Nicolas
Ouvi o barulho do ziper da última mala se fechando e senti meu coração se apertar, mesmo com vinte e dois anos eu nunca tinha ficado tanto tempo longe de casa, alguns meses pareceriam uma eternidade longe dos meus pais e da minha irmãzinha maluca, mas tudo bem, era hora de eu andar com minhas próprias pernas, sabia que podia fazer isso sozinho:
- Todas estão fechadas maninho - Helena se sentou ao meu lado e encostou eu cabeça em meu ombro- tem certeza que vai conseguir sobreviver sem mim?- fez uma voz manhosa.
- Vou pelo menos tentar.
- A mamãe tá surtando sabia? Se abusar ela vai atrás de você em menos de dois dias.
- Você sabe que preciso fazer isso, além do trabalho ser irrecusável ainda estarei dando um passo em direção a minha liberdade.
- O papai ta falando exatamente isso pra mamãe todos os dias.- Ela suspirou parecendo estar cansada daquilo.
- Ele me entende.
Com certeza meu pai me entendia, eu me espelhava nele e por sua causa sabia que uma vida normal não era impossível, mesmo com as dificuldades ele era meu herói, ja minha mãe era minha proterora, me vigiava onde quer que eu fosse, e mesmo eu me sentindo sufocado as vezes ainda assim a entendia, ela me amava, e o amor não é algo que se pode medir:
- Leva essa mala pra mim?- pedi a Helena.
- Claro.
Me levantei e abri a minha bengala tentando me preparar emocionalmente para as despedidas, eu não sabia ao menos como começar, mas ninguém nunca estava preparado para momentos como aquele, ninguém nunca era frio o suficiente para partir sem desejar voltar para seu lar, e eu estava prestes a fazer isso, faltava pouco para sair da proteção da minha família e passar a depender somente de eu mesmo, não seria fácil, mas ainda assim não saberia se não tentasse.
Chegamos na sala e eu não ouvi barulho algum, estavam todos em silêncio e eu me senti péssimo por isso, mas logo senti as mãos macias da minha mãe tocarem meu rosto:
- O Diogo ta guardando suas malas no carro - falou com a voz rouca e eu podia jurar que ela estava chorando- Promete que vai ligar todos os dias?
- Prometo mãe. - falei enquanto secava suas lagrimas - e você me promete que vai parar de chorar?
- To tentando- Ela me abraçou forte e quase entrei em desespero, não era justo um abraço daqueles justamente quando eu estava prestes a partir- Te amo filho, se cuida ta?
- Também te amo mãe.- faleu sincero.
Ela me soltou hesitante e eu logo senti outros braços me envolverem, dei um paço para trás por causa do impulso e ouvi Helena dizer:
- Olha aqui! Se você voltar pra casa com uma nogentinha do Rio eu juro que faço da vida de vocês um inferno, ta me ouvindo?
- Sim senhora mandona.
- E nem pense em não trazer presentes pra mim.
- Não vou me esquecer disso.- sorri.
- Te amo maninho.
- Também te amo peste.
- Nick? - ouvi meu pai chamando e sorri, alguém colocou a mão dele no meu braço e nós logo estávamos nos abraçando -Filho, não deixa ninguém dizer que você não consegue fazer algo ok? Acredito em você e sei que pode dar o seu melhor.
- Obrigado pai.
- Só não se esquece da gente.-pediu.- te amo muito, se cuida ok?
- Também te amo, é impossível esquecer de vocês.
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Eu Nunca Disse Adeus
عاطفية| EM REVISÃO | Ser cego não significa não enxergar nada,quando deixamos de ver o exterior procuramos pela personalidade, caçamos vestigios do invisível e cremos no que pensamos compreender. Talvez essa não seja apenas uma deficiência dos olhos,mas t...