Capítulo 9 ― Eu vi gnomos

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Acordei às 10h com o barulho do rádio, indicando que minha mãe limpava a casa. Fiquei rolando na cama antes de enfim decidir me levantar. Eu não estava com sono, mas devido a correria da semana, meu corpo estava fatigado.
Após tomar um banho longo e gelado, fui até a cozinha comer alguma coisa. Em cima da mesa havia uma cesta com alguns salgados que meu pai trouxera da lanchonete. Comi quase todos, admirando-me comigo mesma, pois era a primeira vez em dias que eu realmente estava com fome.

― Dormiu comigo? ― Mamãe perguntou entrando na cozinha.

― Bom dia, dona Florinda. ― Debochei, soltando uma risadinha, referindo-me ao seu estado.

― Seu pai disse que hoje me levaria para jantar. ― Respondeu dando de ombros. ― Não sou acostumada com aquele treco que você e sua irmã usam para enrolar o cabelo... Prefiro meus bobs.

― Certo... ― Assenti, achando graça. ― Quer ajuda?

― Só limpe seu quarto. ― Disse, voltando a limpar a sala; lavei a louça que sujei e mais algumas que estavam sobre a pia. Quando eu estava a caminho do meu quarto, meu celular começou a tocar.

― Alô? ― Atendi a chamada sem ver quem me ligava.

― Oi amiga! ― Bia disse efusiva, fazendo-me fazer uma careta. Eu havia esquecido completamente do nosso compromisso. ― Tudo bem? O bruno já pode ir te buscar?   

― Tô bem, meu bem. E você? Então... Estou terminando de limpar meu quarto. Pede pra ele vir daqui uma hora, pode ser?   

― Claro, amiga. Beijo! ― Disse, desligando a chamada.

Como uma verdadeira virginiana, minhas coisas eram devidamente organizadas. A única bagunça que havia em meu quarto, eram algumas peças de roupa, que mamãe havia passado e deixado em cima da minha penteadeira. Levei 40 minutos para guardar as roupas, trocar a cortina e os lençóis da cama, limpar os móveis, varrer e passar pano no chão. Quando terminei tudo, fui obrigada a tomar outro banho.

― Você não para em casa? ― Mamãe perguntou indignada.

― É sábado, né. ― Respondi, beijando-lhe a testa.

― Hm... Juízo, Anastácia. ― Assenti, sorrindo sorrateiramente. ― Vai com Deus! ― Ela gritou quando me ouviu abrir o portão; mandei uma mensagem para a Bia, dizendo-lhe que iria esperar o Bruno na pracinha perto de casa, pois não queria correr o risco de ninguém de casa vê-lo.

― Oi! ― Olhei para cima, deparando-me com Bruno. Fazia cinco minutos que eu estava sentada esperando por ele.

― E aí! ― Sorri, cumprimentando-o com um beijo no rosto; O caminho até sua casa fora silencioso. Bruno caminhava atrás de mim, deixando nítido seu olhar sobre minha bunda. Assim como a Bia, Bruno também era muito safado. Ele dava em cima de mim na cara de pau, e a Bia não percebia.  

― Que bom que veio, amiga. ― Bia disse me abraçando. Retribuí o mesmo, sorrindo de lado; o cheiro de maconha invadiu minhas narinas assim que adentramos sua casa. 

― Tem muita coisa para fazer? ― Perguntei entortando os lábios.

― Não muita... ― Suspirou. ― É mais organização, sabe? Meu pai trouxe os móveis com o Bruno ontem à noite. Tá tudo empoeirado, mas qualquer coisa eu chamo uma diarista na segunda. Meu foco mesmo é colocar as coisas no lugar.

Como a Bia havia falado, a casa ficava em um quintal com outras três residências. Bruno, esperto que era, encarregou-se de limpar a lavanderia e o banheiro. Eu e Bia começamos pelo quarto, depois sala e por fim a cozinha. Terminamos por volta das 20h. Como não havíamos parado nem para comer, conseguimos organizar e limpar tudo.

― Busco pizza ou esfiha? ― Bruno perguntou a Bia.

― Pizza, né, amiga? ― Assenti. ― Pode trazer duas porque estamos todos famintos.

― Tem leite condensado aí? E Nescau? ― Perguntei.

― Tem sim. ― Bruno respondeu, abrindo o armário.

― E ainda tem maconha ou vocês já usaram toda? ― Debochei. 

― Porra, amiga! ― Beatriz riu. ― A gente só deu uns tragos. O Bruno conseguiu uma paranga das grandes. Tem para dar e vender.  

― Tá dichavada?

― Eu dichavo. ― Bruno respondeu, dando de ombros. ― Vai fumar?

― Vou fazer brigadeiro de maconha.

A quantidade que eles tinham de erva era grande de fato. Como estávamos em três, optei por fazer duas receitas. Derreti duas colheres rasas de manteiga e em seguida, juntei a maconha já dichavada. Duas latas de leite condensado e 6 colheres de Nescau. Alguns minutos mexendo no fogo e estava pronto. Esperamos esfriar para começar a comer.

― Boto fé nisso não, hein. ― Bruno comentou.

― Por que? ― Perguntei.

― E o THC? Deve ter ido embora quando você fritou essa porra.

― Ah... Cala a boca!

Sentamos no chão e nos pusemos a conversar enquanto comíamos o doce. Eu já havia provado uma vez, mas foi em uma festa de um conhecido e só dei duas colheradas, logo, eu não tive muita brisa. Mas naquele dia, com a Bia e o Bruno, foi colherada atrás de colherada.

― Tá vendo? Comemos essa porra toda e eu estou normalzão. ― Bruno disse exasperado.

― Ele tem razão, amiga! ― Bia interveio. ― Também não estou sentindo nada.  

― É, tio... Agora você está me devendo três parangas, Anastácia. Essa era de qualidade.

― Mano, calem a boca! ― Falei irritada, espalmando minhas mãos para frente. ― A brisa só vem daqui uns 50 minutos, relaxem. ― Bruno lançou-me o dedo médio e se levantou, pegando sua carteira.

― Estou indo buscar as pizzas.  

Bruno retornou com as pizzas cerca de meia hora depois. Sentamos no chão da sala para comer e resenhar. Foi dito e feito. 50 minutos após termos comido o doce, eu passei a ver o rosto do Matheus na Bia, no Bruno, no sofá. Pior que isso, eu o via sorrindo com aquela porra de sorriso que tanto me encanta. De repente, o sofá começou a se mover. Era Matheus chamando-me para dançar. Engatinhei até o mesmo, agarrando-me a ele. A Bia e o Bruno, ou melhor dizendo, os Matheus, olhavam-me entre risos. Foi como Alice no país das maravilhas. Meu corpo diminuiu e eu estava deitada sobre um monte de folhas, que do nada viraram neve e eu ouvia o bombeiro civil do meu trabalho cantar "você quer brincar na neve?". Minha boca seca clamava por água, o que me fez ir ao banheiro, ligar o chuveiro e me jogar em baixo d'água de roupa e tudo. E novamente Matheus estava ali, mas estava acompanhado do bombeiro. Os dois sorriam como se caçoassem de mim; tive a sensação de estar me afogando e daí não lembro de mais nada.

― Anastácia? Acorda, caralho! ― Ouvi gritar uma voz de longe. Minha cabeça doía e aquela voz irritante só fazia ela doer ainda mais. Apertei os olhos e os abri, dando de cara com a Bia. ― Você me assustou, louca. ― Disse, parecendo aliviada. ― Seu celular tocou a noite toda.

― Noite toda? ― Indaguei confusa.

― Sim, Ana. Já são 6h. ― Bruno disse. ― Maluco... Que brisa foi essa? De longe foi a melhor que já tive. Melhor até do que narguilé... Na boa, precisamos fazer isso outras vezes. ― Ele continuou falando, mas eu deixei de prestar atenção. Corri para o banheiro e só então notei que eu estava só de lingerie. 

― Cadê minhas roupas?

― Amiga... Você é muito louca! ― Bia respondeu, dando risada. ― Você entrou em baixo do chuveiro de roupa e tudo. Eu as acabei de estender no varal... Estão todas molhadas.

― Droga... ― Murmurei, batendo a cabeça contra a parede, prevendo os sermões que eu ouviria dos meus pais; meu estomago roncava, evidenciando a fome que eu estava. Lavei o rosto e saí do banheiro. A Bia me emprestou uma muda de roupas, e após comer as pizzas que sobraram da noite anterior, eu fui pra casa.

(...)  

Anastácia (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora