenas entrei no carro, me recusei a por o cinto de segurança e fiquei com os olhos vidrados no vidro de trás, encarando o melhor amigo que um dia eu poderia ter, até meu pai virar a esquina e me privar do meu antigo paraíso.
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Eu Nunca Disse Adeus
Romance| EM REVISÃO | Ser cego não significa não enxergar nada,quando deixamos de ver o exterior procuramos pela personalidade, caçamos vestigios do invisível e cremos no que pensamos compreender. Talvez essa não seja apenas uma deficiência dos olhos,mas t...