Quinze

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Ouvia-se o barulho da festa na rua, com tantos tunts tunts o negócio estava bom. Vinicius acionou a campainha e logo apareceu uma mulher que aparentava ter seus 30 anos, com o cabelo vermelho-cereja, ela estava fantasiada de enfermeira e aparentava fazer a linha piriguete.

- Estávamos te esperando, bonitinho. - Sua voz me irritou profundamente, o que me fez agradecer novamente por estar de máscara, assim eu não teria que forçar simpatia.
- Leona! - Vinicius disse e a cumprimentou com um beijo no rosto.
- Quem é a morte aí? Haha.
- Minha amiga! Ana, Leona. Leona, Ana.
- Olá! - Falei sem muito ânimo.
- Não vai tirar essa máscara? - Ela me encarava com as sobrancelhas arqueadas como se estivesse tentando descobrir quem eu era.
- O tema da festa é fantasia, Leona. Não enche! - Vinicius disse e me puxou pra dentro da casa. Meu corpo gelou assim que lembrei da última vez em que eu estivera ali.
- E aí, jovem! - Aquela voz, aquela maldita voz. Um timbre capaz de fazer cada pelinho do meu corpo se eriçar lentamente; virei meu corpo olhando para trás. Perfeição era a palavra certa para defini-lo. Matheus vestia-se de policial, um policial capaz de fazer qualquer menininha cometer o maior dos crimes só pra ter o prazer de ser algemada por ele.
- E aí, parça! - Eles se cumprimentaram com um toque de mão – Quanta gente, hein.
- Isso é só o começo! Hahaha. E quem te acompanha? - Disse com o olhar fixo em mim. Padeci no inferno. O que eu falaria? Oi Matheus?
- Amor! – Leona se aproximou envolvendo os braços na cintura do Matheus. Vadia. Mas pera aí, ela o chamou de amor? - O Vini não quer nos deixar ver quem é hahaha.
- E quem é? Haha.
- É a Ana, a amiga de quem te falei. - Hm, ele falava de mim? Pro melhor amigo? E por que o projeto tinhoso não tirava os braços daquela cintura que me pertencia?
- E qual é da fantasia, Ana? - Matheus me perguntou. Filho da puta. - Morte? Haha.
- Ideia do Vinicius. - Disse ríspida dando de ombros.
- Hm, entendi! Vinicius é superprotetor – Riu; E você é um safado, otário!
- Assim como sou com você, amor. - A voz da Leona, a insuportável voz da Leona (diga-se de passagem) fez minha cabeça latejar. Então eles tinham mesmo algo?
- Casei com a melhor mulher do mundo! - Casei? Casados? Oi? Aquilo já era demais pra mim. Meu estômago embrulhou e me segurei ao máximo para não vomitar na cara deles dois. Pra piorar a cena, Matheus puxou Leona para um beijo, fazendo a vadia suspirar entre o mesmo.
- Vini, quero beber algo, por favor. - Pedi à ele que segurou minha mão e me puxou para a cozinha, nos livrando da tal cena repugnante.
- Puts! - Ele coçou a cabeça me olhando preocupado.
- O que foi? - Perguntei sem entender.
- Essa fantasia tem dois erros… O primeiro e mais cruel é que não poderei te beijar. E o segundo… Como você vai beber e comer? - Gênio! Só agora notara isso?! Me livrei da máscara sem me importar com a cara lavada. Peguei a bebida que ele segurava e, sem nem saber o que era, virei de uma só vez, sentindo minha garganta arder.

Não havia motivos a quais justificassem meu estado. E daí que ele é casado? Foda-se ele. Foda-se que ele mentiu. Foda-se que ele me comeu bem pra caralho e foda-se também eu gostar dele. Nós não havíamos nada e há dias não nos víamos. Vinicius? Estava ali, ao meu lado, e até o momento sem mentiras.

- Caralho, Ana, tá louca? - Vinicius perguntou irritado, pegando o copo da minha mão.
- Relaxa!
- Toma. - Ele estendeu a mão me entregando um potinho com petiscos – Come isso, se não é capaz de tu passar mal. - Não quis revidar, comi os petiscos sem encará-lo. A cena que eu vira na sala não saia da minha cabeça.
- Doidinha! - Dei-lhe a língua.
- Quem mostra a língua quer beijo! - Fui impedida de respondê-lo, quando ouvi Matheus falar atrás de mim.
- Ora, ora. Ela tirou a máscara. - Virei lentamente meu corpo, esboçando meu melhor sorriso, ficando cara a cara com ele.
- Bu! - Mantive o sorriso, encarando-o. Ele ficou branco, nitidamente assustado, mas se recuperou em segundos, sorrindo cinicamente pra mim.
- Parabéns, parça. A guria é linda. - Piscou e em seguida deu de costas. Idiota.

A casa estava lotada, a música era agradável, e tinha bebida de sobra. Aparentemente, eu não tinha do que reclamar. Vinicius me apresentou a um grupo de amigos, os quais o convenceu de me deixar sem a máscara. Uma menina até brincou ao falar que eu era a morte por estar sem maquiagem.

- Tu sabe dançar? - A mesma menina perguntou. Eu saberia seu nome se não fosse a grande quantidade de álcool que eu havia ingerido.
- Sei! - Respondi mais animada que o normal.
- Ô DJ! - Ela gritou, fazendo o DJ voltar sua atenção para nós – ÔOOOOH, DJ! BOTA UM FUNK AÍ QUE VAMOS CAIR PRA DENTRO DO BAILE, PORRA! - A menina gritou e o tal DJ obedeceu. Ele começou a fazer mixagens de funk, tendo a aprovação da galera. - Eu quero é ver como a morte rebola! Hahaha.

Meu nome? Anastácia. E quem era eu ali? Não sei te responder. O que sei é dancei, e não dancei pouco. A menina me acompanhou e juntas fomos até o chão, rebolando com direito a dedinho na boca. Vinicius dançava conosco. E Matheus? Assistia tudo com olhar de reprovação.

- Vini, vou ao banheiro. - Disse em seu ouvido – Estou apertada.
- Eu te levo.
- Não, fica aí. Eu sei onde é. - Sorri e ele concordou; não me recordava de ter banheiro no andar de baixo, então subi as escadas em direção ao maldito banheiro a qual eu conhecia. Entrei no mesmo, sendo impedida de fechar a porta – Mas que droga!
- Vagabunda! - Matheus entrou no banheiro nos trancando em seguida.
- VAI SE FODER! - Gritei partindo pra cima dele. A cada soco, eu colocava minha raiva pra fora, e a raiva era tanta que ele tentava me imobilizar e não conseguia.
- PARA COM ESSA PORRA, VADIA! - Ele gritou assim que conseguiu segurar meus braços.
- VADIA É A PUTA QUE TE PARIU!
- PUTA AQUI SÓ VOCÊ! - Me soltou – Tá dando pra ele né, porra? Por isso que tu sumiu?
- Acho que a única que lhe deve satisfações aqui é a Leona, a ruivinha vulgo sua esposa! - Cuspi as palavras, liberando todo meu ódio.
- Responde. - Ele fechou os olhos. Respirando fundo, tentando se controlar.
- Você quer saber o obvio? - Ri nervosa.
- Quero ouvir você dizer. - Abriu os olhos encarando meu olhar. Filho da puta. Ele sabia que aquele maldito olhar tinha poder sobre mim.
- Hm, estou sim. Dando loucamente. No trabalho, no carro, na cama. Inclusive demos uma rapidinha antes de virmos pra cá e puta que pariu, viu Matheus… Teu amigo fode bem pra caralho! - Senti minha bochecha arder após o forte tapa que ele me dera. Matheus me colocara contra a parede, segurando meu pescoço. Me fiz sua refém, não movendo um músculo. Eu não me passaria por fraca, não ali.
- Ele te fode bem pra caralho, é puta? - Ele pressionou os dedos ainda mais contra meu pescoço – Será que fode mesmo? Será que ele fode como eu?
- Não, Matheus! Ele fode muito melhor! - Ele soltou meu pescoço, ainda me mantendo contra a parede. Seu olhar mantinha-se sobre o meu e não ousei em desviá-los. Matheus segurou minha fantasia, e com toda sua força, rasgou-a no meio – QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO? - Ele não respondeu, apenas me virou de costas, dando-me um novo tapa, só que na bunda. - ME SOLTA! – Por mais que eu tentasse eu não ia conseguir sair dali. Matheus era forte e estava usando e abusando da sua força.
- Foi por causa dele que tu sumiu? - Sussurrou em meu ouvido. E não me pergunte como ou por quê, mas isso me arrepiou.
- Eu não te devo satisfações! - Disse pausadamente. No mesmo instante ele me virou, deixando nossas respirações próximas. Nossos olhos voltaram a se encontrar e com isso estremeci. - Você é casado… - Falei quase que num sussurro, fechando os olhos.
- Shhhhh… - Ele tocou meu lábio com o dedo e em seguida me beijou. Correspondi o beijo sem forças para me livrar dele. Um beijo lento e denso ao mesmo tempo. Um beijo carregado de saudades, talvez de ambas as partes. - Você gosta dele? - Abri os olhos, o encarando. Ele retribuía meu olhar, e isso dificultava qualquer tentativa de resposta.
- Gosto.
- Ótimo. - Ele me soltou e em seguida deixou o banheiro. Caí no chão, desabando em um choro profundo. Eu soluçava, puxava o cabelo, me estapeava, gritava… Não conseguia entender aquilo. Não conseguia encontrar motivo pro buraco formado em meu peito. Algo que me fodia lentamente, causando uma dor jamais sentida antes.

Anastácia (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora