Dezessete

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- Menina, às vezes eu fico pensando aqui…
- Pensando em quê? - Estávamos em minha sala, Jiviane me trouxera uns papéis para revisar.
- Que eu ainda vou passar mal só pra ter o gosto de ser carregada por esse homem. - Olhei na direção da porta, avistando Vinicius, sorrindo instantaneamente. Ao que me parecia, ele ajudava o pessoal da manutenção. - É o sonho de qualquer boceta aqui! Hahaha.
- Se é! - Concordei; minutos depois, quando eu já havia revisado os papéis, Vinicius passara pela porta, ficando bem próximo à sala. O olhar de Jiviane me incomodava. Não vou negar que estava com ciúmes.
- Chama o bombeiro! - Foi a gota d'água. Ele estava olhando pra minha sala e ao ouvir o comentário, ou melhor dizendo, a súplica de Jiviane, Vinicius ficou de '‘risinho’'.
- Está tudo certo! - Entreguei-lhe os papéis – Pode entregar no rh.

Como toda segunda-feira, o trabalho estava acumulado, e para piorar, Juliana não foi trabalhar. Passei o dia trancada em minha sala, resolvendo problemas e mais problemas. E como se não bastasse isso tudo, a cena patética que presenciei mais cedo não saia dos meus pensamentos.
Ele tinha mesmo que sorrir pra ela?

- Anastácia, você quer falar comigo?
- Estou atrasada, Vinicius. - Caminhava em passos largos, tentando chegar o mais rápido possível no ponto de ônibus. De fato eu estava atrasada, mas também não queria falar com ele. Ele que fosse com a Jiviane. Panaca.
- Você sabe muito bem que posso te levar à faculdade. - Ele me puxou pelo braço, fazendo nossos corpos se chocarem. - O que foi, hein?
- Nada. Me solta! - Disse ríspida.
- Vocês mulheres são loucas. - Ri com deboche.
- E vocês homens uns safados! - Puxei meu braço voltando a andar, mas foi em vão, porque Vinicius me puxou de volta.
- Eu não fiz nada pra tu me tratar assim.
- Jiviane amou seu sorriso! - Revirei os olhos.
- Quem? - Fez cara de dúvida – Ah nossa, Ana. Sério isso? - É, nem eu acreditava nesse ciúme. Fiquei calada e ele começou a sorrir feito bobo. Maldito. - Tô gostando disso, hein. - Vinicius passou os braços em minha cintura, colando nossos corpos, com a boca próxima a minha.
- Ainda estamos na empresa. - Virei o rosto.
- Foi aqui que tudo começou. - Sussurrou em meu ouvido.
- E começou com quantas? - Perguntei de olhos fechados, tentando manter o controle, o que era impossível com seu hálito, sua respiração e seu calor tão próximos…
- Você é a primeira e única, Aninha. - Mordiscou a ponta da minha orelha, passando a língua na região. Definitivamente não dava pra manter o controle.
- Estamos na empresa, Vinicius. - Supliquei.
- Do portão pra fora posso fazer o que eu quiser? - Sussurrou.
- Eu tenho prova, caralho.
- Tudo bem. - Me soltou – Mas eu te deixo nesse inferno de faculdade. - Revirou os olhos demonstrando irritação. Vinicius raramente perdia a linha, e quando acontecia, era engraçado.
- Me busca na faculdade.
- Sério? - Já estávamos no estacionamento, próximos ao seu carro. Assenti e no segundo seguinte ele me colocou contra o veículo, deixando meus braços apoiados no teto do mesmo. Sua virilha pressionava contra minha bunda, ao mesmo que eu sentia sua respiração no meu pescoço. - Quero você, Ana.
- Para de dificultar. - Minha voz saiu quase que num gemido.
- Que aula é a prova?
- A primeira, Vinicius. Vamos logo! - Ele apertou minha bunda, dando um tapinha em seguida.
- Vamos, mas vou te esperar do lado de fora. Tu termina a prova e vem comigo.

Ele ultrapassou todos os faróis e em menos de 10 minutos estávamos no campus, mesmo assim, com toda a enrolação anterior, cheguei em cima da hora.

- Se eu não conseguir entrar te mato.
- Boa prova, Ana. Até daqui 45 minutos.
- Filho da puta! - Desci do carro voando para a sala de aula.

Com os nervos à flor da pele, não consegui me concentrar nas questões. Eu lia, lia e no fim não lia nada. Olhava ao meu redor e todos estavam concentrados em sua provas. Eu poderia estar concentrada também, se não fosse os últimos acontecimentos. E não digo o de minutos atrás. Digo a situação toda. Quando Bia me confessou estar apaixonada por dois caras ao mesmo tempo, eu ri. Disse ser impossível, que era tudo fogo dela… E ali estava eu, pagando com a língua.
De um lado Matheus, um homem casado, perfeito, mas casado. Do outro Vinicius, perfeito e não casado. Qualquer uma em seu juízo perfeito escolheria Vinicius. E o pior de tudo é que os dois eram melhores amigos.
Se existe mesmo o inferno, meu lugar já estava reservado bem ao lado do capeta.

- 5 minutos. - A professora alertou; Faltava 5 minutos pra aula acabar e nem meu nome eu havia colocado na prova. Minha sorte é que a mesma era de múltipla escolha. Cruzei os dedos e saí chutando tudo, já estava tudo fodido mesmo.

- E aí, como foi?
- Você sabe que me futuro depende disso, né?!
- Sim, meu bem. - Ele sorriu.
- Se eu for mal, o que é bem provável, você irá me sustentar. - Ele riu dando a partida no carro.
- Amor, acho que seu problema é fome. - Antes fosse.

Anastácia (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora