Vinte e um

341 16 0
                                    

- Eu tenho um carinho enorme por ti! - Foi o que consegui dizer, e ainda com uma bosta de um sorriso tímido.
- Não estou te cobrando nada. - Ele sorriu de lado e beijou minha testa - Eu só precisava te dizer... Guardar sentimentos muitas vezes sufoca.
- Eu... - Mordi meu lábio inferior, sem prosseguir com minha fala. Nosso contato visual estava dificultando as coisas; fechei os olhos e respirei fundo - É complicado pra mim, sabe? - Perguntei com a voz de choro, o nó já estava formado em minha garganta. Senti a primeira lágrima rolar pelo meu rosto, sendo impossível de conter as outras.
- Shhh. - Ele limpou minhas lágrimas. - Você fica linda de qualquer jeito, Anastácia. Mas prefiro você sorrindo. - Nossos lábios voltaram a se encontrar, e logo nossas línguas entraram em sintonia, dançando lentamente num beijo que ao mesmo era quente. - Você só precisa relaxar! - Ele dissera entre selinhos, encerrando o beijo. Nossos olhares se encontraram novamente, deixando-me extasiada. - Vamos, vou te dar banho.

Matheus entrou comigo no banheiro, eu não sentia vergonha dele, por mais que eu não conseguisse tomar banho com outros homens, com ele era diferente, aliás, tudo com ele era diferente.

- Me deixa te fazer uma massagem. - Ele disse após me ensaboar e colocar-me contra a parede de costas com seu corpo, ainda assim deixando a água cair sobre nossos corpos. Sua ereção já formada roçava minha bunda, até ele afastar um pouco minhas pernas e encaixa-la entre elas, deixando o roçar  na região dos grandes lábios e clitóris. Ele fazia um movimento de vai e vem com a cintura, como se estivesse me penetrando, mas o que ele fazia era uma deliciosa massagem na minha boceta. E como se não bastasse, Matheus pousou as mãos em meus ombros, também os massageando. Sua boca concentrava-se em minha nuca, ora com chupadas e ora com beijinhos.
- Você é tão doce, tão perfeito… - Sussurrei com os olhos fechados. Matheus continuou com a massagem até gozarmos juntos. O que foi incrível… Matheus era capaz de proporcionar-me momentos incríveis, sempre com novas sensações; saímos do banho e fomos direto para o meu quarto, já estava tarde e eu com sono, mas eu não adiaria aquilo. - Está pronto para ouvir?
- Sim. - Ele estava sentado em minha cama. Eu lhe emprestara uma camisa do meu pai e ele usava sua cueca. Eu não queria encará-lo, não queria seus lindos olhos negros em contato com os meus, não naquele momento. Comecei a andar de um lado para o outro no quarto, enquanto ele por vez, me olhava sem entender.
- Lembra quando cheguei chorando no bar? - Ele assentiu – Então, eu estava perdida, atordoada, sem saber ao que recorrer.
- O que te afligia?
- Dívidas. - Suspirei profundamente antes de prosseguir. Matheus estava atento a cada palavra que saia da minha boca. - Na sexta feira daquela semana, eu fui até o bar devolver sua blusa, mas no caminho aconteceu algo inesperado. - Fiquei em silêncio.
- O que aconteceu, Anastácia? - Porra, ele precisava me chamar pelo nome durante aquela conversa?
- Um carro me parou, um homem, ele me ofereceu 500 reais pra que eu o chupasse. - Disparei quase atropelando as palavras. Eu estava de costas pra ele, e não ousei em me virar. Matheus ficara calado, então continuei – E eu topei.
- Hahahaha! - Ele riu nervoso – Você só pode estar brincando, pff. - Não estou. - Dei de ombros.
- Não? - Perguntou alterado – Olha pra mim então, porra! Diz isso tudo olhando na minha cara.
- Por que eu inventaria algo? - Virei-me ficando à sua frente. - Quer saber? Eu não te devo satisfações.
- Como não? - Ele se levantou.
- Olha seu estado! Eu só queria desabafar, você não tem o direito de cobrar nada de mim.
- Eu só… - Ele não prosseguiu com sua fala, apenas entortou a boca, coçou a cabeça e respirou fundo.
- Vai embora. - Pedi pacientemente. Tudo bem que eu não era o melhor exemplo de mulher, e que ele não deveria me amar. Mas daí vir a se alterar com o início da história? Imagina se eu lhe contasse o restante.
- Só foi isso?
- Não. - Ele não gostou da minha resposta, voltou a se sentar na cama e fitou o chão, batendo os pés no mesmo impacientemente. - Tu deu pra ele também?
- Vai embora, Matheus.
- Não vou.
- Então você quer ouvir?
- Sim.
- Não, eu não dei pra esse cara. Chupei como combinado e fui pra casa. Fiquei ludibriada pela ideia de ganhar dinheiro fácil, afinal havia ganhado 500 reais em poucos minutos. Na época eu devia cerca de 5 mil reais, se eu fizesse aquilo por mais algumas vezes eu quitaria minha dívida. - Ele me ouvia com a cabeça baixa, e a cada palavra que eu dizia, sua respiração acelerava, parecendo até que ele teria um treco. - Em casa, a primeira coisa que fiz foi entrar num site de bate papo, e lá eu me anunciei.
- Como assim se anunciou? - Perguntou incrédulo.
- Me ofereci como garota de programa.
- Sério isso?
- Sim. - Suspirei tomando coragem pra dizer o restante - Marquei alguns encontros e levantei o dinheiro que eu precisava.
- Então tu dava dando pra mim, pro meu amigo e pros teus clientes?
- Você fala como se eu fosse sua mulher e agora eu estivesse confessando que te traí.
- E não foi o que fez? - Ri com sua pergunta, uma risada nervosa em resposta a uma pergunta sem lógica.
- Continuando… Eu parei com os programas assim que consegui o dinheiro. De lá pra cá minha vida financeira foi melhorando, voltei a receber mais até do que eu recebia quando ganhava comissão.
- Quantos programas tu fez?
- Não lembro. - Fui sincera e ainda agradeci a mim mesma por não lembrar. Sofri o bastante após o sexo com cada infeliz pra ter que relembrar e sofrer de novo; Matheus ficara em silêncio, sem se pronunciar, até se levantar, trocando de roupa.
- Vou embora. - Ele disse com a voz embargada, ainda com a cabeça baixa. Ele estava chorando e isso fez meu mundo desmoronar. Nenhum homem havia chorado em minha frente, e muito menos chorado por mim. Que tipo de monstro eu era?
- Matheus… - Me aproximei dele, tentando puxar seu braço, mas ele desvencilhou-se de mim.
- Depois a gente conversa. - Ele fungou baixinho e limpou o rosto. - Abre o portão por favor. - Peguei minhas chaves e fui com ele até o portão. Ele foi sem se despedir, me deixando ainda pior do que eu já estava.

Acordei sem disposição alguma para ir trabalhar. Meus olhos estavam fundos, com olheiras bem marcadas, resultantes de um choro sem fim da noite passada. Liguei pra Juliana, dizendo estar indisposta, como estávamos no final do mês e não tinha muito trabalho, a mesma pediu que eu queimasse minhas horas positivas, ficando uma semana em casa.

Anastácia (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora