Capítulo 6

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– Sem chance de eu ser uma morta-viva – gemi.

Mas ninguém prestou atenção. Meus pais estavam concentrados demais no pé machucado de Lauren.

– Sente-se, Lauren – ordenou minha mãe, parecendo contrariada com nós dois.

– Prefiro ficar de pé – respondeu Lauren.

Mamãe apontou com firmeza para o círculo de cadeiras em volta da mesa da cozinha.

– Sente-se. Agora.

Nossa visitante ferida hesitou, mas, depois, murmurando baixinho, ocupou uma cadeira.

Mamãe arrancou a bota dela, que tinha a marca visível de um dente de forcado, enquanto meu pai estava na cozinha, procurando o kit de primeiros socorros embaixo da pia e fazendo um chá de ervas.

– Só está roxo – afirmou mamãe.

– Ah, que bom – disse papai. – Não estou mesmo encontrando os curativos, mas ainda podemos tomar o chá.

A sujeita esguia que se declarava sugadora de sangue e tinha ocupado o meu lugar à mesa da cozinha me olhou com irritação.

– A sua sorte é que meu sapateiro só usa couro da melhor qualidade, você poderia ter me espetado. E não vai querer espetar uma vampira, além do mais, isso é jeito de receber sua futura esposa ou qualquer visitante, por sinal? Usando um forcado? - Lauren disse irritada

– Lauren – interrompeu minha mãe. – Você pegou Camila desprevenida. Como expliquei antes, o pai dela e eu queríamos conversar com a menina antes.

- É, certamente vocês demoraram para cumprir a tarefa. Dezessete anos. Alguém precisava intervir. – Lauren soltou o pé que minha mãe segurava e se levantou, mancando pela cozinha calçando uma bota só, como uma rainha inquieta em seu castelo. Pegou a lata de camomila, cheirou o conteúdo e franziu a testa. – Vocês bebem isso?

– Você vai gostar – prometeu papai. E serviu quatro canecas. – É muito calmante num momento de estresse como este.

– Nada de chá. Só me digam o que está acontecendo – implorei, sentando-me para recuperar minha cadeira. Ela não estava nem um pouco quente. Nem parecia que alguém tivesse sentado ali um pouquinho antes. – Alguém. Por favor, desembucha.

– Respeitando o desejo de seus pais, repassarei essa tarefa a eles – declarou Lauren. Em seguida levou a caneca fumegante aos lábios, bebericou e estremeceu. – Santo Deus, isso é medonho.

Ignorando Lauren, mamãe trocou um olhar cheio de significado com meu pai, como se os dois tivessem um segredo.

– Alejandro, o que você acha? Aparentemente papai entendeu o que ela estava sugerindo, porque confirmou com a cabeça e disse:

– Vou pegar o pergaminho. E saiu da cozinha.

– Pergaminho? – Pergaminhos. Pactos. Noivas. Por que todo mundo está falando em código? – Como assim?

– Ah, querida. – Mamãe se sentou na cadeira junto à minha e segurou minhas mãos com carinho. – Isso é bem complicado de explicar.

– Tente – resmunguei.

– Você sempre soube que foi adotada na Romênia – começou mamãe. – E que seus pais biológicos foram mortos num conflito...

– Assassinados por camponeses – completou Lauren, com uma careta. – Pessoas supersticiosas, inclinadas a formar hordas malignas. – Ela levantou a tampa da pasta de amendoim orgânico de papai, provou um bocado e limpou os dedos nas calças, que eram pretas e justas nas pernas compridas, quase como calças de montaria. – Por favor, digam que há alguma coisa palatável nesta casa.

Como Se Livrar De Uma Vampira ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora