Como Se Livrar De Uma Vampira Apaixonada

Capítulo 49

– Mila, a gente vai se atrasar para a aula de cálculo – disse Dinah, praticamente me arrastando pelo corredor.

Fiz força no sentido contrário.

– Acho que vou matar aula.

– De novo? – Havia preocupação na voz de Dinah. – Mila, você nunca matava aula, agora quase não assiste e é matemática, Mila, sua matéria favorita!

– Não estou a fim, Dinah.

– Qual é a sua, Camila? É o Lauren? Porque vocês duas mudaram. E ela estava toda machucada... O que está acontecendo na sua casa?

– Nada, Dinah. Eu juro.

– Você está matando aula, Austin já era, Lauren parece sempre prestes a cometer um assassinato e não está acontecendo nada?

Fui em direção ao banheiro.

– Pode ir pra aula, beleza? Vou ficar por aqui até os corredores esvaziarem para eu dar o fora.

– Estou preocupada com você, Mila – disse Dinah, segurando os livros contra o peito. – Preocupada de verdade.

– Não é nada – garanti. Nada além de um coração partido, um pacto desfeito e uma guerra que se aproxima. Como eu poderia me concentrar em livros didáticos chatos, deveres de casa sem sentido e aulas maçantes quando tudo estava desmoronando? Quando vidas estavam em jogo? – Te ligo mais tarde.

Dinah ainda estava ali, com cara de assustada, quando entrei no banheiro e me tranquei numa das cabines mas o sofrimento não me deixava em paz nem no banheiro.

Enquanto estava ali, sentada, esperando o sinal tocar, Alexa entrou com sua amiga Lisa Clay.

Pela fresta entre a parede e a porta da cabine vi as duas assumindo os lugares diante do altar do espelho, prontas para a autoadoração.

– E aí? Como vão as coisas entre você e a Lauren Luxuriante? – perguntou Lisa, remexendo na bolsa e pegando um brilho labial. Passou uma camada gosmenta na boca. – E quem deixou a garota com aquele olho roxo?

– Ela não quer dizer. – Alexa deu de ombros, escovando o cabelo. – Você conhece a Lauren, é cheia de segredos mas desde que isso aconteceu ela ficou, tipo, totalmente doida.

Lisa passou um pouco de blush cremoso nas bochechas.

– Doida bom ou doida ruim?

– Doida por mim – reclamou Alexa, revirando os grandes olhos azuis. – Tipo, não me deixa sozinha, quer me dar uns amassos o tempo todo e é uma coisa intensa demais.

Lisa virou a cabeça para um lado e para o outro, verificando se havia alguma mancha nas bochechas.

– Ela esta tão cheia de tesão!

– É, mas isso é, tipo, supertesão, nunca fica satisfeita a gente vai para o apartamento dela atrás da casa dos Cabellos e ela praticamente me arrasta para a cama.

Ela está transando com a Alexa.

Meus dentes doíam tanto, tanto, que por um segundo achei que minhas presas iriam rasgar as gengivas e tive que segurar um grito, apertando a boca com a mão e dobrando-me de dor.

E a sede... eu precisava de sangue, desesperadamente... Lauren está transando com Alexa atrás da minha casa. Minha noiva está me traindo, traindo sua princesa...

– Mas eu vivo dizendo a ela – continuou Alexa, sem perceber meu tormento silencioso na cabine do canto. – Não vou perder meu futuro por sexo

Então não é sexo. Não vão até o fim. Tentei aplacar o ciúme e a fúria mas meus dentes continuavam a pulsar de dor ao pensar em Lauren no cobertor de veludo com Alexa.

Encostei a mão na parede fria de azulejos, abalada e sofrendo, e tentei me acalmar.

– É – concordou Lisa. – Não sei por que não conseguem se contentar com uma... – Ela pôs a mão em concha no ouvido de Alexa e sussurrou alguma coisa que não pude ouvir.

Mas deu para adivinhar, pelos risinhos.

– Pois é – disse Alexa, rindo. – Tipo, é quase a mesma coisa que ir até o fim, e a Lauren faz uma coisa que é praticamente melhor do que... – Ela parou, como se percebesse que tinha revelado demais.

Meu coração parou e eu deixei de sentir até mesmo minha boca latejar e meu desejo desesperado.

Que coisa? QUE COISA?

– Ei, não me mata de curiosidade! – exclamou Lisa, sacudindo o braço da amiga. – O que ela faz?

– É só... – Alexa hesitou mais um segundo, depois não conseguiu se conter mais. Virou-se para Lisa. – Uma coisa com a boca., no meu pescoço.

Meu coração não apenas parou.

Foi como se uma mão gigantesca tivesse apertado meu coração, tentando arrancá-lo.

Não, Lauren. Não faça isso. Não nos traia mais do que já fez.

E não se arrisque a mais punições violando o pacto de maneira irreparável.

Ainda não.

Preciso de tempo para consertar as coisas.

– O quê? – guinchou Lisa. – Tipo um chupão? Isso é tão ensino fundamental! Quem liga pra chupão?

– Não. – Alexa balançou a cabeça, virando-se de volta para seu reflexo. Ficou um pouco pensativa, observando os próprios olhos. – Não é um chupão. É... ai, não dá para descrever mas é incrível. Tipo, perigoso ou sei lá o quê. Como se a gente estivesse fazendo alguma coisa muito sinistra. – Enfiando a mão na bolsa, ela pegou um elástico de cabelo e prendeu a cascata loura num rabo de cavalo alto. – Tipo, eu gosto, mas sei que não deveria.

– Hum, queria que Lauren ensinasse isso ao meu namorado, Allen não faz nada de especial.

– Não sei se é uma coisa que dá para ensinar, é só uma coisa que a Lauren faz.

Lisa apontou para o pescoço da amiga, franzindo a testa.

– Bom, seja o que for, deixou uns arranhões. Quer um pouco de maquiagem para cobrir?

Alexa se virou para olhar a lateral do pescoço, perto do ouvido. Passou os dedos pela marcas vermelhas e finas, sorrindo ao se lembrar de algo.

– Ah, Lisa. Se você pudesse sentir como é...

– Você tem tanta sorte de ter uma garota europeia... – Lisa fez beicinho.

Quando elas saíram, caí de lado e bati na parede da cabine, ofegante, esperando que as dores e o apetite diminuíssem, esperando que meu lado vampiro, tão desesperado por emergir completamente, se acalmasse e se escondesse de novo.

Lauren, o que você está fazendo?