Capítulo 66

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Depois de minha família ter ido embora, sem que nenhum de nós tivesse sequer tocado no banquete preparado com capricho para comemorar meu retorno, fui para o meu quarto, onde fiquei sentada por várias horas numa cadeira ao lado das janelas de vitral, apenas observando a escuridão, não conseguia nem pensar em dormir.

O que posso fazer para salvar minha família? Para salvar Lauren? Ainda posso salvar Lauren ou ela está realmente além da possibilidade de redenção, como acredita?

Lá fora um lobo uivou nas montanhas. Eu nunca tinha escutado um lobo de verdade uivar, só nos filmes ou na TV, e o som, atravessando a vastidão, era tão triste que quase me fez chorar, tudo na minha viagem foi resumido por aquele som sofrido, lindo, lancinante, Lauren estava viva – mas era como se não existisse mais.

Meu coração ainda doía, talvez até mais, porque eu havia alimentado esperanças muito grandes para nosso reencontro. Lauren estava certo, a coisa não aconteceu conforme o planejado, eu estava arrasada por vê- la tão diferente.

E a revelação sobre a trama para me destruir tinha me abalado profundamente mas eu não acreditava que Lauren houvesse sido cúmplice, como disse, o plano era uma estratégia de Vasile, talvez tivesse havido um tempo em que Lauren, corrompida e quase esmagada sob o poder de Vasile, fosse capaz de pensar na possibilidade de um ato tão sombrio mas ela havia mudado nos Estados Unidos, como ela própria disse, vislumbrara um novo caminho.

Ela havia me dito: "Para os meus filhos, poderia ter sido diferente..." Também me lembrei de suas palavras mais cedo, naquela mesma noite. "Eu salvei sua vida ao violar o pacto."

Ao se recusar a honrar o acordo dos clãs, Lauren lutara ativamente para me salvar da trama de Vasile, arriscando-se, ela sabia que Vasile tentaria destruí-la por causa da insubordinação.

Lauren sempre me protegeria.

Apesar de todos os alertas dos meus pais sobre a crueldade dos Jauregui, apesar de todas as declarações veementes do própria Lauren, de que ela era perigosa para mim, eu sabia que a realidade era outra.

Mas como poderia fazer com que Lauren acreditasse que nunca me faria mal? Que ainda éramos uma da outra e sempre seríamos?

Não havia respostas no negrume do lado de fora da janela, por isso me levantei e fui desfazer a mala.

Pelo menos, não vou fugir para casa, como Lauren desejava.

Enquanto desdobrava as roupas, meu exemplar de Crescendo como morto-vivo, que eu havia posto dentro da mala no último minuto, caiu no chão.

Peguei-o, pensando no dia em que tinha descoberto aquele livro junto à porta do meu quarto, com o marcador de Lauren brilhando ao sol da manhã.

Na hora, odiei o presente mas Lauren estava certa, apesar do tom superficial, o livro tinha sido um bom guia durante uma época confusa, uma fonte precisa, quase como um confidente, quando não havia mais ninguém com quem eu pudesse conversar sobre mudanças que ocorriam no meu corpo, na minha vida.

Sentada na cama, abri o último capítulo, que eu havia deixado de ler propositalmente enquanto meus sentimentos por Lauren ficavam cada vez mais fortes.

Capítulo 13: "O amor entre os vampiros: mito ou realidade?"

É claro que os vampiros podem amar, Dorin acreditava que Lauren era capaz de me amar.

No entanto, meu coração se apertou quando comecei a ler o conselho ajuizado do guia.

"É melhor não abrigar ideias fantasiosas sobre o amor entre vampiros. Os vampiros são românticos, até mesmo afetuosos, ocasionalmente mas, no final das contas, somos uma raça implacável!

Tente aceitar que os relacionamentos entre vampiros são baseados no poder e na paixão – mas não no conceito humano de "amor". Começar a confiar no "amor" – como muitos vampiros jovens e tolos tendem a fazer – é se colocar em grave perigo!"

Não.

Fechei o livro com força e joguei-o de lado, sabendo que ele havia servido ao seu propósito, eu não precisava mais de conselhos.

Dessa vez o guia – ainda que respeitado, ainda que venerável – estava errado.

Eu sabia a verdade.

Lauren me amava.

Percebi, num momento de clareza, que estava disposta a arriscar a vida por essa convicção, que arriscaria a vida por isso naquela mesma noite.






PENÚLTIMO E AGORA É SÉRIO, HEIN

Como Se Livrar De Uma Vampira ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora