Os dias se passaram e eu me apegava à fétida ilusão de poder lidar com a realidade. No entanto, eu não podia me livrar de tanta dor. Deitar a cabeça no travesseiro deixara de ser algo prazeroso, tornando-se algo traumático. O sono demorava a vir, e quando vinha, o mesmo era acompanhado dos mais bárbaros e sórdidos pesadelos.I try to every night, all in vain... in vain.
O relógio marcava quinze para as 17h, anunciando que em 45 minutos, uma Dulce pra lá de eufórica, adentraria minha sala, convidando-me para o famigerado Happy Hour do nosso setor. Eu não iria para a faculdade – minhas idas estavam cada vez mais escassas -, mas novamente eu teria que negar o convite, tendo em vista que os dez reais que restavam em minha carteira, não pagariam nem mesmo uma breja.
Eu estava com um saldo de 96 horas positivas, e como eu já havia encerrado meu trabalho, resolvi queimar 45 minutos do banco. Avisei Juliana, minha chefe, e a mesma liberou minha saída. Recolhi minhas coisas e saí o mais depressa dali.
— Não foi para a aula de novo? — Meu pai perguntou, lançando-me um olhar repreensivo.
— O semestre já fechou. — Menti, sentando-me no sofá. Eu não poderia falar para ele que estava em dívida com a faculdade e com vergonha de freqüentar as aulas. — As aulas de agora são apenas para quem ficou em recuperação. — Ele assentiu, trocando o canal da TV.
— Trouxe o croissant que você gosta. Tem outras tranqueiras também, vá lá comer. — Eu não estava com fome, mas os croissants do papai eram divinamente maravilhosos.
— Deixe a cozinha arrumada. — Mamãe disse, entrando na sala. — E é bom comer mesmo... Você está muito magra.
— Estou no meu peso ideal, mamãe. — Respondi, mesmo sabendo que ela estava certa. Todo o estresse dos últimos meses fez-me perder alguns quilos. — Cadê a Tereza? — Perguntei, mudando de assunto. Falar do meu peso não era algo agradável.
— Saiu com uma amiga.
Antes de ir para o meu quarto, resolvi passar na cozinha e comer um croissant, acompanhado de um pedaço de bolo de chocolate; Meus pais estavam concentrados na TV, pensei em fazer-lhes companhia, mas o cansaço falou mais alto. Tomei banho e me preparei para deitar. Foi quando notei a jaqueta do Matheus em cima do meu criado-mudo. Provavelmente, mamãe a teria lavado. Voltei meus pensamentos para os detalhes da sexta-feira passada, arrependendo-me amargamente de não ter dado meu número àquele homem de tirar o fôlego.
— Pensei que fosse ficar em casa. — Mamãe comentou, vendo-me calçar o sapato.
— Não irei demorar.
— Juízo, Anastácia. — Aconselhou, fazendo-me sorrir brevemente.
O Vitrine ficava a apenas 40 minutos de casa. Eu corria o risco de chegar lá e não encontrar com o Matheus, mas eu precisava tentar. Avistei de longe o garçom que me atendera na semana passada. Ele estava do lado de fora, servindo algumas mesas. Corri até ele, que sorriu assim que me viu.
— Veio provar outro drink? — Perguntou simpático.
— Hoje não... — Respondi em tom amistoso, entortando os lábios. — Você viu aquele rapaz que me acompanhava na sexta passada? — Perguntei, olhando ao redor do ambiente.
— O Matheus? — Sorri, assentindo. — Ele esteve aqui mais cedo, mas já foi embora.
— Ah... — Murmurei, xingando-me mentalmente. — Você poderia me fazer um favor?
— Se estiver no meu alcance... — Ele deu de ombros, ainda sorrindo. Pedi sua caderneta emprestada, anotando meu número em uma das folhas.
— Quando ele aparecer, você pode lhe entregar esse papel? — Perguntei, vendo o seu sorriso tornar-se malicioso.
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Anastácia (em revisão)
RomanceSinopse: Anastácia Avelino de Abreu é virginiana com ascendente também em virgem e lua em leão. De personalidade forte, Ana tem sempre uma resposta na ponta da língua. Para ela, não existe meio termo. Decidida, intensa e um pouco metódica. Há quem...