Vinte e dois

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- Novidades?
- Bom dia pra você também, Bruno. - Falávamos por ligação – Eu acabei de pegar meu celular, nem vi as mensagens e ligações perdidas.
- Você acordou agora? - Olhei no relógio que marcava 10:h.
- Você é mesmo um imbecil. - Revirei os olhos, impaciente – Se eu tiver notícias te ligo, Bruno. Beijinhos. - Desliguei a chamada antes que ele pudesse responder, não estava a fim de conversar, pelo menos não com ele. Verifiquei minhas notificações e lá estava ela. Sim, Beatriz havia me procurado.

“Amiga, vem aqui em casa assim que puder. Bjs”

Não quis perder tempo, lavei o rosto e troquei de roupa rapidamente, mas antes de ir até sua casa, tive uma ideia. E inspirada em filmes, fui até o shopping, atrás de um gravador.

- Mas a senhora quer gravar o que especificamente? - Era uma loja de eletrônicos, ali teria de ter o que eu precisava, mas a vendedora era uma senhora que mal me entendia.
- Bom dia! - Um moreno entrou no meio de nós duas e abraçou a senhora – Do que precisa?
- Ela quer uma filmadora! - A velha resmungou.
- Não. Quero um gravador. - Eu disse impaciente. Nada contra velhos, mas aquela senhora estava testando minha paciência.
- Vovó! - O moreno riu – Desculpe, ela estava dando uma olhada na loja pra mim.
- Tudo bem.
- Então, um gravador de vídeo? De áudio?
- Áudio! E o mais discreto possível.
- Hum, tem algo em mente?
- Oh, não… Não conheço nada sobre gravadores.
- Defina discreto.
- Quero gravar uma conversa sem que a pessoa saiba que está sendo monitorada.
- Hum, detetive, tenho algo perfeito pra você. Só um minuto! - Ele beijou a testa de sua avó e sumiu pela loja, voltando depois com um pacote nas mãos. - Aqui está. - Ele me entregou. O modelo parecia um fone de ouvido desses comuns de celular – O fone fica com você, toda vez que o aparelho detectar uma voz, você será notificada pelo fone automaticamente.
- Se isso cumprir o que você diz me poupará grandes esforços! - O moreno me explicou direitinho o modo de se usar e ainda testamos o produto, na qual fiquei maravilhada com tamanha perfeição. Simples, prático e fácil: eu distribuiria pela casa da Beatriz bolinhas que não chegavam a ter 1 cm, e toda vez que a vadia falasse com alguém, eu saberia.

(...)

- Oi amiga. - Ela disse no seu tom habitual de sempre.
- Olá, Bia.
- Que bom que veio!
- O que houve? - Nós já estávamos dentro de sua casa. Prestei atenção nos detalhes e não havia nada de diferente.
- Amiga, eu vi o Bruno e segui ele.
- Como assim seguiu ele? - De onde vinha tanta mentira?
- Segui amiga! Ele não voltou pra casa, e quando encontrei com ele na rua eu precisava saber o motivo.
- Hum. E aí? - Perguntei fingindo interesse. Ela mal olhava na minha cara, sempre procurava desviar o olhar, e seus sinais de nervosismo, como o modo que ela mexia no cabelo, ou batia os pés no chão, entregavam-na.
- Descobri que ele está metido com os agiotas, amiga. Eles tramaram pra cima de mim, só pra me arrancarem dinheiro.
- Você falou com ele? - Perguntei indo até o armário da pia, peguei um copo e deixei uma das bolinhas sobre a pia da cozinha. Bebi água e voltei a me sentar na cama com ela, onde joguei outra bolinha em baixo da cama.
- Oh, não! Estou com medo, amiga.
- Eu também ficaria no seu lugar. - Prestando atenção nela percebi sua aparência, que diferente da Beatriz da noite anterior, era uma Beatriz com sinais visíveis de cansaço. - E quando foi isso?
- Ontem a noite. - É. Ali eu já não tinha mais dúvidas de suas mentiras.
- Que barra.
- Isso não é nada, amiga! Ontem ainda fui assaltada, tinha acabado de tirar dinheiro do banco e me rendaram. Levaram tudo, tudo. - Então ela notou que a maleta sumiu? Por um instante pensei que ela fosse chorar, mas na escola de teatro que a vadia frequentou não a ensinaram chorar sem cortar cebola.
- Você tá macumbada! - Dito isso ela bateu três vezes na madeira da cama.
- Credo, Anastácia. Você sabe que não gosto dessas coisas. - Quase mandei-a tomar no meio do cu com tamanha hipocrisia. A pessoa mente, rouba, e vem pagar de santa com suas crenças?
- Desculpa. - Me levantei e fui até o banheiro, deixei outra bolinha no mesmo e quando saí, deixei a última bolinha em cima de sua cômoda. - E agora, como tu vai fazer sem dinheiro e com um filho pra criar? - Isso é se tivesse mesmo um filho, o que eu duvidava muito.
- Não sei.
- Amiga, tenho que ir.
- Verdade, você não está trabalhando?
- Oh, sim! É que hoje vou entrar à tarde. - Menti. Ela não precisava saber minha disponibilidade.
- Tudo bem, amiga. - Nos despedimos com um beijo no rosto e eu quase vomitei em sua cara, depois fui pra casa, ansiosa pelas gravações.

Anastácia (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora